Dois pesos e duas medidas.
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Autor Paulo Salvio Antolini
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 4/7/2013 5:29:05 PM
Dois pesos e duas medidas.
Um conhecido meu tem refletido muito sobre como trata as pessoas ao seu redor, quer com esposa e filhos, quer com os parentes mais chegados ou com as demais pessoas do seu convívio. Para ele, tudo começou no dia em que, estando em um país estranho e tendo que se comunicar em um idioma diferente do seu, passou por um desentendimento em seu trabalho. Percebeu que estava a ponto de estourar, mas não o fez e, mesmo estando muito irritado, conseguiu falar com seu interlocutor de maneira controlada e educada e, principalmente, sem ser irônico.
A cada frase que dizia, sentia seu peito pulsar, todo seu corpo tenso e até mesmo dolorido. Após algum tempo de conversa, conseguiu se fazer entender e chegar a um ponto satisfatório para a atividade que estava sendo discutida, de tal forma que o resultado foi ainda melhor do que se não tivesse ocorrido a divergência.
Ao chegar em casa, naquele mesmo dia, fez um comentário com sua esposa sobre um outro assunto, que nada tinha a ver com o ocorrido e recebeu dela uma resposta nada delicada, rude mesmo. Antes de revidar, o que seria o normal, lembrou-se de como havia se controlado com o colega de trabalho. Retirou-se e foi cuidar de algumas outras coisas, sem responder.
Passado algum tempo, sua esposa veio lhe contar sobre suas preocupações com seus pais, que estavam fazendo exames médicos aqui no Brasil e cujos resultados estavam sendo aguardados com muita ansiedade pelos médicos e, muito mais ainda, pela família. Eles estavam a mais de doze mil quilômetros de distância.
Esse conhecido, que aqui vou tratar ficticiamente de João, passou a se questionar sobre o tratamento diferenciado que ele dispensava às pessoas. Verificou que, para com as pessoas mais próximas e queridas, seu comportamento era de agressividade, rispidez, enquanto que com "desconhecidos" mantinha o controle e buscava o equilíbrio das emoções.
Após uns noventa dias de nossa conversa, João me relatou o quanto está gostoso seu relacionamento com sua esposa e que era como se ambos ainda fossem namorados, cada um com vontade própria, mas nem por isso desrespeitando um ao outro quando constatada a existência de diferenças de escolha ou opinião.
Em outras situações, já foi citado, mas vale a pena repetir o quanto nos descuidamos das pessoas que julgamos estarem conosco "para sempre", ou "para o que der e vier". No caso de cônjuge ou filhos, é como se possuíssemos um alvará para a descontração total, sem necessidade de cuidados e zelos para com estas pessoas.
Chegamos a ouvir, muitas vezes, comentários do tipo: "Tenho que ficar atento com relação ao meu comportamento lá fora. Vou ter que fazer isso em minha própria casa? Não posso ser eu mesmo?" Então se pergunta: "Lá fora, com as demais pessoas, você não é você mesmo? Você é falso, hipócrita ou artificial?". Manter a consciência "ligada" hoje em dia cansa, pois estamos sendo obrigados, o tempo todo, a não ter que pensar. Por incrível que pareça, a antes brincadeira "pensar cansa" hoje se transformou em um hábito.
É natural, pois é humano que pessoas e situações despertem em nós determinadas emoções, mas justificar o não equilíbrio com isso, tornando constante a instabilidade de nossas reações frente aos dissabores, não só é imaturidade como irresponsabilidade e mesmo, falta de educação, no sentido de não ter aprendido outra forma mais adequada, pelo comodismo do não ter que se esforçar.
É preciso olhar pelos nossos com carinho e respeito sempre, pois se perdermos por eles a admiração e o respeito apenas porque, de alguma maneira, não há risco de perdê-los, isso significa que não nos achamos merecedores de ter conosco pessoas grandiosas. Portanto, revejam a forma como estão se relacionando com seus familiares.
"Se o time que perdeu não tem méritos, o que ganhou não revela nenhum valor em sua conquista."
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