Contos: O MESTRE DOS SONHOS
Autor Alberto Carlos Gomes Lomba
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 7/26/2005 2:49:31 PM
“HÁ MAIS MISTÉRIOS ENTRE O CÉU E A TERRA DO QUE PODE PROVAR NOSSA VÃ FILOSOFIA.”
Shakespeare
Se algum dia vocês cruzarem com Alhonzo Lamare nunca contem a ele seus mais íntimos sonhos.
Maria Cristina Trenti, uma designer da moda, tinha uma maneira bem peculiar de se acalmar. Gostava de passear no saguão do aeroporto de Congonhas. Moradora do bairro paulista do Jabaquara, passou parte de sua vida ouvindo o ruído dos aviões que, de certa forma, planavam em cima do edifício em que residia, antes de aterrisarem. Da sua janela podia ver as aeronaves taxiarem pela pista, num vai-e-vem que mais parecia uma dança de pássaros metálicos.
Por esse motivo gostava de ir até o aeroporto para ver pessoas viajando, chegando, famosos e não famosos. Gostava de tomar um café expresso e ficava algum tempo na loja de revistas e livros. Numa dessas visitas à loja teve a sensação de que alguém olhava para ela. Sentiu um calafrio percorrer seu corpo e voltou-se dando de cara com um homem de meia idade. Alto, cabelos quase grisalhos, estava elegantemente trajado; no blazer azul marinho, com uma pirâmide em detalhe no bolsinho, tinha um jeito jovial. Ficou intrigada com o sorriso cativante daquele homem que via pela primeira vez. Ela tinha a sensação de tê-lo visto em algum lugar mas não sabia onde nem quando. De repente, ele fingiu que estava manuseando uma revista e ela também abaixou os olhos fazendo o mesmo.
Quando a voz do autofalante anunciou o embarque para uma cidade do interior de São Paulo, o misterioso homem sai da loja e se encaminha para o portão de embarque. Como se um imã a atraísse, Maria Cristina o acompanha de longe, observa seu embarque e ainda o decolar do avião.
Na volta para seu apartamento tinha a impressão de que algo estranho havia acontecido. “Eu conheço aquele cara. Que porte elegante, que olhos profundos.”
Quando se deu conta já estava entrando em seu apartamento, ouvindo a filha de 15 anos gritar: “Mãe, não fecha a porta, pois vou sair”. Naquela noite a designer teve sonhos estranhos. Sentia-se envolvida em uma magia amorosa e emocional.
Durante alguns dias Maria Cristina foi ao saguão tentar encontrar aquele homem. E assim se passaram dois meses. Ela já tinha esquecido o assunto. Numa segunda-feira antes de ir para casa a designer resolveu ir até o aeroporto tomar um lanche e um café que ela tanto apreciava.
Sentada a uma mesa com pensamentos em cintos, bolsas e demais acessórios femininos que ela criara foi tomada de surpresa. “Boa noite, meu nome é Alhonzo Lamare. Tenho visto a senhora, ou senhorita aqui...”
“Senhora”, respondeu a designer totalmente embaraçada, pois ali estava o homem que ela tanto procurara. E ainda disse: “Sou separada e tenho uma filha”. “Quem bom”, disse ele, “me acompanha em outro café?"
Aos 41 anos Maria Cristina era conservada, tinha um jeito de menina, olhos e cabelos castanhos escuros, um sorriso lindo e uma postura elegante.
“Filha? Mas você deve ser tão nova?” E assim, sentados ali, nem perceberam as horas passarem e pareciam amigos de há muito. A jovem senhora se achava totalmente envolvida e teve um pensamento até piegas: ”Ele está me seduzindo e estou adorando.”
“Você tem sonhado em ser uma designer famosa, não é?” “Sim... como sabe de meus sonhos?” “Sei também, que você quer viver um grande amor, certo?” Os olhos de Maria Cristina brilharam e ela confirmou com a cabeça. “Bem, posso lhe fazer famosa, mas jamais encontrará seu grande amor”, disse Lamare.
Atônita, a designer se levantou, agradeceu a conversa, se desculpou com as horas e deu um leve beijo naquele homem que lhe causava emoções estranhas. Seis meses depois a griffe lançada pela designer era sucesso total e era procurada por todas a lojas de alta moda.
A cada dia se apaixonava mais por Alhonzo, que não correspondia ao seu amor, apesar dos momentos íntimos que os dois tinham. E a cada dia Maria Cristina ficava mais famosa no mundo da alta costura. Todos seus sonhos se tornavam realidades. Sonhou com uma casa na praia e conseguiu comprar uma; sonhou com um carro importado, logo teve acesso a um.
E assim, sem saber o motivo, todos seus sonhos se transformavam em realidades. Uma noite, depois de fazer amor com seu misterioso amigo, disse: “Você sabe muito bem que nestes anos tenho te amado demais. Você é a razão da minha vida, mas nunca fala numa união mais segura. Por que não casamos?”
Lamare nada respondeu; deu-lhe um longo beijo e disse: “Me acompanha até o aeroporto?”
“Já, tão cedo?” Com aquele sorriso que desmontava a designer, ele nada respondeu. Pegou suas coisas, ela colocou uma roupa simples e saíram. Chegando ao aeroporto trocaram beijos como se fossem os últimos. Maria Cristina ficou no saguão observando a luz piloto do avião desaparecer entre as nuvens.
Sentado na poltrona Alhonzo sentia um aperto grande em seu coração. Nunca mais iria vê-la. Esta era a regra que tinha prometido aos Guardiões dos Sonhos. Ela fez a escolha, preferiu a fama, o sucesso e se esqueceu de viver um grande amor. Sua mente voltou, ainda, ao passado e se lembrou que fez esta pergunta para várias mulheres. Todas são hoje famosas em suas áreas, mas de corações partidos por não sonharem um grande amor.
Texto revisado por Cris
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