A sabedoria de Lílian



Autor Daniel Ferreira Gambera
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 1/15/2006 1:36:25 PM
Quando eu tinha por volta de dezesseis anos, ao me encaminhar para o ponto de ônibus, conversava com uma amiga da escola. Seu nome é Lílian. Não sei exatamente como chegamos a esse assunto, mas, me lembro exatamente de duas coisas que ela me falou.
Primeira: a de que ela analisava tudo através de seus sentimentos. Se uma coisa lhe causasse um sentimento ruim, ela se distanciava dessa coisa. Por exemplo: se uma idéia lhe causasse um sentimento ruim, ela não a aceitaria. Por outro lado, se o sentimento despertado fosse bom, ela incorporaria à sua vida.
Segunda: a de que todas as pessoas possuíam valor.
Provavelmente, ela falou essas coisas como um toque para mim, para que eu pudesse enxergar a negatividade que cultivava, para que eu começasse a ser mais seletivo nas minhas crenças e que me desse mais valor. Porém, na hora, eu só conseguia pensar como era extravagante a forma dela lidar com tais assuntos. Como? Confiar nos sentimentos? Aceitar que nascemos já com valor e que não precisamos prová-lo?
Eu havia sido ensinado que o mundo era ardiloso e mal-intencionado, pronto a triturar qualquer pessoa ingênua que não o estudasse meticulosamente e não se preparasse para as suas injustas armadilhas. Eu havia sido ensinado que nascíamos sem virtude ou valor algum e que deveríamos, com muito empenho, realizar a tarefa heróica e quase impossível de, um dia, nos tornarmos alguém.
Após aquele ano letivo nunca mais nos vimos. Anos se passaram e, quando, finalmente compreendi a verdade dessas duas afirmações, aconteceu aquele fenômeno de que falei no texto “Anos em minutos”. A conversa que tivemos veio à tona à minha mente e, num instante, compreendi que aquela conversa havia sido um ponto decisivo em minha vida.
Se, naquele momento, eu houvesse sido capaz de compreender o que ela falava, os anos imediatamente seguintes de minha vida teriam sido diferentes. Várias das oportunidades que joguei fora poderiam ter sido acolhidas e bem vividas. Várias das situações ruins em que me envolvi, poderiam ter sido evitadas.
Então, também, quase instantaneamente, pude recapitular oportunidade a oportunidade perdida; como e porque foi perdida e como isso se relacionava com minhas crenças negativas. Pude recapitular cada má decisão e suas más conseqüências e, também, como elas se deviam à minha negatividade.
Não é algo muito agradável de se recapitular, ainda mais quando eu ainda possuía forte o impulso de me culpar por meus erros. Mas, tive que admitir, para mim mesmo, que eu era absolutamente incapaz de compreender, quando ela falou, devido ao excesso de negatividade que eu abrigava em mim. Portanto, não havia sido exatamente uma má escolha não dar ouvidos a Lílian. Foi inevitável. Assim, pude me deixar um pouco em paz e prosseguir com minha vida.
Nos anos seguintes, treinei viver de forma mais positiva, confiar um pouco mais em meus sentimentos, deixar que meu valor intrínseco se manifeste ao invés de tentar fazer-me. Oportunidades incríveis, às vezes até comoventes, me apareceram e eu pude aproveitá-las.
Era como se nelas estivesse escrito “Para Daniel” e eu fosse capaz de entender claramente essa escrita e de agir no momento preciso, com a correta intenção. Em outras falsas oportunidades, eu pude ver que estava escrito “Não para Daniel” e, assim, pude deixá-las de lado, sem maiores dificuldades.
O que houve de diferente, nesses momentos, foi que eu passei a dar um peso maior para os meus sentimentos, me iludindo menos com as aparências das coisas, com as incertezas, com as idéias dos outros e confiando mais no que minha intuição estivesse me dizendo.
Hoje, considero, sem sombra de dúvidas, que aprender a viver de acordo com a própria intuição é uma das habilidades mais necessárias para a própria felicidade. Coisa que Lílian já sabia e tentou, de forma respeitosa, amorosa e habilidosa, me ensinar.
Obrigado, Lílian!
Texto revisado por Cris
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