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Encontros e desencontros do Caminho - Capítulo 12 - 1a. parte

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Autor Fernando Tibiriçá

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 2/18/2006 12:44:22 AM


Capítulo 12
Acordei pensando em visitar a catedral e a parte velha da cidade, afinal, ali estava parte interessante da história do caminho. Mas, com os pés inflamados, resolvi ir a um podólogo, espécie de médico na cidade. Consultório com duas salas, sala de espera, fui convidado a sentar em uma cadeira, tipo de dentista, para meus pés serem vistos. Entra na sala uma figura careca, bom de papo, falando espanhol italianado para eu entender ou para me atender. Comecei a gastar o meu espanhol e falei que os pés precisavam de um cuidado.
Ele olhou, fez cara feia, analisou e começou a limpar, dar pontos, arrancar uma unha e não parava de falar dos cuidados com os pés. Quando vi, tinha tomado uns trinta pontos entre calcanhar direito, sola esquerda e dedo do pé direito. Ele também me deu um remédio para passar e saiu da sala. Entrou uma simpática enfermeira, que me cobrou e me conduziu à porta. Pronto. Pontos nos pés ou costura nos pés e eu precisando caminhar. Voltei para o hostal, deitei e fiquei pensando no que fazer.
Dia seguinte, fiquei na cidade, voltei ao podólogo para mais curativos e providenciei para seguir caminho. Já havia visto León e suas coisas. Agora, era a estrada, o caminho. Depois de Villadangos del Páramo, a caminho de Astorga, parei no povoado de Puente de Órbigo. O caminho forçava você passar por vários povoados ou aldeias. Consegui passar direto em alguns lugares, em outros, me perdi. E fui chegando até que vi uma ponte sem rio embaixo, maravilhosa, com árvores e um circo sendo montado entre a ponte e a praça do povoado. Em um dos lados da ponte, alguns cavalos estavam sendo alimentados. Em uma jaula puxada por uma perua, havia um casal de tigres. O carro tocava uma música para chamar o povo para o espetáculo. Atravessei a ponte.
Sentindo calor, precisava trocar a camiseta de manga comprida por uma de manga curta e fazer um xixi. Fui para baixo da ponte, fiz meu xixi com um pônei do circo assistindo a tudo e troquei de camiseta. Quando me dei conta, a perua com a jaula com os tigres tinha estacionado. Me aproximei, vi, amarrada em um poste da praça, uma fileira de bandeiras, entre as quais, uma do Brasil, bem ao lado da jaula. Queria fotografar as bandeiras. Fui chegando com cuidado, não tinha ninguém nas proximidades. Um dos tigres estava deitado e o outro, irrequieto com o calor. E eu chegando.
A poucos metros da jaula, pude fazer duas ou três fotos da bandeira do Brasil. Pequena, não aparecia muito. O tigre começou a emitir um ronco estranho, não parava. Olhei e nada de gente. Será que a grade da jaula conseguiria segurá-los, caso um deles quisesse, por algum motivo, sair dali? Achei mais prudente me afastar, ir embora. O circo se chamava Belisário, mas o seu Belisário não estava lá para segurar os seus tigres.
Segui e passei no albergue para selar a minha credencial. Fui atendido por uma holandesa, conversamos um pouco, saí e continuei na direção de Astorga. Linha quase reta e um puta calor. Sombra nenhuma. Depois de uns 14 quilômetros, encontrei a sombra de uma pequena árvore. Precisava me recompor. Tinha chorado bastante: quando o caminho e a carretera se juntavam, os carros passavam muito próximos. Meus pés costurados, o calor insuportável e o andar constante desgastavam muito. Volta e meia, ciclistas passavam desejando bom caminho e os carros buzinavam para dar os parabéns. Essas atitudes me emocionavam muito e me davam forças. Chorei caminhando. Feliz. Sozinho, naquele momento, me senti um verdadeiro peregrino.
Enquanto estava na sombra da pequena árvore tomando um suco, ouvi uma voz cantarolando. Era uma figura, um francês, barba e cabelos brancos, toda a roupa em tom alaranjado. Ele parou para conversarmos. Ofereci o suco, ele, agradeceu, mas não quis. Tinha sua mangueirinha para beber água: era contra garrafas e latas, que as pessoas levam e depois as atiram pelo caminho. Contou que estava com tendinite nos dois tornozelos e pés e logo depois foi embora cantarolando. Isso só acontece no caminho.
Segui em frente. Eu andava com meu chapéu tipo pescador, camiseta, bermuda com vários bolsos, meias e botas. Nas costas, a mochila. Nas mãos, o cajado, que comprei no lado francês, meu companheiro. Marchava com ele, sempre me ajudando. Às vezes, eu o segurava com as duas mãos, deitado. Parecia um rifle, eu ficava com pinta de soldado ou guerrilheiro em ação na Ásia, África ou América Central. Também usava óculos escuros. Mas era bom: sem querer, afastava estranhos e mal-criados.
Entrei na cidade de San Justo de La Vega. A inspiração da estrada, a alegria proporcionada pelo povo e pelo buzinaço e a presença do francês me mantiveram energizado. Passei pelo asfalto concentrado, no ritmo. Tinha que chegar em Astorga. Quando cheguei à cidade, vi umas mesas na calçada de um bar com um pessoal trintão e quarentão se preparando para fazer alguma brincadeira. O francês devia ter passado por lá minutos antes. Acertei o ritmo e passei ao lado do pessoal, com pinta de força de ocupação. Nenhuma brincadeira. Infelizmente, há pessoas que não valorizam os peregrinos e, felizmente, há também aqueles que nos recebem bem e nos animam.
Segui em frente, concentrado, e percebi uma nova sensação. Eu não tinha sido agressivo ou pretensioso, apenas não permiti qualquer insinuação. Passei por eles atento, a percepção muito aguçada. Nada aconteceu. A energia à minha volta era tão grande, que não precisei mudar a minha postura. Deus estava comigo no caminho. Em todos esses quilômetros já percorridos, ninguém mexeu comigo.
Ao entrar em Astorga, enfrentei uma avenida comercial e industrial. Nenhuma árvore. Nenhuma sombra. Cheguei a um espanhol, que se dirigia ao seu carro, e perguntei sobre a Plaza San Bartolomé. Ele disse que ficava mais ou menos perto. Vendo que eu estava exausto, riu e disse que me levava. Foi simpático e solidário. Mais uma vez, estava quase do lado oposto ao que deveria. Fomos conversando sobre futsal. No povoado, há dois anos, havia um time de futsal com alguns brasileiros. Ele me deixou no hostal e seguiu.
Meus pés precisavam de descanso e eu, de um bom banho. Estava em Astorga, faltavam ainda 264 quilômetros dos 800 do caminho francês. Tomei um banho, fiz curativos nos pés, havaianas calçadas, dei uma rápida olhada no que dava para ver, jantei e fui para o quarto. A cidade era como outras tantas em que estive no caminho. Algumas praças, muitos bares, charme nas construções e, de resto, era melhor eu descansar. Ao longe, algumas batidas de música eletrônica, gritos de meninas e de um apresentador. Alguma festa em um bar na rua atrás do hostal. O dia tinha sido tão cheio de emoções, tanta coisa acontecendo... Me mediquei e dormi. Queria acordar cedo e seguir o caminho, surpresas certamente me alcançariam.

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