CONTADORES DE HISTÓRIAS
Atualizado dia 3/22/2007 12:43:04 PM em Autoconhecimentopor Irene Carmo Pimenta
Sejam contos de fadas, mitos ou histórias que foram transmitidas oralmente pelos nossos ancestrais – e que de uma forma ou de outra chegaram até nós, tocando a realidade arquetípica de nossas almas – as histórias ampliam a nossa compreensão sobre os caminhos que iremos trilhar em nossa jornada evolutiva. Funcionam como uma batida na porta – uma senha – que irá abrir uma passagem para regiões não exploradas da nossa psique. Não importa em qual cultura a história foi gerada, as trilhas tecidas por elas nos conduzirão longe, na direção do nosso autoconhecimento.
Os contadores de histórias sabem que a história é uma meditação, que muitas vezes leva o ouvinte a um universo “entre universos”, permitindo que ele “ouça além da história”, a voz “...que é mais antiga que as pedras...”, a voz do nosso eu superior que nos transporta a regiões de amor e aprendizado.
Na medicina tradicional hindu os contos eram oferecidos para meditação a uma pessoa desorientada psiquicamente. Esperava-se que meditando sobre a história a pessoa pudesse visualizar a natureza do impasse existencial que sofria, bem como a possibilidade de solução. Jesus, em sua passagem aqui pela Terra, também contou histórias (parábolas) para que as pessoas expandissem sua consciência espiritual. Nas tradições nativas os contadores de histórias são tão importantes quantos os curadores, porque as histórias contadas fazem parte da jornada de cura.
"Cantando celebrai, ó Anciãos, a história da nossa raça. Que me seja dado ver em minha alma o amor em todos os rostos. E todos os espíritos que vieram antes, o poder mágico que eles adquiriram, a Tradição Sagrada que me transmitiram para que a memória não desapareça. Ó, Contador de Histórias, sede minha ponte para aqueles outros tempos. Para que eu possa caminhar em beleza como o ritmo antigo e a antiga rima".
Jamies Sams, em As Cartas do Caminho Sagrado
É o contador de histórias que mantém viva a memória da tribo, preservando através dos seus relatos a herança dos ancestrais. Enquanto histórias são contadas, um ciclo, uma corrente de cura é instaurada. Abre-se o “caminho da beleza” e o ritmo antigo e antiga rima derramam-se em bênçãos curativas paras as gerações presentes.
As histórias trabalham com os arquétipos e com a cura, portanto, a hora de contar histórias deve ser bem avaliada, baseada na sensibilidade interna do contador-curador e nas necessidades externas dos ouvintes. Mas, na maioria das vezes, é o remédio que convoca o curador, ou seja, a história convoca o contador e não o contrário.
Algumas tradições nativas determinam épocas específicas para contar histórias. Entre os pueblos, histórias de coiotes eram reservadas para serem contadas no inverno. Da mesma forma que na Europa Oriental – as mesemondók – velhas húngaras contadoras de histórias afirmavam que determinadas histórias só deveriam ser contadas no outono, após a colheita.
De qualquer forma, ao nos debruçarmos sobre a “história dos contadores de história” chegamos à conclusão que embora as histórias possam ser contadas apenas como forma de entretenimento, suas raízes antigas falam de uma arte medicinal, um dos caminhos do curador.
Transcrevo abaixo um trecho de uma palestra proferida pela analista junguiana Clarissa Estes, sobre a função terapêutica das histórias:
“Sempre que se conta um conto de fadas ou uma história, a noite vem. Não importa o lugar, não importa a hora, não importa a estação do ano, o fato da história estar sendo contada faz com que um céu estrelado e uma lua branca entrem sorrateiramente pelo beiral e fiquem pairando sobre a cabeça dos ouvintes. Às vezes, ao final do conto, o aposento enche-se de amanhecer; outras vezes, um fragmento de estrela fica para trás, ou ainda uma faixa de luz rasga o céu tempestuoso. E não importa o que tenha ficado para trás, é com essa dádiva que devemos trabalhar: é ela que devemos usar para criar a alma (...) espero que vocês deixem que as histórias lhes aconteçam, que vocês as elaborem, que reguem com seu sangue, com suas lágrimas e seu riso, até que elas floresçam, até que vocês mesmos floresçam. Então, serão capazes de ver os bálsamos que elas criam, bem como onde e quando aplicá-los. É essa a missão”.
Eu ouso completar: É essa a missão dos contadores de histórias!
Da`Naho! (Assim seja)
Meu nome é Irene Carmo Pimenta, mulher, psicoterapeuta e contadora de histórias. Para os Sioux, a Nação da minha alma, onde fui iniciada no Caminho do Sagrado, meu verdadeiro nome é “LIKOT NI Y ATÔ”, ou “aquela que faz a história da vontade”. Ou “Pequeno Castor” como me chamava aquele que me iniciou...
Desde muito pequena as histórias fazem parte da minha vida e no decorrer da minha caminhada pude ver confirmada a certeza interna de que as histórias contêm estruturas curativas profundas, verdadeiros remédios para a alma. Foi a partir daí que criei o projeto “Era uma vez... histórias pra gente acordar”. São oficinas de consciência onde através das histórias podemos elaborar e fortalecer as nossas estruturas internas de cura.
Dedico estes escritos aos meus queridos amigos Vítor Hugo França e Samuel Silva (www.ippb.org.br), guerreiros do coração e contadores de histórias.
Assim eu falei. AHO!
Texto revisado por Cris
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