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COMPARAÇÃO E DOR - Parte IV

Atualizado dia 8/11/2006 11:55:39 PM em Autoconhecimento
por Joäo Virginio Silva


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Porque se a sociedade necessita e faz uso do indivíduo para os seus próprios fins, então, a sociedade não tem nenhum interesse na formação de um ser humano integrado. O que ela realmente quer é uma máquina eficiente, um cidadão obediente e respeitável e, para isso, é necessário apenas uma integração muito superficial. Portanto, enquanto o indivíduo for obediente e se deixar condicionar totalmente, a sociedade o achará útil e gastará tempo e dinheiro com ele. Mas se a sociedade existe para o indivíduo, cabe-lhe então ajudá-lo a libertar-se da influência condicionadora dela própria. Deve educá-lo para se tornar um ente humano integrado com o todo. A integração não é imitação, não é a criação de um padrão, um molde ou um tipo de exemplo onde o indivíduo tentará imitar. Porque a imitação de um padrão é um sinal bastante transparente de desintegração. Quando copiamos um modelo, não pode, evidentemente, haver integração.
A imitação, sem dúvida alguma é um processo de desintegração. É exatamente isso o que está acontecendo no mundo todo. Estamos nos tornando excelentes copiadores (xerox) repetindo o que as chamadas religiões nos ensinaram ou o que disse o mais moderno líder político, econômico ou religioso. Estamos apegados a ideologias e corremos “em massa” aos comícios políticos “em massa”, ficamos entusiasmados por feitos esportivos, e há também a devoção “em massa”, a hipnose “em massa”. Isso é, certamente, um sinal de desintegração. Porque, ajustamento não é integração.
Há muitas formas de disciplina - a disciplina escolar, a disciplina cívica, a partidária, as disciplinas sociais e as religiosas e também a disciplina que o indivíduo impõe a si mesmo. A disciplina tanto pode ser ditada por uma autoridade interior como por uma autoridade exterior. Mas de qualquer forma, toda disciplina implica certo ajustamento, certa imitação. E o ajustamento a um ideal, a uma obediência, á uma autoridade, seja ela qual for, implica uma disciplina e disciplina é o cultivo da resistência, o que necessariamente, gera oposição.
Resistência é oposição. Disciplina é processo de isolamento, seja o isolamento num dado grupo ou o isolamento próprio da resistência individual. A imitação é uma forma de resistência, não é? A disciplina, no sentido de ajustamento, resistência, oposição, conflito, é um dos fatores da desintegração. Mas, por que nos conformamos ou nos ajustamos á padrões estabelecidos? Certamente, é para termos não somente a segurança física, mas também a segurança e o conforto psicológico, não é verdade?
Consciente ou inconscientemente, o receio de insegurança contribui para o ajustamento tanto externa quanto interiormente. Todos nós precisamos ter uma certa espécie de segurança física, mas o que nos impossibilita essa insegurança, exceto para algumas pessoas, é o medo que temos de ser psicologicamente inseguros. O medo é a base de toda disciplina - o medo de não ser bem sucedido na vida, o medo de ser punido, o medo de não ganhar, etc. Disciplina é imitação, repressão, resistência e, quer consciente quer inconsciente, ela é o resultado do medo. E o medo é um dos fatores da desintegração.
Já que é assim, o que podemos fazer então para substituirmos a disciplina? Porque, sem disciplina, dizem, haveria um caos maior ainda do que o atual no mundo. Mas, não é assim não.
Compreender o falso como falso, perceber o verdadeiro no falso, reconhecer o verdadeiro como verdadeiro, eis aí o começo da inteligência. Portanto, não é questão de substituição. Não se pode substituir o medo por outra coisa, pois, se o fazemos, o medo continua a existir. Podemos encobri-lo muito habilmente ou podemos fugir dele, mas o medo continua a existir. A eliminação do medo e não a procura de um substituto para ele, é que é importante. A disciplina, sob qualquer forma, nunca trará a libertação do medo.
O medo precisa ser observado, estudado, compreendido. O medo não é uma abstração, só pode existir em relação com alguma coisa e é essa relação que nos cabe compreender. Compreender não é oferecer resistência ou oposição. A disciplina, pois, no seu sentido mais amplo e profundo, constitui um fator de desintegração. O medo, com as suas concomitantes imitações e repressões, é uma força desintegradora.

Agradeço a vossa atenção.
Muita Luz infinita

Texto revisado por: Cris

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