Corpo holográfico, vivência e experiência corporal
Atualizado dia 10/26/2007 12:07:40 PM em Autoconhecimentopor Samuel Macêdo Guimarães
Propõe-se desenvolver certo olhar para o corpo buscando compreender seu significado essencial, afastando-se das interpretações baseadas numa visão dualista, newtoniana, cartesiana. A meta é buscar aproximação com um estilo de pensamento mais complexo. Para essa tarefa é necessário compreendermos que o nosso corpo não é uma escultura isolada no espaço e no tempo e, sim, um processo e que este processo é orientado em busca de renovação, não importa quanto tempo passe ou a quanta desmobilização estejamos expostos.
É relevante comentar que Experiência Corporal não é somente a cultura conseguida graças à acumulação de conhecimento, mas também decorre das vivências e do discernimento adquirido da interpretação por intermédio da reflexão crítica e das elaborações sobre as experiências concretas vividas. Trata-se de algo que se apreende na prática e que pode nos levar à arte de viver melhor.
No movimento humano o jogo do corpo holográfico encontra sentido nas Vivências Corporais. Com isso queremos sinalizar para um contexto profundamente relacional, construindo diálogo entre Vivência e Experiência. O corpo se constitui corporificando e dando forma às possibilidades existenciais, valendo-se da sua condição de corpo-no-mundo.
Tal experiência de aproximação só pode acontecer num contexto de diálogo, de cooperatividade e numa metáfora de corpo holográfico, mesmo que em determinados momentos o corpo como substância possa estar mais em foco. Esta é a essência do diálogo: não fechar espaços, não obstruir comunicações, não favorecer processos de estase. É desse diálogo que conhecimento e cuidado de si se constituem como resposta contextualizada no real possível de perceber, nas diferentes manifestações da consciência, encontrando para cada contexto a resposta mais apropriada para a pergunta: "Como me sinto neste momento?".
Ao questionarmos se é possível ter uma relação pura com o conhecimento despojada de qualquer interesse, a resposta do ponto de vista holográfico implica superar toda experiência dada, buscando experimentar uma nova experiência. Isso exige uma forma de nos aproximarmos de nós mesmos, do outro e do mundo e das relações entre ambos, valendo-nos de diferentes formas a cada momento, cuja base é a aproximação pelo diálogo na condição de ser-corpo-de-ação-no-mundo.
Os cenários são muitos, as metáforas de corpo também; mas precisamos pensar em proporcionar espaços para refletirmos criticamente a falta de consideração para conosco mesmos, condição para desvelar a consideração para com o próximo e com o mundo. Buscar sensibilização para encontrar os sentidos possíveis para a vida, desconstruindo os problemas causados pela ilusão de separatividade e assumindo corajosamente uma atitude mais precária.
Na condição de corpo-no-mundo, de gente que se relaciona com gente, não podemos ficar apenas na descrição do jogo relacional. Deve-se evitar a unidimensionalidade e a unicausalidade. Competência lingüística e se-movimentar são elementos imprescindíveis para tais contextos. Temos urgência de constituir fundamentos para o cuidado de si como base do aprendizado para o cuidado do outro. Construir "novas" e sempre "renováveis" pontes de dialogicidade intersubjetiva, considerando o equilíbrio entre o ambiente interno e externo.
Três dimensões são fundamentais para essa tarefa: Vida, Vivência Corporal e Experiência. Todas ocorrem de forma simultânea. Aqui, elas devem ser consideradas dimensões capazes de estabelecer o diálogo subjetivo e intersubjetivo e nas diversas dimensões possíveis. Capazes de reciprocidade intercomunicativa local e não-local.
Vida fundada no contexto das funções biológicas. Vivências Corporais como possibilidades e probabilidades de elaborações de ordem multidimensional: físicas, emocionais, mentais, psíquicas e espirituais, tendo o corpo-no-mundo envolvido no aprendizado. Nesse contexto, o corpo transforma-se num holograma vivenciado num universo holográfico.
Nossos corpos constroem sensivelmente, incorporando as experiências provenientes de realidades multidimensionais, experimentam as Vivências Corporais e as infinitas configurações existenciais, construindo incontáveis metáforas para se viver e para manifestar a vida no processo de corporificação das diferentes formas de manifestação da consciência.
Pela Experiência Corporal adquirida, valendo-nos do reconhecimento das probabilidades e possibilidades multidimensionais, podemos constituir redes intersubjetivas para um aprender sobre nós mesmos, sobre o outro e sobre o mundo. Evitar os modos de individualismo, banalização e naturalização das coisas do mundo, reconhecer os mecanismos que ativam barbáries e envolver-se numa perspectiva de emancipação e autonomia, já que alcançá-las é impossível nas condições contemporâneas. Este é o estágio da integração corporal: um entendimento de que para além dos modismos existem conteúdos capazes de modificar crenças, valores e hábitos mentais em direção a mais humanismo, espiritualidade e fluidez nas relações. Saímos então em busca do mundo subatômico, onde ser e não-ser coexistem dinâmica e permanentemente.
No processo de integração o corpo-no-mundo toma uma proporção de totalidade no diálogo entre o interno e o externo, construindo possibilidades e probabilidades de uma vigilância perene ao cuidado de si, na forma de evitar a cristalização da vida pelo congelamento nos pensamentos, emoções e atos afirmados por registros de memórias existentes apenas no passado. A integração é a luta de manter o corpo-no-mundo vivendo e experimentando o aqui-agora caracterizado pela eterna possibilidade da escolha. Pela eterna procura do vir-a-ser, buscando conhecer-se cada vez mais.
Para escolher, é preciso conquistar autonomia, esclarecimento e emancipação. O livre-arbítrio só pode funcionar se cuidarmos dos nossos condicionamentos negativos. Evitar os condicionamentos é propor o autocuidado nas vivências do presente abrindo-se para as novas percepções, conquistar pelos próprios méritos a vitalidade, a liberdade interior, o desapego de emoções compulsivas, de maus hábitos, tabus, etc. Não está desvinculada dessa árdua tarefa a humildade de pedir ajuda a quem achar necessário. Essa lição nós aprendemos na observação da nossa respiração: "Não somos ilhas de auto-suficiência".
No processo de integração corporal, nossa meta é sairmos do piloto automático dos condicionamentos e acessarmos as forças criativas e construtivas do nosso corpo-no-mundo: nosso curador interno. Este é o perigo de viver: o de perder-se e encontrar-se infinitas vezes, até que todos os encontros e desencontros se tornem apenas um e, sendo um, possam contar infinitamente.
Texto revisado por Cris
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Formação em Psicoterapia Corporal Neo-Reichiana, Psicoterapia Corporal para Crianças e Adolescentes, Psicoterapia Holográfica. Mestre em Educação Física, Consultor de Bem Estar. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |