A voz que falava o amor
Autor Merit Rabanés
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 12/5/2004 2:52:55 AM
Carla era uma jovem de 20 anos quando, apaixonada, casou-se com Oscar, um jovem vendedor de 22 anos.
Viviam uma rotina harmoniosa, até que aos 30 anos ele foi atropelado por um homem alcoolizado e arrastado por 30 metros, fraturando a perna esquerda. Internado, não viu seu quarto filho nascer, mas ficou tão feliz e emocionado como quando do nascimento dos outros três.
Carla era católica e Oscar espiritualista. Acreditava que já havia vivido outras vidas com Carla e ela achava que ele era romântico demais, pois na sua opinião, reencarnação era ficção. Durante o período de internação hospitalar, ele já estava convencido de que estava resgatando algum karma e Carla achava que ele se comportava de forma ridícula, querendo convencer médicos, enfermeiros e auxiliares da necessidade da expiação e das provas.
O fêmur recebeu um pino e na região da fratura criou-se uma grande ferida que a Medicina e benzimentos não puderam curar por incríveis 21 anos.
Submeteu-se a 19 cirurgias plásticas, para reconstrução da coxa e de uma artéria que se rompeu.
A família sofreu com a queda de status. Os filhos precisaram sair da escola particular para cursar a pública. Carla - que não tinha terminado os estudos, acomodada com seu então bom casamento - precisou trabalhar e só restou-lhe fazer faxina em casa de pessoas da alta sociedade de São Caetano do Sul - SP, local de sua residência na ocasião.
Vendedor que era, e sem assistência do antigo INPS (hoje INSS), Oscar amargou o desemprego e junto da família, a fome, uma série de despejos e humilhações, até que sua cunhada comprou uma casa e lá os abrigou.
Passando por uma série de instituições religiosas em busca de cura e conforto espiritual, Oscar viu-se "em casa" num centro de Umbanda.
Em contato com os pretos velhos sentia estar em meio aos familiares (que nunca teve; era órfão e não sabia do paradeiro de algum parente de seus pais, e nem os tinha conhecido).
Carla achava um absurdo essa estória de explicar o sofrimento com a idéia de trazer de outra vida aquilo que justificasse a dor desta. Era católica, mas só entrou na Igreja para se casar. Mal conhecia o Catolicismo e não queria aprofundar seus conhecimentos. Cansada de ter que sustentar os filhos e o marido, dele se separou, fazendo-o sair de casa, ocasião em que, amparado pelos amigos Umbandistas foi morar em Campinas - SP.
Carla sempre julgou que Oscar era o culpado pelo atropelamento, já que não estava vindo diretamente do trabalho para casa: estava a caminho de um bar, onde todas as tardes proseava com os amigos, coisa que ela detestava. Por isso não titubeou ao pedir a separação. Apesar disso, nunca mais teve um envolvimento afetivo, vivia ralhando que "besteira feita uma única vez" já estava bom demais.
Oscar amancebou-se, mas desencarnou alguns meses depois, vítima de enfarte do miocárdio.
O tempo passou e Carla agora era avó de cinco netos. Sua neta querida, Nininha, aos 14 anos engravidou e pediu a sua ajuda, para abortar antes que sua mãe soubesse, pois segundo ela seria morta se contasse a verdade.
Carla, desde o primeiro dia de vida de Nininha, fazia tudo para agradar-lhe. Conseguia repreender um neto quando este falava um palavrão e silenciar quando Nininha gritava a mesma coisa. Era um amor que relevava tudo. Por isso Nininha estava crente que sua avó a ajudaria. E Carla estava decidida a tal. Foi quando, com a mão em cima do ventre da neta, ouviu uma voz de bebezinho falar com ela.
Na realidade, achava que ela mesma estava inventando a voz em sua própria mente, mas sentiu muito claramente uma voz meiga pedir que o mantivesse ali, em gestação, que ele queria muito nascer de novo. Não comentou nada com a neta e achou que já estava caducando. Não estava.
No dia seguinte, e longe de Nininha, Carla ouviu nitidamente a mesma voz, cheia de ternura, dessa vez implorando por sua ajuda: "Nininha só aceitará o seu conselho. Deixe-me viver. Eu as amo. Sempre as amei".
Essas manifestações continuaram até o dia marcado para o aborto. Nininha chorava angustiada, com medo de morrer e ambas aflitas, naquela clínica médica tão branca, tão limpa, tão... tão terrível... Como pode alguém que estudou tanto se prestar a isso? Começou a se perguntar... O tempo passava, a aflição e a ansiedade aumentavam e Nininha desmaiou. Disseram que era a emoção e remarcaram a "operação".
À noite, preparando-se para dormir, Carla lia quando, mais uma vez, aquela terna voz lhe agradeceu por mais um dia de vida. De repente, Carla começou a "encarar seus fantasmas" e falou:
- "Se isso é uma armação, pode acabar com a brincadeira agora, porque estou farta de ouvir seus pedidos sem nexo"!
- "Não sou armação, preciso de mais uma oportunidade. Desde que nos separamos, tenho pedido muito a Jesus mais uma oportunidade de união, mais uma oportunidade de viver perto de vocês. Temos muito a aprender juntos".
- "Mas que loucura é essa? Que separação que nada! Eu estou enlouquecendo..."
- "Não querida Carla. Sou Oscar. Fui seu marido e agora serei seu neto. Mas só você pode me ajudar".
Crente que estava "perdendo o juízo", escondeu-se embaixo das cobertas e ficou falando sozinha, na tentativa de abafar o som daquela voz, que tinha tomado o timbre e a característica do falecido marido. E assim foi feito. E dormiu.
Quando acordou, viu-se na Espanha. Era um homem, um clérigo e estava simplesmente... mandando torturar Oscar, que havia ultrajado a sua santidade. Um capataz queimava-lhe a perna esquerda...
Acordou novamente, e desta vez era ela mesma, Carla, molhada de suor, aterrorizada pelo sonho. Não podia se imaginar em outra vida como homem, muito menos mandando torturar. Tomou um chá de erva cidreira para tentar dormir, pensando no pesadelo e recordando as coisas que Oscar lhe contava sobre karma, Reencarnação, vidas passadas, leis espirituais.
No meio da noite teve coragem de telefonar para sua tia, uma alegre senhora de 92 anos, versada no Espiritismo, uma biblioteca ambulante, um centro de filantropia vivo. Tia Laura atendeu o telefone e lhe disse para não se preocupar, que o Oscar chegara na frente contando o ocorrido e toda a situação.
Ainda desnorteada com tudo aquilo que ela mesma vivenciou (ela ouviu, ela viu; como São Tomé ela não tinha dúvidas; ninguém havia lhe contado, a experiência era dela) acabou adormecendo.
Aos 62 anos de idade, Carla freqüenta a Igreja Católica.
Tia Laura, já na outra dimensão, visita de vez em quando a família aqui encarnada.
Nininha estuda e trabalha. Seu filho Antunes é um belo e inteligente garoto: sociável, alegre, cheio de otimismo e entusiasmo. Tem uma marca de nascença na coxa da perna esquerda, que todos estranham, pois parece marca de queimadura.
Carla não estranha nada. Continua ouvindo a voz que falava o amor. Agora a voz a chama de vovó.
Merit Rabanés é Taróloga em Mauá-SP e trabalha com encaminhamento espiritual (um atividade gratuita em favor de todos).
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