Contos: REENCONTRANDO CORAÇÕES
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Autor Alberto Carlos Gomes Lomba
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 5/27/2005 2:26:31 PM
“O mundo é redondo mas o amor é quadrado”.
Algipha
Até os dias de hoje Ignácio relembra, com certa felicidade, o tempo em que viveu nos altiplanos próximos a Povoa de Castelo, em Portugal. Região de pescadores, com seus barcos pintados de cores fortes e as casinhas brancas dos pescadores.
Quando ganhou a Bolsa do Governo Português pela monografia sobre os Navegantes Portugueses, jamais imaginou que encontraria, na pátria-mãe do Brasil, pessoas que se tornaram tão importantes para a sua existência.
A doce Laurita, uma espanhola importada para aquela região, Manuela Ferroso, Angelina D’Agostini e Juan Cabral eram nomes que voltavam à sua existência, com a força de vivências atuais e passadas. As amizades foram muitas, mas não foi somente o alarido das festas e do fado português, de bandeirolas e noites sem fim, onde as paixões eram tão sonoras e coloridas quanto o grito da gaivota próxima à costa marítima.
O Hotel Videiras era, sem dúvida alguma, um local de artistas, intelectuais, comerciantes, turistas e fidalgos portugueses que viviam de suas memórias e da nobreza decadente de suas famílias. Mas, nos finais de noite, tudo terminava em deliciosos bolinhos de bacalhau, muito vinho tinto e boas gargalhadas. E neste hotel se uniram destinos de pessoas de regiões tão longínquas, como não se poderia imaginar.
O projeto inicial de Ignácio era fazer uma pesquisa com levantamento de dados dos Navegantes Portugueses e o local era propício, pois dos estaleiros daquela região saíram várias Caravelas que cruzaram os oceanos, seja em direção às Índias seja rumo ao descobrimento do Brasil.
Para que tudo funcionasse, o pesquisador começou a selecionar elementos que poderiam ajudá-lo no seu intento. Laurita foi a primeira aquisição. Antropóloga espanhola, formada pela Faculdade de Barcelona estava na região para descobrir porque, portugueses e espanhóis, não se consorciaram em suas descobertas pelo mundo. Mas Laurita ia além da inteligência; era uma mulher linda e extremamente doce.
Manuela Ferroso era historiadora, a parceria perfeita para a pesquisa de Ignácio. Mexicana de meia idade que, como Ignácio, ganhara uma bolsa do Governo Espanhol. Após o término de seus estudos na Espanha resolvera fazer turismo em Portugal; foi então que conheceu Ignácio.
Angelina D’Agostini e Juan Cabral trabalhavam em uma empresa de alta tecnologia e Ignácio os integrou ao grupo para agilizar e ordenar tudo que era catalogado.
As pesquisas se realizavam em várias frentes, mas principalmente, em Museus Cartográficos; havia também pesquisas de campo que incluíam pequenas incursões em caravelas mantidas em exposição, como as da época do descobrimento, o que dava ao grupo a sensação de terem vivido tudo aquilo, em outra época.
Em meio a todo esse clima de descobertas e misteriosos enigmas a serem desvendados, nasceu uma paixão envolvente entre Ignácio e Laurita. O primeiro beijo foi inevitável; nos intervalos das pesquisas e reuniões os dois sempre arrumavam uma maneira de ficar juntos. Mesmo nos trabalhos em grupo a união dos dois empolgava todo o pessoal.
Quando todo material estava sendo catalogado, em sua fase final, Manuela Ferroso, adoeceu vítima de uma pneumonia. Todos foram pegos de surpresa e todos os amigos a acompanharam até o hospital. Antes de ficar aos cuidados dos médicos, Manuela disse: “Ignácio você tem sua missão, não deixe de cumpri-la; disso depende a paz de sua alma.” Dias depois a notícia de sua morte abalava todo o grupo. Alguns pensaram em desistir, mas Ignácio não permitiu e assim as pesquisas logo chegaram ao fim.
Em uma noite quente Ignácio não conseguia dormir e saiu para caminhar na orla marítima que naquele horário estava deserta. Laurita também sem sono saíra para caminhar e acabou por encontrar seu amor que abraçando-a, disse: “Laurita, você já teve a sensação que viveu alguns momentos de sua vida num passado longínquo?” Foi quando Laurita fez com que Ignácio fosse tomado de surpresa, dizendo: “Nada na vida é por acaso; nosso encontro, nossas pesquisas, Ignácio, nós vivemos juntos e nos separamos abruptamente; agora nos foi dada a oportunidade de terminar o que não conseguimos antes.”
Naquela noite Ignácio teve um sonho estranho: sonhou que estava entre os tripulantes de uma embarcação; sua ocupação era a de primeiro imediato cujo nome era João Tavares Alcântara. A embarcação era uma caravela que partira de Portugal em direção às Índias, mas uma forte tempestade fez com que a embarcação naufragasse. Morreram todos os tripulantes, incluindo João Tavares, que, antes de morrer, lembrou-se de sua linda noiva Laura Gomes Alencastro Silva.
Ignácio acordou angustiado e suado mas só então pôde entender o que sua companheira havia lhe falado.
Vários anos se passaram. A pesquisa foi concluída e gratificada com prêmios, incluindo uma boa soma em dinheiro, o que beneficiou todo o grupo. Ignácio e Laurita, agora casados, retornaram ao Brasil e foram residir no Rio de Janeiro.
Só um fato pesava na alma de Ignácio: a morte tão repentina de Manuela Ferroso.
“Você está divagando novamente?”, perguntou Laurita abraçando o marido e tirando-lhe dos devaneios. “Meu amor, tudo em nossas vidas é tão maravilhoso, mas eu não posso me esquecer de Manuela. Ela era tão alegre e decidida em seus objetivos.” “Querido, ela tinha terminado a missão dela e talvez tivesse alguém a esperá-la no plano espiritual; afinal, tinha 46 anos na data de sua morte, era solteira e sempre dizia que o verdadeiro amor da vida dela não era desta vida, lembra-se?” “Você tem razão!”, comentou o marido da antropóloga. “E tem razão, também quando diz que estas viagens promoveram encontros de corações. Angelina e Juan estão juntos até hoje, como nós” , disse, sorrindo à esposa, “afinal a vida é feita de encontros e reencontros, seja nesta vida ou em outras”.
”Realmente”, comentou Laurita, “encontros e reencontros acontecem, mesmo que sejam para um último adeus”.
Texto revisado por Cris
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