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Dra. Maísa Misiara explica os meios de purificação e desintoxicação

Atualizado dia 3/10/2008 9:02:34 PM em Autoconhecimento
por Cítara Saúde


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Nos dias de hoje nos intoxicamos ao ingerirmos alimentos que contêm agrotóxicos, como o arsênico nos herbicidas e pesticidas, nos frutos do mar; o bário nos agrotóxicos; ao respirarmos o ar cheio de poluentes como o chumbo contido na fumaça dos caminhões e tintura dos cabelos, como o cádmio na fumaça dos cigarros; ao bebermos água que contém mercúrio. Vivemos em lugares próximos a campos eletromagnéticos artificiais, como antenas de celulares, redes elétricas naturais e principalmente de alta tensão, antenas parabólicas. Em nossas casas, expostos à radiação de televisores, computadores e microondas. Nos tratamentos médicos utilizamos raios X, radioterapia, exames com contrastes; sem esquecermos de toda a gama de quimioterápicos e remédios.

Irritamo-nos pelo excesso de estímulos. Nossos sentimentos e pensamentos também se alteram; trabalhamos em excesso, corremos contra o tempo, amamos, odiamos, ambicionamos, competimos, cuidamos em excesso, nos divertimos em excesso. Condicionados por hábitos, vícios, por uma espécie de desespero, como sobreviventes a forças arbitrárias à nossa vontade. Assim nos alimentamos, respiramos, habitamos nossas casas, assim nos intoxicamos. Sem o nosso real consentimento, sem nossa real presença. Um homem reside em uma casa cujas paredes estão esburacadas. O ambiente é úmido e o chão, sujo. Insetos a invadem. Resoluto, cansado de viver mal, resolve limpá-la. Varre desesperadamente todos os cômodos, lava-os com potentes produtos de limpeza, dedetiza e por fim incensa para perfumar. Uma semana após constata que mesmo com tanto esforço, retorna a situação anterior. Os buracos não foram tapados.

O morador precisa antes, conhecer-se para depois saber como manter a ordem, a limpeza; de quais reparos necessita, qual o material adequado e como executá-lo. Conto essa história aos pacientes para traçar um paralelo com o nosso corpo e ilustrar nossa ingenuidade. Não é suficiente uma dieta balanceada rica em vitaminas e nutrientes, respirarmos ar puro, vivermos no campo ou quiçá, tratamentos heróicos de limpeza em modernos spas do nosso tempo. Necessitamos conhecer nossa própria casa-morador, nossos corpos físico, mental e emocional. Ter uma dieta, atividade física e tratamento peculiares ao seu funcionamento. Então, poderemos usufruir e conhecer de nossa própria casa cada vez mais e saber como mantê-la em bom estado.

O Ayurveda é a ciência da vida longa e feliz. A Medicina Ayurvédica, baseada nos Vedas, é o sistema de cura e prevenção das doenças mais antigas do mundo. Surpreende a nós, ocidentais, pois além de contemplar todos esses aspectos, mobiliza no médico, no terapeuta e no paciente, uma forma próxima, amorosa e sábia de tratar e ser tratado.

Não basta limparmos ou processarmos uma assepsia incessante e desvitalizante. É fundamental promover simultânea ou subsequentemente uma nutrição que devolva tonicidade, imunidade, revitalização aos tecidos. A vida é um fluxo contínuo, como uma água corrente. Desde que não aconteça ausência, diminuição, excesso ou interrupção nesse fluir, toda a margem será alimentada, os detritos retirados. A recepção adequada desse fluxo na captação dos pensamentos, impressões, emoções, alimentos, ar que inalamos para que haja uma satisfatória nutrição. A eliminação pela urina, fezes, suor, emoções “erradas”, para não haver excesso e entre esses processos, a digestão de tudo o que entra em nós para que não haja a formação de toxinas. O que entra em nós precisa ser digerido para poder ser assimilado e virar o que somos e quem faz essa transformação é o agni ou fogo digestivo.

Os Vedas falam em agni como um deus. Significa fogo, aquilo que queima e transforma. Quando bom, não somente os alimentos são bem digeridos mas nossa mente e sentidos são claros, conseguimos mudar nossa vida. Todo o metabolismo celular é bom. Se deficiente, nossa mente embota-se, estagna. Não conseguimos mudar nada e nos intoxicamos física e emocionalmente.

Nosso sistema digestivo é o primeiro a se intoxicar, a acumular toxinas, ama: estômago, intestino delgado e intestino grosso. Segundo nosso humor biológico, constituição, chamado dosha na medicina ayurvédica, nos intoxicamos de maneira peculiar. Vata significa vento, o que move as coisas. Humor: ar. Intoxicado, acumulará gases intestinais no intestino grosso. Pitta significa aquilo que digere, a bile. Humor biológico: fogo. Acumula-se no intestino delgado, no processo de transformação e digestão dos alimentos. Na intoxicação encontraremos hiperacidez, azia, queimação, úlceras. Kapha, humor biológico água, significa fleuma, catarro; aquilo que mantém as coisas unidas. Emulsifica os alimentos no estômago. Na sua intoxicação produz náusea, falta de apetite.

Como método terapêutico temos desde uma simples pacificação do dosha, ou seja, está em excesso e tem pouco ama, toxina. Promovemos sua digestão com ervas, exercício físico, massagem ou oleação externa com óleos e ervas com a qualidade de digerir e nutrir, oleação interna também até a chamada terapia de purificação, quando necessitamos reduzir profundamente o dosha. O panchakarma, que faz parte do processo de purificação, pode ser feito em pessoas saudáveis que queiram tirar toxinas do organismo, quando desejamos fazer uma terapia de rejuvenescimento e estamos previamente intoxicados e principalmente quando precisamos de uma desintoxicação profunda, quando a doença já está instalada: diabetes, hipertensão, doenças do coração e todas as outras.

São cinco panchakarmas:
- Vamana ou vômito terapêutico
- Virechana ou diarréia terapêutica. Principal tratamento para eliminar excesso de Pitta, toxinas acumuladas no intestino delgado e fígado, via descendente.
- Basti, para limpeza intestinal, principal tratamento para Vata. Considerado 50% do panchakarma, pois o cólon é uma ótima via de absorção e portanto uma ótima via de admnistração de erva.
- Nasya, tratamento através das narinas que são as portas da cabeça. Todos os problemas acima dos ombros.
- Rakta mokshana, limpeza do sangue.

Nos intoxicamos do mal viver, o que é muito mais amplo e profundo. Compreender o que obstrui nosso corpo físico, mental e emocional e limpá-lo significa a possibilidade de acessarmos a nossa primeira intenção, o nosso porquê e para quê. Religarmo-nos ao nosso propósito, nosso sábio e curador interno. Esse é o salto qualitativo que nos proporciona este antigo conhecimento.

Por Dra. Maísa Misara
Médica ayurvédica responsável pela Clínica Cítara Saúde e homeopata docente do Instituto de Cultura e Escola de Homeopatia (www.citarasaude.com.br).
Revista Prana Yoga Journal - abril 2007

Texto revisado por Cris

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