Contos: USOS E ABUSOS DA GENÉTICA
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Autor Alberto Carlos Gomes Lomba
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 5/22/2005 11:13:10 AM
Genésio se julgava o todo-poderoso com as mulheres. Além de ter uma bela esposa, se dava ao luxo de manter uma amante na cidade de Lagoinha, a doce Marcela.
O universo, nem sempre, está a favor daqueles que se julgam senhores absolutos de tudo e uma das expressões mais usadas por Genésio era: “Sou esperto, e daí?”
Sua esposa, Ariola, uma morena bem dotada, era motivo de muitos suspiros dos homens que tinham o privilégio de se hospedar na Pousada Curva de Baixo, propriedade que herdara da família.
Ciumento, guardava, a sete chaves, a esposa que vivia praticamente num cárcere privado sem direito a quase nada, enquanto o fanfarrão se divertia com sua amante e se gabava dizendo: “Mulher comigo é no laço; ajoelhou, rezou!”
Apesar de toda essa encenação, somente o casal sabia que a pousada ia de mal a pior. Dívidas, cobradores na porta, cheques sem fundos, sem contar alguns engraçadinhos que, a pretexto de cobrança, iam até a pousada para dar uma cobiçada nos encantos de Ariola. Isso deixava Genésio irritado e amofinado. Mas, como nada podia fazer pois as dívidas estavam no papel, tinha que fazer vista grossa a esses assédios, embora, à noite, prometesse pena de morte a tão delicada esposa caso fosse pega em contravenção, ou seja, na cama com outro.
Quando o inverno, melancolicamente, dava lugar à primavera, a linda Ariola veio a conhecer um escritor que se hospedara na tão abandonada pousada. Alegando que necessitava de muito silêncio e concentração para escrever seu livro, logo se rendeu aos encantos da esposa de Genésio.
“Sabe, dona Ariola, a senhora bem que poderia me ajudar no meu livro, passando minhas idéias para o meu computador e, assim, poderei até paga-la por hora.”, explicou Aldo Cortez.
Com a possibilidade de ter seu próprio dinheiro, em tempo de vacas magras, e a possibilidade de conhecer um mundo novo dentro da literatura, a jovem senhora não se fez de rogada. “Apesar do Genésio ser ultra-ciumento gostei da proposta; inclusive, adoro escrever poesias.” “Mesmo?”, disse Aldo, “Poderia ler algumas?”
Quando o marido descobriu essa “parceria literária” jogou a pousada no chão. “De jeito nenhum! Você, trabalhando ao lado daquele escritor de meia tijela? Isto mais me parece uma boa cantada!”
Porém, como a vida tem vários sabores, Genésio tinha que dar cobertura à sua amante prestimosa que além de derreter todo seu pouco dinheiro, ainda o ameaçava com um belo par de chifres. E nesses momentos em que se ausentava Ariola se rendia ao charme do escritor e, contrariando até os deuses do Olimpo, lá ia ela ajudar no grande best-seller. E assim cresceu um grande amor.
Desconfiado, o ciumento marido não podia pedir ao capataz Vadão que ficasse de olho nos dois, por questão de estratégia. “Se pedir isso vai espalhar que sou chifrudo”, pensava, enquanto se dirigia para Lagoinha.
E assim, Ariola e Aldo esquentavam o relacionamento mesmo com vigilância sem trégua. Nesses momentos cruciais Genésio desconhecia que Marcela, sua amante, nas horas em que ele tocaiava Ariola, era caridosa com a moçada da cidade.
Mas os amantes queriam mais. Imaginavam um jeito de ficarem juntos, uma vez que o caso evoluira para amor eterno. As estratégias iam desde veneno, afogamento até outras possibilidades menos nefastas. Mas, no final, entre beijos e abraços, os amantes voltavam atrás.
A cada dia o cerco de Genésio à linda esposa ficava mais pesado. Não saia mais da pousada o que valeu uma interrupção no best-seller dos pombinhos.
Numa tarde em que resolveu ir à cidade tocaiar Marcela, depois de “denúncias” de chifre, o casal apaixonado se escondeu no pomar da pousada, afogados em beijos, amassos e outros deleites amorosos. Foi nesse momento que Ariola lembrou que no tempo em que era gorda Genésio quase havia se separado dela.
“O que?” Disse Aldo. “Me conte isso”. “Houve um tempo em minha vida em que estava meio deprê e comecei a comer; engordei que nem uma pipa. Ele não queria mais saber de mim e prometeu me abandonar.” “Bingo!”, disse Aldo.
Para surpresa de seu amor ele esclareceu o plano: “A partir de hoje você vai comer tudo o que tiver direito. Quero que você fique uma pipa!”
“Nada disto! Aí você não vai mais me querer, também.” “Sua bobinha! Eu te amo muito!”
Convencida pelos argumentos do escritor, Ariola atacou todo o possível arsenal da pousada. Era ovo frito, carne de porco, pão, doce de leite, bolos e tudo o que resultasse em calorias. Em menos de um mês a linda Ariola já pesava 75 quilos para desagrado do marido. “Mulher, se você continuar assim vou te largar!” “Faz isto não, Genésio. Fica com sua mulherzinha”. E toma sorvete, sopa de mandioca, pamonha e mais alguns quilos.
Foi a gota d’água. Numa noite em que Ariola se insinuava para o esposo com seus quase - e redondos - 80 quilos, sem o brilho de antes, relaxada e até mesmo arrotando, ele gritou: ”Vai para lá, sua baranga. E tem mais: amanhã mesmo entro com os papéis da separação.”
E assim, enquanto Aldo se comprazia com a rechonchuda amante, Genésio assinava a separação em caráter irrevogável. Passados alguns dias e certo de que o ex não iria mais dar as caras Aldo levou sua amante para um spa.
Seis meses se passaram. Aldo pára o carro à frente do spa e de lá sai Ariola linda, sarada e exuberante. “Oi, amor. Agora estamos livres para acabar nosso romance.” E assim, apaixonados e livres, Ariola e Aldo festejavam o sucesso da pousada que, graças ao livro que rendia bom dinheiro, foi toda recuperada.
Enquanto isso, um dos principais personagens, aquele que dizia ser macho e esperto, curtia as dores e a inveja. Perdeu num só lance, a bela mulher, a doce Marcela e ainda ficou na miséria. Tudo isso graças à engenharia genética.
E como sentencia o escritor Paulo Célio: “A sabedoria me ensinou a trocar vitórias imediatas por conquistas duradouras.”
Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 9
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