Escravos da Liberdade.

   

Autor Paulo Salvio Antolini

Escravos da Liberdade.

            Acredito que este título não tenha nada de original, assim como o conteúdo deste artigo poderá recordar algumas pautas de conversas que já ocorridas em diversas situações ou épocas.

            Cada vez mais temos nos deparado com pessoas que, diante de várias opções, sentem-se presas, não conseguem escolher. A dificuldade para se definir parece ser maior do que elas mesmas.

            Desde a nossa infância, vamos testando nossos limites, experimentando para saber até onde podemos ou não chegar. E nesta busca de exploração dos nossos limites e possibilidades, sofremos muitas "broncas" e repreensões, ou até mesmo surras. E aqui já inicia o que poderá se tornar um fator de bloqueio e temerosidade para nos arriscarmos durante nossa existência. Não me refiro a riscos ameaçadores, onde a própria vida está em questão, mas às possibilidades de dar ou não resultados, dar certo ou não, enfim, de termos respostas para nossas ações mais ousadas.

            Diferentemente daqueles que decidem mas não agem, algumas pessoas sentem-se mesmo impossibilitadas para fazer a opção. Tudo atrapalha, tudo serve de pretexto para a não escolha. Instala-se um mal estar, uma insatisfação, uma sensação de sufocamento, isso mesmo. É como se a pessoa estivesse sendo estrangulada, tendo seu pescoço apertado; falta-lhe o ar, a respiração é estreita. Tudo isso é real e intenso.

            Termos a liberdade e não a utilizarmos a nosso favor. E aqui vai algo que pode polemizar: TUDO PODEMOS, mas nem tudo DEVEMOS. Poder, no sentido de fazer e não no sentido de ter direito de fazer. Um homem pode matar o outro, mas não tem esse direito. Encerrando a possibilidade da polêmica, o homem não pode matar, mas mata.

            Quando acordamos, podemos levantar ou não, trabalhar ou não e assim por diante. Se queremos ficar na cama, não ir trabalhar é um  direito nosso, embora não significa que devamos  fazê-lo. E então nos lembramos de que tudo em nossa vida é conseqüente. Pronto. Agora fica mais fácil entender porque é tão difícil para muitos usar da própria liberdade. Porque todos os seus atos e decisões gerarão conseqüências, que na maioria das vezes, não se quer assumir.

            Mas às vezes estas pessoas passam a vida toda sem perceber que, mesmo não optando, não utilizando do direito de comandar sua própria vontade, estão respondendo por isso. Apenas não estão sendo felizes. O preço é até mais alto. A mulher não enfrenta o marido por temer que ele reaja negativamente, porém passa a vida toda engolindo o que a incomoda muito e após muitos anos, um dos dois resolve sair da relação. "Perdi toda minha vida", expressão comum dos que têm dificuldade em assumir o direito de usar da liberdade que possuem. Enfrentar não significa brigar, espancar, mas ter um diálogo franco, aberto e dirigido para o foco do problema, não permitindo que ameaças ou chantagens impeçam de se chegar a uma conclusão. Não aceitar esse tipo de manipulação é um dos primeiros passos para tornar a relação sadia e madura.            

            Há um termo muito usado, "desencanado", que significa que a pessoa é "cabeça fresca", não se preocupa com as coisas. Mas as pessoas "desencanadas" que tenho conhecido, na verdade apenas não se "pré-ocupam", ou seja, não se ocupam com a possibilidade de que algo vá acontecer por antecedência. São pessoas responsáveis, sim, mas que exploram muito bem a liberdade de decidir como viver.

            A manifestação da felicidade através da alegria, da cordialidade, do sorriso fácil, para muitos é considerada inconseqüência. Mas saibam que encarar a vida de forma suave não tira seu peso ou sua responsabilidade. Apenas não sobrecarrega com preocupações desnecessárias.

            Eu mesmo vivo verificando se o que estou vivendo ou sentindo procede e se é necessária a minha preocupação. É como eliminar meu próprio pelourinho. Reflitam!

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