ADMINISTRANDO CONFLITOS
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Autor João Carvalho Neto
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 26/03/2008 22:46:35
Estar compartilhando espaços de convivência com outras pessoas, no determinismo do instinto gregário, que nos coloca lado a lado por uma lei de atração, é estar-se exposto a conflitos de inter-relacionamento inevitáveis.
Vamos buscar compreender um pouco melhor esta afirmação.
Inicialmente, a título de justificativa, faço a defesa de minha proposta da existência de um instinto gregário a estimular nossas formações sociais. Alguns autores, inclusive Sigmund Freud, não acreditavam nesse instinto, defendendo que a busca pelo relacionamento grupal reside na necessidade de proteção que caracteriza nossas personalidades. Acredito na presença dessa força como estimulante mas não como causa. Conforme defendo em meu livro “Psicanálise da alma”, existe uma lei geral de atração imanente a todo universo e a todas as criaturas que nele estão inseridas, a que chamamos instinto do amor, uma força que nos mantêm buscando associação com outros seres da mesma e de outras espécies.
Então, na vivência desse instinto, somos levados a estabelecer espaços de convivência, desde os grupos familiares até as organizações sociais mais complexas. Tais espaços tornam-se centros de convergência de nossos conflitos pessoais que se projetam nas relações. Ou seja, aqueles conflitos que nos perturbam nos inter-relacionamentos pessoais nada mais são do que os próprios conflitos pessoais que trazemos em nós mesmos.
A origem desses conflitos provém de cada um de nós, estando na interação entre o que chamamos de desejo e vontade. O desejo é aquela manifestação instintual mais profunda, emergente da região inconsciente, como força de vida e morte que reunidas garantem o dinamismo da existência. Um desejo, dentro dessa conceituação, não pode ser eliminado mas apenas transformado ao longo do tempo; pode estar sujeito às forças repressoras da consciência, que o mantêm controlado mas não inativo. Com isso, apesar de ficar recalcado, ainda permanece atuando como uma força viva no psiquismo.
Já a vontade é um ato da consciência no exercício da razão, passível de ser dirigido de acordo com nossas necessidades. Será sempre fruto da análise dos fatos, da compreensão das conseqüências, para uma tomada de decisão.
A vontade é sempre o agente capaz de reprimir um desejo, estando, contudo, ela mesma sujeita à força pulsional de um desejo.
Pois é nas disputas que se constroem no psiquismo entre desejos e vontades que se estabelecem as bases dos conflitos pessoais e que se projetam para conflitos de relacionamentos nos espaços de interação social, como a família o é, se transformando em espaços de convergência de desejos pessoais e vontades coletivas, onde os interesses gerais deveriam determinar racionalizações que inibissem os desejos individuais que se lhes opõem.
Quanto mais primitivas e imaturas são nossas vivências psíquicas, mais sujeitos aos desejos estamos, mais egoístas permanecemos e menos passíveis de aceitar nossos limites em respeito aos direitos dos outros.
Por isso, o caminho para a superação dos conflitos pessoais e de suas derivações coletivas passa por dois aspectos: legitimar e sublimar.
A legitimação é aquele passo inicial defendido pela teoria da Inteligência Emocional, de Daniel Goleman, em que identificamos e verbalizamos sobre aquela emoção de nossa vida psíquica que nos incomoda e que precisamos transformar. E digo transformar por não podermos eliminá-la, já que suas origens estão nos instintos básicos que são os sustentadores da vida. Ou seja, tirar o instinto que sustenta um desejo seria tirar a própria vida naquilo que ela tem de mais essencial. Diria mesmo que eliminar um instinto seria mais do que matar o corpo mas matar a própria alma se isso fosse possível.
Então, após a legitimação, o caminho é o da busca da sublimação, ou seja, um processo de amadurecimento pela consciência do fato e pelas vivências à luz dessa consciência que vai transformando o instinto em sentimentos, que são estados mais amadurecidos dos instintos. Para isso, os exercícios da sair-se de si mesmo, nas atividades artísticas criativas, assistenciais e religiosas podem favorecer em muito os resultados esperados.
João Carvalho Neto
Psicanalista, autor do livro
“Psicanálise da alma”
www.joaocarvalho.com.br
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Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal" E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |