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Encontros e desencontros do Caminho - Final do Capítulo 5 e Capítulo 6 - 1a. parte

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Autor Fernando Tibiriçá

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 2/4/2006 8:16:49 PM


Vaidade e orgulho impediram que os mestres se juntassem. Os possíveis patrocinadores se assustaram com as artes marciais e tudo ficou para o futuro.

Mesmo assim, em 80 promovi a Taça Presidente da República de Karatê. Contei com a ajuda da Transbrasil para transportar os atletas de todo o país. O Exército cedeu espaço para hospedagem no quartel da Polícia do Exército, em São Paulo, e o Clube Atlético Paulistano ofereceu o seu ginásio, na rua Colômbia, para a realização do torneio. A TV Bandeirantes transmitiu o evento com a narração de Galvão Bueno. O campeão foi o carioca Ronaldo Carlos. Foi um acontecimento memorável com atletas que estavam entre os melhores do mundo. Naquele momento, à frente do Brasil, tínhamos a Inglaterra e o Japão. Essas são as minhas agitações no meu caminho.

Capítulo 6

Acordei, tomei café e fui para Puente La Reina, onde alguns dos cinco caminhos se juntam e se tornam um único. Fiquei numa pousada/hotel e conheci uma igreja maravilhosa, Igreja do Crucifijo. A cidade é encantadora, mas eu tinha que cuidar de uma unha que estava para cair, roupa para lavar e bolhas no pé para estourar. E anda para cá e anda para lá. Fotografa aqui e fotografa ali. O negócio era dormir e ir para Estella. Que surpresas teria no caminho?

Acompanhei o ziguezague por conta das obras na carretera N-111, que vem me acompanhando há muito tempo. No trecho entre Puente La Reina e Estella as máquinas devoravam montanhas e o caminho acabava sendo alterado. Placas pediam desculpas e avisavam sobre riscos nos trechos de obras. Com isso, o caminho ia sempre mudando, o trecho plano ganhava escadas, terra batida e escorregadia, o caminho reto agora tinha curvas e, com isso, o cansaço se tornava maior. Acho que são poucos os dias no Brasil em que faz calor tanto quanto no verão espanhol.

A indecisão me fez caminhar pela auto-estrada, pela carretera N-111, onde é preciso andar super atento porque o acostamento é mínimo e os carros, motos e caminhões passam como se estivessem numa prova de corrida. Máquinas possantes e modernas. De vez em quando, meu chapéu, tipo australiano, voava. Quando os caminhões se aproximavam, o chão tremia. Felizmente, ninguém me acertou. De duas, uma: ou são bons motoristas ou meu anjo Rochel é mesmo muito forte e estava atento o tempo todo. Aposto na segunda hipótese.

Num determinado momento pensei em pegar uma estradinha paralela para sair um pouco da carretera: o caminho dos peregrinos era impossível de identificar. Olhei para a estradinha e já ia entrando nela, quando vi o que seria um potrinho com pêlos grandes. Parei para olhar e reparei que a cauda não era de um eqüino. Era um cão dos Pirineus ou pastor Kuvacs (Hungria) ou uma mistura dessas raças. Ele era enorme para um cachorro. Para minha tranqüilidade, o animal estava num cercado grande e compatível com o seu tamanho. Só que ali havia um galpão que não me permitia ver se esse cercado tinha ou não tinha um portão. Perto, deitado na estradinha, preso por uma corrente, também havia um pastor alemão. Ele me acompanhava e acho que tinha notado a minha indecisão em relação ao caminho.

Logo, vindo do outro lado da estradinha, chegou uma pick-up e os dois cães começaram a latir carinhosamente para o dono. Eu estava no território deles, cães e dono. Tratava-se de uma área de caça, ou seja, eles eram cães de médio e grande porte acostumados a abaterem animais. Acabei me decidindo pelos caminhões, motos e carros e mais a proteção do meu anjo da guarda.

Quando cheguei à Estella procurei um lugar para me hospedar, tomar um banho e descansar, seguindo as sinalizações do caminho que, em geral, nos levam até a parte central da cidade ou da aldeia onde se está chegando. Parei na frente de uma igreja e os sinos começaram a tocar. Subi uma escadaria e vi a placa com o nome da igreja – São Pedro de la Rua – igreja do século XII. Dentro, senti a paz que eu queria.

O cansaço passou e a missa começou, a igreja semi-cheia, semi-vazia. Todas as igrejas, no Caminho de Santiago, têm missas para seu povo e para os peregrinos, quase sempre às 8h da noite. Uma ação de fé impressionante. São poucos jovens presentes, muitos adultos e velhos, homens e mulheres. E o altar, as imagens, tudo traz uma paz muito especial. O silêncio é absoluto e a voz do padre falando com respeito atinge a todos. Comunguei e chorei discretamente. Estava suado e cansado, mas me sentia respeitado e visto com carinho por todas as pessoas. Na hora de se cumprimentar os peregrinos são calorosamente festejados. Todos desejam um bom caminho para aqueles que estão no Caminho. É como se os peregrinos pudessem transportar aqueles momentos para todos que estão no Caminho e também para as suas casas.
Podia sentir ali o amor verdadeiro, autêntico. As orações vêm de dentro do coração. As orações cristãs estão sempre no plural, mas muitos, talvez egoístas, não se dão conta, não percebem que devemos orar não por nós mesmos, mas por todos nós. Neste momento, em que compartilhamos palavras especiais, somos premiados com o sopro do Espírito Santo. Lealdade, dignidade e solidariedade são essenciais. Nos dias de hoje, as pessoas que praticam estas três palavras são consideradas muito sérias, conservadoras ou caretas. Quem é alguma coisa verdadeira se não for leal, digno e solidário? Como cobrar algo dos outros se você mesmo não for praticante, se não tiver essas qualidades?

Saí da igreja e vi uma placa indicando um hotel perto de uma plaza de toros. Fui caminhando - não via táxis - além disso, mais dois ou três quilômetros para quem estava andando há tanto tempo... Chegando ao hotel o dono me disse completo, ou seja, o lugar estava lotado. Só que o completo, muitas vezes, vem com uma dose de desconfiança e desinteresse pelos peregrinos. Logo indicam albergues, pensões ou hospedarias.

Não agüentei e disse que muitos peregrinos cumprem suas respectivas jornadas e, ao anoitecer, querem um pouco de conforto. E muitos podem pagar por esse conforto. O dono ficou sem graça, pediu desculpas, ligou para um hotel um pouco afastado e garantiu um lugar para mim. Eu teria que aguardar na cafeteria do hotel pela chegada de um carro, que viria me buscar. A essa altura já estava escuro e, portanto, não dava para caminhar. Na realidade, o hotel onde eu dormiria ficava em Ayegui, um outro departamento, outra região.

Fui à cafeteria, pedi um suco e um misto quente. Televisão ligada, jogo da Espanha contra a Bósnia. Comecei a curtir uma vitória da Bósnia, queria torcer contra o time de todo mundo. Mas a Espanha fez um a zero, o pessoal vibrou e eu ali, comendo o misto, que era horrível. Quando faltam 15 minutos para o jogo acabar, a Bósnia empata. A cadeira me segurou e o misto cimentou a minha boca. Livrei-me de uma boa: a Espanha precisava ganhar e empatou. O táxi chegou, fui embora. O Caminho me salvou.

Chegando ao hotel, bem afastado, arejado, pude relaxar e tomar um maravilhoso banho de banheira. Antes, porém, um pequeno desastre. A recepcionista me mostrou um quarto e eu, cansado, imediatamente liguei o ar-condicionado que não agüentou e explodiu. Acho que as nossas energias não se bicaram; a minha energia, a mil, de felicidade, e a dele, do ar-condicionado, fraquinha, não suportou.

Minhas pernas e meus pés ainda estavam doloridos.
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