Desprender-se do que já passou!
Autor Paulo Salvio Antolini
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 3/17/2013 7:51:56 PM
Desprender-se do que já passou!
São inúmeros os atendimentos onde trabalhar a quebra dos vínculos com o que já aconteceu torna-se necessário. Em outros momentos já falamos sobre os ciclos que vivemos, onde determinadas situações ou relacionamentos, empregos, enfim, se iniciam e se concluem, abrindo-se uma nova etapa em nossas vidas.A necessidade de sempre ter que saber o que virá pela frente é uma tremenda limitação na vida das pessoas. Um emprego que se perdeu, um relacionamento que se acabou, são exemplos típicos de que uma nova etapa será iniciada na vida dessas pessoas. Pouquíssimas se permitem ir se deitar sem saber como será o amanhã.
Com as mudanças aceleradas que vêm ocorrendo, com as variações nos relacionamentos, onde o tempo cronológico de duração destes já não tem referências comparativas (nunca teve, apesar do "é para toda a vida"), tem sido muito comum em consultório pessoas se perceberem vivendo estas novas etapas sem se aperceberem realmente do que está ocorrendo hoje, pois estão "totalmente" ligadas ao ontem em suas vidas.
Levantar sem ter o local de trabalho para ir, buscar novas oportunidades e aproveitar literalmente o dia para se dedicar a elas tem-se revelado um ato de muito sofrimento, então a busca desenfreada para escapar da ansiedade que tomou conta da pessoa tem sido a escolha não consciente.
Quando vamos vivenciar uma situação nova, deveríamos nos desprover de todos os nossos vínculos, para podermos captar realmente o que de novo está sendo apresentado. É como despejar a água do copo para poder receber líquido novo. O problema é que as pessoas acham que o líquido existente no copo é que é importante, quando de fato o recipiente (copo) é que vale. O ser humano é maior que as experiências que ele possui. Já me peguei com uma dificuldade inexplicável em aprender algo novo e descobri que eu estava tentando trazer para o aprendizado conhecimentos que, naquele momento, em nada ajudariam. Ao perceber isso, soltei-me completamente e me abri para o novo e notei que o aprendizado ocorreu rapidamente.
São muitos os motivos que levam as pessoas a se manterem ligadas ao que já passou. Uma cliente tinha dificuldade em afastar-se definitivamente de seu ex-namorado porque não sabia o que fazer com tantas outras opções que a vida lhe oferecia, estando ela sozinha. Enquanto namorada, tinha uma rotina de segunda a segunda e após o rompimento, a cada dia aparecia uma possibilidade nova e diferente. Essa amplitude que se apresentou assustou-a de tal forma que, em vez de experienciar as novas alternativas, sentiu-se assustada infeliz. Demorou até que ela percebesse que isso não tinha nada a ver com o sentimento que nutria pelo ex-namorado.
Pessoas ex-casadas (principalmente homens) vivem se queixando que saíram de um casamento infeliz e acabaram entrando em outro, no mínimo, igual. "Trocaram seis por meia dúzia". Separaram-se das pessoas, mas não quiseram abrir mão da rotina que deixaria de existir. Portanto, rapidamente arrumaram a substituição. Não buscam um novo relacionamento que os satisfaça, mas sim alguém que possa fazer com que as coisas não deixem de acontecer como antes.
Mudança de trabalho, principalmente quando se foi demitido, também leva a pessoa a se manter ligada aos contextos da empresa anterior, sem perceber que isso está prejudicando o seu desempenho, em sua nova colocação, que em alguns casos é até muito mais satisfatória do que a que perdeu.
Desprender-se do que já passou é usar as páginas limpas e em branco para escrever nossas histórias sem ficar, a cada momento, voltando para olhar quais foram as linhas escritas em páginas passadas. O que está narrado lá atrás é importante, mas no contexto que já se foi. Vai continuar existindo no processo histórico de cada um de nós, mas com muito espaço para a vivência existencial que somente o momento presente, o aqui e agora nos pode oferecer.
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