É fácil falar para os outros perdoarem
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Autor Roberto Perche de Menezes
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 11/10/2006 4:10:15 PM
Se existir um consenso entre todas as religiões e escolas espiritualistas e filosóficas, talvez seja o de que o Perdão é um ato divino. E, por isso, difícil. Pelo menos para os grandes sofrimentos causados por seres humanos. Digo isso porque perdas como morte natural, por exemplo, podem provocar grandes sofrimentos, mas não implicam em ter que perdoar alguém.
Mas quando se sofre pela ação de outro ser humano, como em casos de traição, roubos, sociedades fraudulentas, violências físicas, separações, abandonos e tantas outras, a reacão inicial de quem se sentiu atingido costuma ser de sentimentos ruins: ódio, raiva, desejo de vingança,descrença. E, de certa forma, é até natural.
Nesses momentos é importante a presença de amigos, familiares, religiosos e profissio nais especializados. Mesmo pessoas desconhecidas ou de pouco relacionamento com quem se sente vítima, podem ser usadas para desabafo.
Pois bem, se esse for o seu caso (ouvinte, não vítima!), cuidado com os clichês!
Embora perdoar seja o melhor a ser feito, até para a própria vítima (creio que nisso a maioria concorda), é natural que no período imediato, e isso pode levar algum tempo o que predomine seja raiva, frustração, revolta, indignição e muito mais. É humano!
Imagine então, após contar todo seu drama e dor, a pessoa ouvir frases do tipo:”Olha, Deus sabe o que faz.” Parem para pensar um pouco. Primeiro: é óbvio que Ele sempre sabe o que faz. Segundo: quem disse que foi Ele que fez tudo aquilo? Ou então: “Deixe nas mãos de Deus, que d’Ele ninguém escapa”. Como se Deus fosse um capitão-do-mato vingativo e, pior, nosso empregado.
“Imagino o que você está sentindo, não é nada fácil.” Se jamais passamos por situação semelhante à da pessoa que está desabafando, melhor não usar a frase acima. Só quem vivenciou situações semelhantes sabe o que o outro está sentindo. E ninguém mais, mêsmo que tente imaginar. Recentemente, um casal de namorados foi assassinado em um sítio abandonado próximo a São Paulo, por um menor de idade. Um conhecido rabino de São Paulo liderou, então, uma passeata na av. Paulista , que pedia a pena de morte no Brasil. A moça assassinada era filha de um membro da comunidade judaica. Não se está fazendo juízo ou julgamento. Apenas um fato concreto usado como argumento:
Quando se é atingido na própria carne, você nunca sabe como será sua reação. Por isso cuidado ao julgar ou comentar as dos outros. Só quem viveu o problema sabe a dor que ele provoca. Outra coisa que, particularmente, discordo,são as frases automáticas, ditas às vezes em tom de brincadeira, às vezes com certo ar de sabedoria, do tipo: “Mas você jogou pedra na Cruz,hein!?” “ É o seu carma, você tinha que passar por isso.” “É um resgate”. E coisas afins. Já parou para pensar sobre o quê, realmente, significa isso?
Significa que, literalmente, está-se afirmando que a vítima é a culpada. E que a causadora ou agressor, um anjo encarregado de vir dar o merecido castigo. A pessoa, que já está sofrida e revoltada, ao ouvir isso, mal comparando, imagino que se sinta como uma mulher vítima de estupro que, ao dar queixa na delegacia, ouve insinuações de que ela foi a culpada.
Será que todos os sofrimentos deste planeta são carmas? Nenhum novo relacionamento, nenhum novo determinismo, nenhum novo início da lei da ação-reação, nenhum livre arbítrio está sendo iniciado? Todas as pessoas ruins são “oficiais da justiça divina” e todos os bons foram muito maus?
Mesmo assim, independente de tudo, penso e insisto que o Caminho está no Perdão, E Sei, inclusive por experiência própria, que num primeiro momento não é fácil. Como Então, colaborar com quem está revoltado, descrente, com ódio, correta, ou às vezes Incorretamente? Não tenho a fórmula. Mas posso dar sugestões. Isso, se você realmente estiver com disposição para ajudar, pois para dar tapinhas nas costas e dizer frases do tipo:”Qualquer coisa, telefone viu? Estamos aí!” Sinceridade? Era melhor ter ficado quieto.
Se você quiser ajudar, alguns passos são os seguintes. Ouça, ouça, ouça. Provavelmente você ouvirá as mesmas queixas varias vezes. É necessário. É um lago de amargura que precisa ser escoado. É como um abscesso que precisa drenar todo seu pus para finalmente poder cicatrizar. Claro que para isso você terá que dispor de tempo. Você arranja!
Esteja presente. Telefone várias, inúmeras vezes. Nos horários mais esquisitos. Mande e-mails com mensagens de fé, dignas e firmes. Apresente ´pessoas, filmes, lugares que ajudem enão agridam a memória recente. Arrume trabalhos voluntários. Não compare dores; a dor de cada um é a maior do mundo!
Depois, lentamente, comece a falar em Perdão. A velocidade e o tempo de cada um são diferentes.
Aqui um detalhe: interessante como existem várias e diversas Orações do Perdão. E Interessante como algumas pessoas interpretam-nas de modo singular. Há orações que sugerem que você imagine a pessoa que lhe fez mal, à sua frente, e você diz a ela que a perdoa,e que voce imagine que ela também perdoa você (mesmo que você não tenha feito mal algum a ela!!) . Entretanto há pessoas interpretando essas orações do seguinte modo: “ Eu fiz mal a alguém. Essa pessoa deve estar com raiva demim e emitindo ondas negativas para mim. Então o que faço? Várias vezes por dia pratico a oração do perdão para ela e assim eu estarei perdoado, ela me esquecerá e eu ficarei bem!” Mas é muito cômodo! Eu pratico o Mal, perdôo a minha vítima e nada me acontecerá! Pasmem, mas há quem ache isso, e se sinta a vontade para tudo, sem peso nas consciência.
Se de um lado deve haver o Perdão, do outro deve haver o Arrependimento.
E Perdão não é sinônimo de Esquecimento. Deve-se perdoar de coração, mas guardar na memória o ocorrido para que sirva como experiência: não faça ao próximo o que não gostou que fizeram com você. E não permita que façam novamente.
Porque mandar a outro perdoar e deixar para lá, é fácil.
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