Afrodite, a Deusa do Amor
Atualizado dia 8/1/2006 11:43:36 AM em Autoconhecimentopor Mani Álvarez
No mito, Afrodite era a filha de Urano e Gaia. Como seu pai devorava todos os filhos que nasciam por medo de perder o poder, ele acabou sendo castrado por um de seus filhos, Cronos. E assim teve início a genealogia dos deuses gregos. Afrodite nasceu das espumas borbulhantes do mar, no momento exato da castração paterna. Acolhida pelas águas do oceano materno, ela teve sua feminilidade desabrochada por essa origem encantada.
O significado simbólico desse mito é de uma profunda verdade psicológica. Toda mulher precisa de um pai “castrado”, que reconhece seus limites, que respeita a mulher presente na filha e, também, por outro lado, de uma mãe que acolhe e permite o desabrochar da feminilidade de sua filha sem se sentir ameaçada.
Por isso Afrodite cresceu encantada. Ela era chamada também de “a deusa dourada” porque concedia o brilho da luz nos olhos daqueles que eram tomados pela energia de Eros, o deus do amor. As mulheres nascidas sob sua influência naturalmente vivem a sexualidade, a sensualidade e a beleza como qualidades sagradas. Seu maior dom é sua capacidade de entregar-se ao amor. Todas as mulheres na antiguidade faziam pedidos à deusa Afrodite, para que ela lhes concedesse a graça de se sentir bem com o seu corpo, com sua sexualidade, com o prazer. Até mesmo a poderosa Hera, quando se casou com Zeus, pediu a Afrodite o seu cinto sagrado para viver sua noite de núpcias. Conta o mito que Afrodite usava um cinto que lhe aumentava os poderes de sedução. Simbolicamente, o cinto marca a região dos quadris, acentuando a auto-percepção dessa região sensual da mulher. Assim, um cinto faz “sentir” mais o próprio corpo.
Afrodite é uma deusa pagã e esta é uma herança arcaica que todos trazemos em nosso inconsciente e que foi fortemente reprimida pelo sistema patriarcal: a natural sensualidade do paganismo. O patriarcado nunca conseguiu conviver bem com a deusa Afrodite, mas também nunca conseguiu viver sem ela. Até hoje Afrodite representa seu ponto fraco.
Uma mulher agraciada com a energia da deusa, desde pequena irá buscar o brilho dos olhares de admiração dos homens. Ainda menina já gosta de se enfeitar, de brincar de desfilar usando as roupas da mãe, gosta de fazer penteados e maquiagens e bem cedo aprende a seduzir o pai, o irmão, os tios e os amiguinhos da escola. Ela tende a ver a vida como uma grande aventura e não se prende muito a moralismos, compromissos ou fidelidades. Se tiver filhos será uma mãe afetuosa e carinhosa, mas dificilmente será uma mãe dedicada como uma Deméter.
A principal característica de uma mulher Afrodite é sua capacidade de se relacionar afetivamente com as pessoas. E acima de tudo, ela faz com que todos os seus relacionamentos sejam amorosos, não importa se com amigos ou amantes. Sua palavra-chave é o coração. Para ela, tanto faz se um relacionamento dura uma hora ou uma vida inteira, mas ele será pleno e absoluto naquele momento. Por isso, o grande ensinamento da deusa Afrodite é que é preciso sentir a vida no presente, no aqui e no agora. É preciso perceber plenamente o momento presente. É a deusa-zen. Vive o momento, como ensina o zen-budismo.
As mulheres Afrodites são muito cobiçadas pelos homens, que projetam nelas sua “anima”, ou seja, sua parte feminina. Neles, essa capacidade de entregar-se e envolver-se quase sempre é pouco desenvolvida. Afrodite possui o dom de fazer os homens se sentirem maiores, mais importantes e maravilhosos. No entanto eles a temem, por que sabem de sua infidelidade nata. Afrodite traz em si um aspecto da Grande Mãe que é a poligamia natural. Portanto, é muito ameaçadora para o sistema patriarcal, zeloso do nome do pai, de sua descendência e da paternidade.
Sua vida sentimental é quase sempre tumultuada, além de se deixar levar constantemente para relações triangulares. Na verdade, há cerca de 3 mil anos vem sendo uma das deusas mais temidas e perseguidas. Sua sensualidade exuberante assusta e não foram poucas as vezes em que foi confundida com uma espécie de tentação do demônio. Isto foi responsável por uma das mais profundas chagas impostas à feminilidade em nossa cultura. Por serem vistas como tentadoras foram associadas a “prostitutas”. Para não correrem esse risco, reprimem sua sexualidade e inibem o prazer em suas vidas.
Afrodite também provoca uma atitude de profunda desconfiança em relação às mulheres. Em geral, aquelas que manifestam esse arquétipo são condenadas moralmente e isoladas do convívio social. Esposas temem por seus maridos, mães temem por seus filhos. As mais jovens tomam-na como modelo, pelo fascínio que exercem sobre os homens (e as mulheres). Mas, na verdade, esse é um arquétipo poderoso e pode comprometer o desenvolvimento feminino na medida em que, por causa da facilidade com que se conquista dinheiro, prestígio, fama, uma mulher-Afrodite pode acabar negligenciando outros aspectos da vida como a disciplina, o caráter, o estudo, o trabalho, etc. Freqüentemente deparam-se com dificuldades concretas, porque esperaram demais de sua beleza e seus atrativos e descuidaram-se da realidade. Quase sempre são presas fáceis da midia e acabam deixando-se explorar por homens sem escrúpulos, ou abusar por cafetões desonestos. São muitas as histórias que causam sua ruína física e moral.
Mas, apesar desses perigos, Afrodite é uma deusa maravilhosa, que nos ensina a capacidade de entrega ao amor. O que ela quer é o coração, ou seja, aquilo que é a coisa mais autêntica e verdadeira em nossas vidas. Este é o dom maior de Afrodite. Quem já amou, sabe.
Texto revisado por Cris
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