As delícias de uma feira de flores!
Atualizado dia 17/10/2014 07:28:10 em Autoconhecimentopor Renata Kindle
"Todos querem o perfume das flores, mas poucos sujam as suas mãos para cultivá-las".
Augusto Cury
As flores são "seres" muito especiais, é a parte mais delicada da natureza e a energia que gratuitamente oferecem ao mundo é contagiante. É a pura expressão da alegria!
Sendo assim, de um tempo prá cá, fiz da feira de flores a minha rota obrigatória nas primeiras horas das sextas-feiras. É uma experiência singela, porém fabulosa, formidável, que todos que vivem em grandes centros urbanos deviam provar pelo menos uma vez na vida. É alegria garantida, reposição de energia emocional e o coração agradece!
Sempre vi nos filmes as mocinhas comprando flores em banquinhas de rua e saindo com o sorriso mais sincero do mundo. Ah, por mocinha, entenda uma jovem com vestido solto ou uma executiva de sucesso e óculos sóbrios! Enfim, achava essas cenas lindas e sempre quis fazer! Então, fiz um dia e amei!
Circular descompromissadamente entre todas elas, sentir os variados perfumes que exalam, tocar suavemente suas delicadas pétalas, conversar trivialidades com os floristas... isso é quase tão mágico quanto acreditar em fadas!
Bem, hoje, manhã de sexta-feira, fiz uma brincadeira divertida e a expressão do meu rosto não escondia o devaneio que se desenrolava na minha cabeça! Personalizei as flores que via e que me chamavam a atenção; atribui a elas os humores humanos, os nossos estados anímicos. E por que não?!
As primeiras flores que avistamos quando chegamos nessa feira que frequento são as rosas. Podemos vê-las de longe, do outro lado da rua. Estão lá, lindas, majestosas, a rainha de todos os jardins. Lembre-me do Pequeno Príncipe cuidado da sua única rosa e da pergunta que ele faz: "por que as rosas têm espinhos?" Bem, eu não soube responder! As rosas mais claras são mais delicadas, menos imponentes, porém, mais envolventes e mais encantadoras que as vermelhas. As vermelhas são arrebatadoras, até assustam. Traduzidas em sentimentos, as primeiras são o amor puro, real, enquanto as vermelhas são o fogo cálido e efêmero da paixão que queima, mas que apaga rápido, que não se sustenta por falta de combustível, deixando ao fim, seu rastro de dor.
Depois das rosas, brinquei com os cravos, os crisântemos e os lírios. Incrível, são os reis do baralho! São os homens da feira. O cravo é sério demais, parece um disciplinário bravo de escola, um inspetor de trânsito de bigodes grandes e densos, qualquer figura de autoridade, sei lá. Os crisântemos parecem os adolescentes, são joviais, alegres e sem muita responsabilidades. Já os lírios... ah, eu me derreto diante de um lírio, belíssima flor e quanta expressão! É o homem maduro, responsável, que sabe o que quer e vai buscar onde estiver, é a coragem decidida. Delicado no gestos, mas firme no caráter. Observe bem o caule de um lírio!
As hortênsias me fazem rir! São as fofoqueiras da cidadezinha do interior. Um mote de mulher junta falando maldosamente da vida alheia, mas com cara de beata.
A bromélia, com sua armadura, lembra-me uma pessoa de aspecto sisudo, de cara bem fechada, mas que lá dentro esconde um doce coração. Basta-nos alcançá-lo e enxergaremos a sua beleza.
As margaridas são as molecas da feira. Dessas que não nos deixam falar sério por muito tempo. São brincalhonas, zombeteiras e... puxa, como são fofas!
Pode uma flor chamar beijo?! Ah, pode sim! E que delícia! Lembra beijo de cinema, beijo de verdade, beijo que tira o fôlego, beijo de saudade, beijo de ternura. É uma florzinha até bem simples, sem muita elaboração da natureza como as imponentes orquídeas, mas quanta beleza há na simplicidade!
Os trevos trazem sorte, os cactos são arredios, solitários, não se envolvem com ninguém. Devolvem o toque macio e o carinho com espinhos que nos são dolorosos. Tocá-los é encrenca na certa, restando-nos, apenas, admirá-los à distância!
Então, ele surge, brilha e irradia sua luz, é ele, o grande rei do meu coração, o eleito entre todas as flores do mundo, exuberante, com cara de tudo junto: maturidade e infância, sabedoria, força, coragem, lealdade, amor, esperança, ternura, acolhimento... Tudo isso se reúne na seiva que alimenta um girassol. É uma flor muito, mas muito especial mesmo! Dê bom dia a um girassol e ele o receberá sempre com um sorriso. É uma flor que acolhe. Impossível sentir qualquer traço de tristeza diante de um girassol!
Bem, eu poderia ficar aqui falando do amor-perfeito, da azaléia, das orquídeas, da flor do manacá, da flor de maio, do brinco de princesa, do hibisco, da violeta, da flor da cerejeira... mas isso quebraria o encanto do meu passeio, do meu "estado de não estar", como costumo me classificar quando me sinto "assim assim".
Mas, "Pra não dizer que não falei das flores", este texto vira um convite: saia mais cedo de casa uma única vez. Seja irreverentemente criança em corpo de gente grande. Visite sem pressa uma feira de flores, converse com os floristas, compre uma flor, a que fizer seu coração bater diferente e leve-a para a sua mesa de trabalho. Você verá como seu dia ficará mais iluminado e você bem mais leve! Experimente! Não é tão maluquice assim. Saia um pouco da sua rotina, da mesmice que o engessa e o aprisiona entre os grandes prédios e a fumaça dos carros. É renovador, garanto!
Texto revisado
Psicóloga clínica e hospitalar (crianças, adolescentes, adultos, casais e família); autora de alguns textos e artigos. Desenvolvedora de um trabalho piloto sobre a atuação das emoções no corpo físico, que se realiza com grupos de oficinas terapêuticas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |