AOS 44 ANOS...
Autor Christina Nunes
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 10/5/2008 5:21:51 PM
Anteontem à noite um banquinho se arrastou sozinho na minha cozinha, pregando-me, e ao meu filho, os dois na sala naquele momento assistindo ao filme de um dvd, um bom susto. Cogitei na mesma hora de animais intrusos na casa, como ratos, ou algo que houvesse caído. Interrompemos nosso filme para conferir: mas não havia nenhum animal intruso, nem nada caído. Apenas um banquinho de mesa de cozinha, que estivera arrumado sobre o outro, havia estranhamente se deslocado, como se por ele mesmo tentasse sair de onde estava, posicionando-se sobre o debaixo numa esquisita escultura que, mal comparando, assemelhava um "totem" moderno, em moldes domésticos.
Ficamos ambos parados na porta da cozinha de boca aberta olhando para aquilo. Era véspera do meu aniversário, e eu andara mentalizando diálogos com meus mentores e amigos do "lado de lá", rabugenta como uma velha nos últimos dias (o que vem provar que rabugice não é privilégio só de velhos, mas de todas as faixas etárias!), reclamando silenciosamente sobre as canseiras recentes e sobre o fato de que já de há tempos não obtinha deles nenhum "sinal" efetivo de vida ou de sua presença por perto.
Ingrata. Imatura e resmungona... mesmo após tudo de maravilhoso que ocorreu nos últimos seis ou sete anos desde que consolidei a missão literária em parceria com meu mentor, na publicação de várias obras psicografadas; mesmo atingindo os quarenta e quatro anos a todo vapor - combatendo o bom combate com lances mais difíceis eventualmente, como todo bom, não digo, mortal... mas reencarnado, é verdade. Todavia, nunca ao léu e ao desamparo; sempre cercada de afetos preciosos, de apoio insuspeitado em horas críticas, de incontáveis momentos de felicidade e, preciso que se diga, da ostensiva e manifesta presença espiritual em todas as horas do meu percurso, pródigos em oferecer aqui e ali sinais inequívocos da sua presença, amor e apoio indefectível!
Mas ainda assim se passam os dias e horas e, no calor dos desafios nem sempre fofos como nuvens no azul celeste, vem o eclipse na clareza de consciência e nos rendemos a estes panes.
E então eles vem e arrastam, para nosso renovado pasmo, o banquinho na minha cozinha. Sorri para meu filho; relembrei a ele que uma coisa dessas, passível de provocar até mesmo pânico em mentes desavisadas e desabituadas da convivência mediúnica estreita com o mundo maior, para nós já vinha virando lugar comum. Ele concordou. E um desafogo enorme, uma aura feliz de desopressão e de afeto se assenhoreou do meu estado de espírito, e voltamos ao nosso filme.
Eis o saldo; aos quarenta e quatro anos, pois, uma consciência mais leve e desperta para a vida maior; e filhos lindos e amados, e marido e pai, e mãe, e um almoço feliz à beira mar no Rio de Janeiro, da melhor forma: nada programado, um dia de sol, a alegria harmoniosa da presença familiar; o mar logo à frente com crianças divertindo-se na marola que vai e vem... Outras famílias e grupos risonhos à volta no ambiente do restaurante: amigos, casais, idosos, outras crianças. Um casal esquecido da vida no seu idílio, uma mocinha morena com um rapaz com jeito de inglês, muito branco, olhos azuis...
Aos quarenta e quatro anos, o impagável presente de dias perfeitos, felizes, plenos em saúde, em descobertas diárias, em planos... Um dia inédito após o outro, renovando em meu rosto o sorriso encantado das crianças que se maravilham com as - hoje raras - conchas coloridas nas areias das praias. O sentir-se imatura como uma guria de dezesseis... e, a partir disso, compreender inteiramente os dilemas e amuos meio adultos meio crianças do meu próprio filho de dezesseis anos!
A criação infinda. A co-criação; a renovação!...
E lembrar-se, como se fosse ontem, dos meus quinze anos: braçada de rosas brancas da vizinha amiga que me disse, saudosa: "isto passa tão rápido! Aproveite!". E ontem me chega a notícia de que sua filha está afinal grávida, de um belo menino, aos quarenta anos!
Grata, meu Deus, pelas flores renovadas no meu jardim; por estes lindos rostinhos sorridentes à minha volta: minha mãezinha de cabelos em neve, feliz com a minha felicidade, sempre preocupada com as minhas preocupações; por meu pai sempre alto astral como um guri; por meu marido com a torta surpresa floresta negra, com morangos e chocolates e velinhas azuis. Por meus filhos e seus presentes - o presente maior me dando presentes! Por amigos virtuais e não virtuais, e todos os seus emails e telefonemas! Obrigada pelo carinho de tantos, quando talvez eu ofereça tão pouco; pelos meus parentes, pelos colegas-amigos do ambiente de trabalho; aos leitores amigos que compartilham e nos incentivam...
Pelos amigos da Vida Maior, e pelo seu amor e paciência apesar das minhas impertinências e rabugices!
E pelos deslumbrantes cenários Cósmicos descortinando-se-me ultimamente à visão extasiada - pelas descobertas assombrosas atestando a veracidade de que somos parte viva do perene espetáculo da Criação, no incomensurável Jardim do Universo!
Com carinho,
Avaliação: 5 | Votos: 8
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |
