Contos: A AGENDA
Autor Alberto Carlos Gomes Lomba
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 5/13/2005 2:15:34 PM
Gastão Pena era daqueles que nunca ganhava nada na vida. Não ganhava brindes e nem mesmo panfletos de propaganda. Era um “pé frio”, secava arruda e pimenteira e nem mesmo era convidado para uma “fezinha”. Mas, bastava chegar o final de ano que ficava pedindo aos colegas do escritório de contabilidade, uma agenda. Motivo de boas gargalhadas, quase sempre os colegas aprontavam brincadeiras presenteando-o com agendas velhas e que não tinham sido usadas.
Neste ano um fato chamou a atenção de Gastão. Logo no início do ano, naqueles dias corridos quando toda a clientela do escritório está às voltas com o pagamento do IPVA, um embrulho veio parar em sua mesa. A princípio pensou que se tratava de gozação dos colegas, principalmente do Olavinho, tido como “o” engraçadinho da turma.
O embrulho lá ficou por uns dias até que, certa noite, Dona Almerinda, mulher da limpeza, deu de cara com Gastão às voltas com seu trabalho. Não havia mais ninguém no escritório. "Ué, seu Gastão, não vai abrir o embrulho?"
Chamado à realidade deserdou, por instantes, a matemática da contabilidade e perguntou àfaxineira. "O que?" "O embrulho", respondeu Almerinda. "Ah! Isso é gozação do moleque do Olavinho. Vou até jogar no lixo." "Não faz isso, seu Gastão. Isto não é brincadeira . Fui eu que recebi, noite destas, e coloquei aí."
Gastão ficou olhando para a mulher e cismando. “Quem teria trazido aquilo?“, perguntou. "Foi um homem estranho. Tava vestido todo de preto e me pediu que entregasse somente ao senhor", explicou a mulher.
Como Almerinda era conhecida como uma tremenda fofoqueira, pois sabia da vida de todo mundo, o contabilista perguntou se conhecia o tal. "De jeito nenhum. Nunca vi aquilo por aqui. Até me deu calafrio. Cruz Credo!"
Curiosidade, medo, sobressalto, coração batendo acelerado, ficou Gastão a matutar o que teria no embrulho. Se fosse mais uma brincadeira, no dia seguinte daria a maior bronca na turma e falaria com Sanches o dono do escritório. Trabalho quase terminado resolveu ir embora e levar o misterioso embrulho para casa. "Porque não abri-lo aqui?", pensou. E, com avidez, rasgou o papel que embrulhava tal mistério e deu de cara com uma agenda de capa vermelha da Indústria Têxtil Orion, datada de 1954.
Esse ano coincidia com o ano de nascimento de Gastão. Um arrepio passou pelo seu corpo. Afinal, nunca ouvira falar da tal indústria. Folheou e encontrou, numa das páginas, a seguinte anotação: "Sei que vou morrer esta noite. Quem receber esta agenda será um felizardo, pois nada menos que 20 barras de ouro estão depositadas no Banco M... Para tomar posse desse tesouro basta apenas pegar um envelope no final desta agenda e ter acesso à chave que abre o cofre no banco. Felicidades."
Avidamente, Gastão foi até o final da agenda e notou um envelope amarelo e, dentro, uma chave prateada com o número 17.
Nem a fofoqueira Almerinda soube explicar porque Gastão sumira de repente. Há 15 dias não “dava as caras”. “Será que tinha morrido?“, questionavam.
As especulações duraram um bom tempo e até mesmo o caso do homem de escuro virou picantes piadas de Olavinho.
Com um sorriso feliz e contente Gastão gozava a vida. As barras de ouro lhe renderam um milhão de reais, dinheiro que vem gastando. Um bom apartamento na Barra da Tijuca com dois carrões na garagem, viagens e muitas mordomias.
O que ele desconhece é que o verdadeiro dono da agenda, o Destino, o espera para um acerto de contas. Afinal, até a sorte tem seu preço.
Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 9
Visite o Site do autor e leia mais artigos.. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |
