Contos: ANTES QUE A CHUVA CAIA
Autor Alberto Carlos Gomes Lomba
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 4/28/2005 12:14:02 PM
Muitos fenômenos da natureza estão intimamente ligados a cada um de nós.
Caso fosse feita uma pesquisa os dias chuvosos ganhariam disparado, uma vez que nestes dias as emoções ou se ajustam ou se separam.
O jornalista Carlos Araújo tinha uma marcante recordação de um destes dias chuvosos em que São Paulo se transforma em plena melancolia.
Acontecimentos do ano de 1987 são testemunhos disto, quando a jornalista, Eliane Passos, lhe informava que deixaria São Paulo para sempre, pois não suportava mais a vida numa metrópole tão desordenada.
“Isto não é viver! É morrer, como uma planta de estufa! Ficar o tempo todo trancada numa redação ou em um apartamento. Quero liberdade. Muito verde. Quero sol, e quero seu amor. Venha comigo.“ Cheio de sonhos e fantasias revolucionárias Carlos optou pelo silêncio, apenas escutando as ponderações desta mulher, que balançava seu coração. Enquanto Eliane fazia seu discurso ecológico de antipoluição, Carlos se fixava nos seus olhos de tamanha beleza e significado, um brilho esverdeado em um rosto claro de uma recifense nata.
Não sabia o porquê se encantara por aquela mulher e por seu sotaque nordestino, neta de coronéis da região canavieira de Pernambuco. Seus ideais eram opostos. Carlos se julgava um revolucionário, um intelectual de carreira enquanto sua colega era como ele dizia, “uma burguesinha com ares de revolucionária.“
“Nada a ver“, arengou o jornalista, como se aquela fosse a única frase feita em sua mente. “Como nada a ver? Você é um individualista, quer reformar o mundo, mas gosta de viver bem. Acredito que você se acostumou a me possuir, se satisfazer, depois vai embora antes que a chuva caia.“, ponderou Eliane, irritada. “Não quero discutir o assunto. Você ultimamente só pensa em meio ambiente, em viver na Amazônia, salvar todos os animais do mundo. Sabe, isto é um saco. A turma da redação já anda te gozando, dizendo que você agora só faz matérias de porco-espinho, erva cidreira e formigas”. “Não acredito que você esteja me dizendo isto, Carlos. Está me magoando. Você está sendo cruel e está me colocando na parede, só porque tomei partido pela preservação da natureza. Um dia você ainda vai me agradecer. Pena que não estaremos juntos.“
Quando a jovem bateu a porta da sala do editor, Carlos não imaginava que só teria notícias dela tempos depois. Eliane se tornara símbolo em defesa da ecologia. Por várias vezes Carlos tinha que conviver com suas reportagens e entrevistas que eram publicados em jornais de todos os países.
A chuva fina caia e o vento criava imagens com suas gotículas. De sua sala, Carlos observava, lá embaixo, o congestionamento, as pessoas correndo e não tirava a imagem de Eliane de sua mente. “Ela nunca deveria ter feito aquilo. Deveríamos ter falado mais. Puro radicalismo.“
O telefone toca e o editor atende. Era Lorena, sua esposa. “Querido, venha para casa logo”. “Só falta o fechamento da primeira. Além do mais, o trânsito está um caos com esta chuva.“
Lorena tomara aquela iniciativa pois sabia que todo dia chuvoso o fantasma de Eliane atormentava os sentimentos de seu marido. Por isso agia rápido. Carlos chamou o elevador, entrou sem pressa e apertou o botão da garagem. Seu celular tocou. Imaginou que fosse Lorena de novo. Colocou na agenda e leu um recado. “Estou no aeroporto te esperando. Venha me buscar ... Eliane.”
A caminho do aeroporto de Congonhas, Carlos chorava e sorria. Estava confiante. “Não quero mais saber de dias chuvosos. Quero o calor e a luz que somente ela me trará.“
Nunca termine um amor num dia chuvoso...
Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 12
Visite o Site do autor e leia mais artigos.. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |
