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Ciências feministas para um entendimento holista de gênero

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Autor Fátima Cristina Vieira Perurena

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 9/26/2006 2:35:51 PM


Sabe-se que não há como negar o papel que a ciência desempenha na vida individual e social através de seu paradigma hegemônico. Nosso universo simbólico/real é mediado por relações que são construídas através de representações disseminadas de um modo unilateral de ver o mundo – um mundo masculino/yang, branco e burguês.

O que se vê hoje é uma crítica à ciência cartesiana em geral, ao seu próprio paradigma, vinda de seus próprios foros, mas especialmente da física (Capra, 1992 A, 1992 B; Bohm, 1992; Prigogine, 1996; Prigogine/Stengers, 1997, entre outros). Inseridas nestas críticas estão correntes feministas, e é a partir daí que se desenvolve o que segue.

1. Uma proposta de ciência para compreender representações holistas de gênero
Alain Tourraine, em um de seus últimos livros (1998), está preocupado com a questão da dissociação, especialmente aquela que observa entre economia e cultura – o grande problema que se enfrenta nos dias de hoje. De um lado, uma economia globalizada que nos faz sentirmos cidadãos do mundo, de outro, a cultura cerceada pelos pequenos comunitarismos, como se refizéssemos o caminho inverso quando da passagem da era medieval para a moderna, com um sentimento de pertença, ao mesmo tempo, daqui e de todos os lugares, ou seja, a nada e a nenhum lugar. Mas o assunto dissociação não é preocupação apenas de Tourraine.
Edward Bach, o criador da medicina floral, já via neste fato o motivo causador das doenças, ou seja, o da dissociação entre o ego (personalidade) e a alma, ou o eu superior. Correntes feministas contemporâneas também estão voltadas para esta temática, à medida em que denunciam o caráter masculino da ciência ocidental constituída na forma em que a conhecemos – medidora, esquadrinhadora, matemática, positivista, eurocêntrica, fragmentadora, a ciência cartesiana dissociada – de um lado a mente, do outro o corpo. Do ponto de vista teórico, embora tais correntes proponham-se resgatar corpo e mente separados pelo projeto cartesiano, acredita-se que, ao insistirem no caráter social da construção do gênero, ainda estão afeitas a esta cosmologia. Não saíram da teia do cartesianismo.

Com isto, entende-se que, se de um lado, o surgimento dos estudos de gênero permitiu avançar no sentido de mostrar o quanto as desigualdades são construídas socialmente, de outro, ao excluir o sexo, e, portanto, o corpo, do conceito de gênero, inverteram a hipótese de Freud – sobejamente repudiada por Beauvoir, para falar de um clássico – de que a biologia é o destino. Agora a sociedade era o destino, ou seja, substituiu-se uma camisa de força por outra? Assim, parece que esta questão ainda não está resolvida. Pelo contrário, este entendimento de gênero pode ser responsável por mais uma dissociação a ser ressaltada – a separação entre corpo e psique.
O mundo inexplicado e ininteligível ao nosso redor parece ser o resultado de uma forma de fazer ciência alijada, alienada no sentido que Marx emprestava ao termo, do que caracteriza o ser humano, que é a sua capacidade criadora e imaginativa. Há quem sustente que é preciso pensar novas formas de imaginação e não nova forma de fazer ciência (Bohm, 1992). Mas não há como negar a penetração da ciência em todas as esferas da vida humana, e, nesse sentido, concorda-se com Harding, quando afirma que “Nas culturas modernas, nem Deus nem a tradição gozam da mesma credibilidade que a racionalidade científica” (Harding, 1996 A:16). Saliente-se, entretanto, que aqui se utiliza um outro conceito de ciência, muito distante daquele do biólogo Edward O. Wilson : “...a empresa sistemática e organizada que produz conhecimento sobre o mundo e o condensa em princípios e leis testáveis” (Wilson, 1998:53). É esta ciência conceituada por Wilson que vem sendo posta em xeque. É esta ciência que molda, ainda, as melhores perguntas e determina as respostas, que encaixa os pensamentos mais criativos e imaginativos em formas estabelecidas, cortando asas do que se poderia chamar de vôo científico – aquele vôo voltado para a criação, e não para a repetição do que vem sendo dito ad nauseum.

Ironicamente, esta ciência pretendida por Wilson e pelo establishment da comunidade científica, que se reivindica objetiva, neutra, racional e racionalizada, foi “pensada” através de sonhos que Descartes teria tido em novembro de 1619, e que são comentados em um texto pouco usado para o entendimento do pensamento cartesiano – As Meditações. A leitura que o filósofo aceito como pai fundador da ciência moderna fez daqueles sonhos, e que para muitos pode soar como pesadelo, foi de que tais sonhos, ou pesadelos, apontavam a ele que a matemática seria a chave para o entendimento do universo. A este respeito, Bordo afirma:
“Quando nós, filósofos, ensinamos Descartes como um ‘racionalista’, nós esquecemos que foi uma visão mística seguida por três sonhos vívidos e ameaçadores que o convenceram que uma ciência matemática universal poderia descobrir os funcionamentos do universo.”(Bordo, 1999:6)

Susan Bordo (1987) trabalhou a hipótese de que as idéias desenvolvidas por Descartes n’As Meditações podem ser encaradas como o “drama de um parto”, o nascimento cultural fora do mundo-mãe da Idade Média e do Renascimento, e a criação de um outro mundo – moderno, masculinizado pelo pensamento cartesiano e deliberadamente separado do mundo feminino.
Contrário ao que pensavam os medievais, Descartes entendia a subjetividade como uma ameaça epistemológica, ameaça que se faz sentir até os dias de hoje. Com efeito, o que se sabe através da arte, literatura, filosofia, da cultura enfim do período medievo é que a objetividade não fazia parte da sua cosmologia. O que importava era a continuidade possível entre os reinos humano e físico, as interpenetrações, através dos sentidos, entre o eu e o mundo. Assim, um entendimento de mundo holista, como se diz hoje, passou a ser apontado como “distorções” causadas por ligações pessoais – a questão da neutralidade-subjetividade. A objetividade, não mais o sentido, tornou-se o ponto central, e tanto mais o ser humano estivesse envolvido com a natureza e ligado a ela, tanto mais a objetividade se tornava impossível. Kant, mais tarde, compreendeu a mensagem e apreendeu-a filosoficamente – para haver conhecimento é preciso que se separe sujeito de objeto.

Assim, de um lado, tem-se um novo modelo de produção de conhecimento apoiado na pureza da mente e sua habilidade em transcender o corpo. De outro lado, um projeto ontológico da ordem das coisas é remodelado. Corpo e espírito passam a ser duas coisas distintas que não dividem qualidades, permitem interação mas não união, e são cada qual definidos exatamente em oposição ao outro. Bordo afirma:
“Para o modelo de conhecimento no qual resulta, nem a resposta corpórea (sensual e emocional), nem o pensamento associativo pode nos dizer alguma coisa sobre o objeto ‘mesmo’. A exploração dos vários significados pessoais ou espirituais que o objeto possa ter para nós, só pode ser entendida, como Gillispie afirma, ‘pela medida e não pela compreensão’”(Bordo, 1987:99 – grifo da autora)

O mundo que naquele momento se apresentava para Descar
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