ADIVINHA QUEM ESTÁ BATENDO? (Cartas para meu amigo)
Atualizado dia 7/27/2007 3:41:02 PM em Autoconhecimentopor Claudette Grazziotin
Agora há pouco, enquanto eu escrevia aqui no meu cantinho silencioso, no apartamento defronte ao meu alguém chegava abrindo a porta do elevador com pressa, saindo dele correndo e batendo com toda a força que tinha na porta do apartamento enquanto gritava eufórico, feliz:
- Vó Ione, Vó Ione, Vô, Vô! Abre a porta, abre a porta, adivinhe quem chegou? Adivinhe quem chegou, Vô?
- Eu! E insistia batendo forte:
- Abre a porta, Vô!
Era um de seus netinhos de três ou quatro aninhos. Quando seu avô abriu, pude escutar:
- Vô, você adivinhou quem era que estava batendo na porta? Mas, não ouvi a resposta.
E entrou gritando, chamando pela avó.
A porta se fechou. Aquela chegada estilhaçante me atingiu como uma flecha e não pude conter meu choro, emocionada pela cena perfeitamente entrevista no diálogo inocente e amoroso que chegou para confirmar o que sinto e penso a respeito da vida e da felicidade; elas são feitas de simplicidade.
Chorei a falta que me faz minha família. Acordou os risos, o movimento, as vozes que tomavam conta desse espaço; que enchiam de vida este apartamento e os outros lares onde vivemos antes, com a mesma alegria e euforia que presenciei agora e que tenho oportunidade de acompanhar sempre, daqui, através da família de meus vizinhos.
Vizinhos amáveis que sem saber, me proporcionam momentos de lembranças e reflexões fundamentais que me chegam nos sons sentidos, embora incompreensíveis, das conversas ora divertidas, alegres, ora mais preocupadas ou mais tensas. Recordações que entram pelo meu apartamento, invadindo minha inodora e insossa cozinha de micro e congelados e me envolvem vindas no aroma do feijão bem temperado, dos bifes saborosos feitos na chapa, que ali, posso imaginar sendo preparados na hora do almoço ou jantar; chegadas no repinicar da orquestra de panelas e louças na cozinha, no ritual do preparo do churrasco que recende, perfumando tudo como agora e que penetra em minhas narinas e na minha alma contrastando com o silêncio e ausência do calor que provêm das pessoas ausentes que amo.
Penso em meus filhos, minha mãe, meus irmãos, na minha família; todos vivendo com suas alegrias e desafios, suas cotidianas vidas, distanciados, muitas vezes sem valorizar este bem e, muito mais vezes ainda, jogando pela janela a sorte que está em suas mãos. Sorte que não reconhecem por se perderem em detalhes sem importância, por se deixarem contaminar pelos apelos de modernidades de comportamento de uma mídia enganosa e grupos manipuladores, em detrimento dos valores verdadeiros, simples e essenciais.
Talvez, iludidos pelos conceitos em voga que privilegiam o olhar e idolatrar o próprio umbigo sobre todas as coisas, e sendo assim, perdemos todos.
Pena que certas pessoas não hesitem em desestruturar o bem mais precioso que é a família; a sua e a de tantas outras pessoas para atender ao ambicioso e egoísta apelo de sua personalidade.
Quando retornei de minhas reflexões, desisti do que escrevia e desejei compartilhar contigo o momento porque senti que me entenderias com teu coração e sensibilidade.
A resposta do coração daquele avô à pergunta de seu delicioso netinho - Vô, você adivinhou quem era que estava batendo na porta? - que eu não ouvi mas senti, foi a única resposta possível para aquela pergunta infantil, pura, ingênua:
- Adivinhei, sim, querido, quem bateu na minha porta. Foi a Felicidade!
Saudade,
Claudette
Texto revisado por Cris
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