Como reacender a chama da felicidade?
Autor Ton Alves
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 3/5/2013 12:26:27 AM
Apesar do massacre e da quase extinção de sua cultura, o povo Lakota, da nação Sioux, que vive no vale do Mississipi no Centro-Sul dos Estados Unidos, ainda consegue manter vivas muitos de Suas tradições e costumes ancestrais.
Uma delas é a transmissão oral dos ensinamentos antigos feita pelos mais velhos às crianças e aos jovens. Nas noites de Lua cheia, ao pé da fogueira construída no centro da aldeia, os anciãos relembram, com a voz solene e gestos litúrgicos, as lendas que deram origem e que sustentam a crença, os valores e os costumes daquela etnia.
Uma destas parábolas Lakota explica a origem dos dias e noites. No princípio do mundo só havia a noite. Eterna, fria e imutável. De tanto os Lakota pedirem e clamarem ao Wakan-Tanga, o Grande Mistério, resolveu mandar seu filho, o Sol, visitar a Terra.
Quando chegou com sua luz e calor inundando tudo de vida e beleza, o Sol foi festejado, adorado e recebido com grande festa. Quando se cansou de girar no céu, o Astro Sagrado resolveu se esconder atrás das grandes montanhas para repousar. Os homens e os bichos ficaram com medo. Esconderam-se nas tendas e nas cavernas, tremendo de frio e pavor. Por pena do povo, Wakan-Tanga despertou seu filho e mandou ordenou voltasse a brilhar sobre o mundo.
Quando o Sol voltou a percorrer o céu, os Lakota festejaram, se alegraram e agradeceram ao grande deus. Depois o Sol foi descansar. Mas os homens não ficaram em pânico. Sabiam de logo o Sol voltaria. Então festejariam a vida, a luz e o calor.
Com o passar do tempo, com as idas e vindas do Sol, o povo se acostumou com essa rotina. E logo já não festejavam o raiar do dia, nem se preocupavam com a chegada da noite."
Quando, do início do século XVI, os brancos começaram a invadir suas terras, matar seus filhos, violentar suas mulheres e acabar com sua caça e seus frutos, os Lakota lembraram que haviam se esquecido de Wakan-Tanga, do enorme presente que haviam recebido do Grande Mistério e voltaram a festejar o nascer do Sol. Mas perceberam que já era tarde demais. O crime da ingratidão dos seres humanos havia criado uma nuvem entre a Terra e Wakan-Tanga. O crime que os Lakota admitem ter cometido contra o Sunrise Spirit". O terrível pecado da rotina.
Para esse que é o mais espiritualizado e ético povo indígena americano, render-se à rotina é crime terrível. É o crime da ingratidão. É a falta que faz com que os homens deixem de ser humanos e voltem a ser animais. Os bichos não recordam, não celebram sua história e não agradecem ao Grande Mistério o milagre da vida.
Nestes tremendos e fascinantes tempos de transformações que a Humanidade vem vivendo, as lições da Eterna Sabedoria que se manifestou nos corações de todos os seres humanos em todos os tempos e lugares readquire um valor renovado. São ensinamentos que funcionam, ao longo da História, como bússolas e lâmpadas a revelar e indicar o caminho firme da evolução espiritual.
E a submissão do espírito humano à rotina que enferruja valores e caracteres é para todas as pessoas, como para o povo Lakota, "o grande crime".
Esse crime de banalização do que antes causava espanto, da rotinização do deslumbramento diante do Mistério, é, acreditam os cabalistas judeus, o pecado original. O ato que afasta o ser humano da felicidade sem fim do Paraíso.
Então, o portão do Édem é o deslumbramento. Aquele susto com sabor de orgasmo, o ficar estupefato diante da revelação do mistério é que conduz ao esquecimento de tudo o que não é sublime e nos permite mergulhar no sublime.
Porém, nos tempos atuais, o deslumbramento, o encantamento diante da Infinita Sabedoria e da Suprema Beleza é coisa reservada aos poetas, aos loucos e aos santos. Não à pessoa normal, moderna, consumidora, materialista ou falsamente espiritualizada. Para estas, tudo o que de inacreditável que existe pode ser explicado pelos truques e efeitos especiais do cinema e da televisão.
Nada há para nos espantar. Tudo é rotina. Até aquela dor silenciosa que se esconde atrás de todos os sorrisos, o vazio que há por baixo de toda a festividade, o sentimento oco de inutilidade e de esperança. Nada mais é novidade nem incômodo.
Mas como mudar essa realidade que dói no coração e se esconde no travesseiro para ferir e magoar quando não estamos anestesiados pelas milhares de ocupações que o trabalho e o lazer oferecem? Acabar com esse nó na garganta que dia após dia sufoca e domina a alma e nos torna indiferente a tudo e nos faz ver tudo velho, repetido e costumeiro? Como voltar a nos encantar e deslumbrar diante do belo e assustador mistério da vida e do mundo?
Não há onde ir nem receita pronta. Não existe caminho aberto em direção ao antigo e sempre novo sentimento de pertença e compartilhamento. Só há um lugar onde tudo pode ser mudado: o íntimo mais profundo de cada um. Lá, sob nuvens de banalidades mundanas brilha a luz original de onde tudo nasceu.
Lá poderá, se deixarmos, poderá renascer a nossa humanidade original. Ressurgir o velho e bom sentimento de fascínio tremendo que pode nos arrebatar e preencher o vazio infinito que há em nós com a Verdade e a Beleza do Todo Eterno e Sem Começo e Sem Fim.
Março/2013 - www.bloguedoton.blogspot.com.br
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Ton Alves é coordenador do Projeto CASULO DE LUZ de incentivo à prática da MEDITAÇÃO HOLOMÍSTICA TRANSRELIGIOSA (MHT), baseada no exercício do silêncio interior, na contínua atenção ao instante presente e no amplo cuidado com as várias dimensões da realidade. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |
