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Contos: A CINCO QUILÔMETROS DO NADA

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Autor Alberto Carlos Gomes Lomba

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 5/8/2005 11:30:01 AM


O ódio de Amarantes era superior à sua razão. Tanto que nem viu quando a carreta, em alta velocidade, avançou pela pista espedaçando seu corpo físico. Seu espírito, ao lado do seu corpo mutilado, não conseguia visualizar o que acontecia. Sentia tonturas, dores, frio, sede e parecia que ia desmaiar. Antes disto lembrou apenas daquela voz que lhe dizia: “Vim te buscar...” O espírito aturdido queria gritar, correr, falar que não estava morto, mas suas forças eram exíguas. “O que aconteceu? Onde estou?” Antes de cair em prostração apenas escutou: “A cinco quilômetros do nada”.

Quando um homem chega aos 60 anos começa repensar a sua vida. Se conseguiu a sabedoria, tudo bem, se não, sua vida se torna um nada, como se olhasse através de uma janela e não visse nada. Kawan vivia esses momentos e, por vezes, tentava se enganar de que tudo andava bem. Intelectual, com cultura de dar gosto, vivia pesquisando e procurando respostas que nunca chegavam.

Numa manhã de verão conheceu Lorena, ou melhor dizendo, ela o conheceu. Entrou em sua vida, bagunçou todos seus conceitos e ainda disse a frase mágica para aquele coração tão ávido de carinho: “Eu te amo”.

A partir desse dia, Kawan perdeu o controle de tudo, principalmente, quando cruzava com sua musa e um sorriso juvenil lhe dava a sensação que encontrara a mulher de sua vida. Kawan encontrou em Lorena a graça de uma mulher de meia-idade, jovial e alegre, sempre disposta a aquiescer aos encantos do homem romântico, sensível, intelectual que ele demonstrava ser.

Porém, nem tudo era flores nesta versão atual de “Romeu e Julieta”, pois havia o ex-marido da jovem médica, sempre a persegui-la, inconformado com a separação. Na primeira vez em que encontrou a ex-mulher passeando de mãos dadas com Kawan, Amarantes perdeu a linha. “Você é mesmo uma vagabunda. Certamente já andava com ele, me traía. Foi ele que a induziu à separação”.

Lorena ficou estática, enquanto Kawan tentava argumentar. “Você nunca a mereceu. Só se deu conta disso depois que a perdeu e agora não adianta ficar ameaçando. Procure um novo caminho em sua vida”. Esbravejando Amarantes se retirou, pois alguns transeuntes começaram a parar e ele se sentiu envergonhado e amargurado. “Como pude perder esta mulher? Sei que sou o culpado. Sempre a humilhei, quis dominá-la, mas tinha a sensação que não me pertencia”, pensava quase febrilmente.

Desde este encontro o ex-marido de Lorena não tinha sossego. Queria vingança. Queria tê-la de volta, mas não sabia como. “Matar os dois seria uma solução”, pensava, mas logo acrescentava. “Nunca mais a verei, seria um tormento maior”.
O nefasto plano de Amarantes já estava delineado em sua cabeça. Perseguiria Kawan em seu veículo e, quando fizesse o contorno no trevo que levava à cidade de Montes Claros, onde sua ex-esposa residia atualmente, o pegaria de lado com seu caminhão.

Naquele dia Lorena acordou com pensamentos negativos. Estava nervosa, insegura e logo ligou para Kawan. “Amor, eu te adoro, estou com um pressentimento de que algo vai acontecer. Cuidado, amor, sem você na minha vida eu morro”. Com um suave sorriso, do outro lado da linha, Kawan a acalmou: “Minha menina. Calma, nada vai acontecer, logo mais irei vê-la”. O que o amor da médica se negou a falar era que ele, também, acordara com presságios negativos.

O carro de Kawan deslizava suavemente pela estrada quando, de repente, notou que estava sendo perseguido por um caminhão que vinha numa velocidade além de normal. Cauteloso, como sempre, diminuiu a marcha a fim de dar passagem ao “maluco”. “Deve estar drogado”, pensou. Subitamente, Kawan sentiu o impacto pela traseira. Seu veículo rodopiou e foi parar num barranco do acostamento. Ainda um pouco atordoado saiu do carro, antes que pegasse fogo. Ainda lúcido notou que o caminhão havia parado e dele desceu um homem. Era Amarantes que, em sua fúria, nem notou uma carreta que vinha em alta velocidade. O atropelamento foi trágico e inevitável.

Logo chegou a Policia Rodoviária e o local ficou interditado. Kawan já estava com seu amor que chorava de pavor e alegria em ver seu amado vivo. “Eu morreria também”, disse. Kawan selou seus lábios com um beijo e entraram na ambulância.

Aos poucos, o local do acidente foi ficando vazio. O trânsito fluía normalmente como se aquele acidente fosse mais um na estatística.

Abraçada ao peito de Kawan, Lorena sentia a pulsação do seu coração e apenas se amavam no silêncio daquele início de noite. Afinal, a cinco quilômetros do nada só existe um fato a se considerar: o amor...

Texto revisado por Cris

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