Eu deveria estar mais alegre! Altamente sensível e as festas de fim de ano
Autor Rosalira dos Santos
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 12/8/2017 3:04:44 PM
Não, você não deveria estar mais alegre. Para começar, porque ninguém “deve” estar alegre. A alegria é, por definição, algo que não pode ser vivido como uma obrigação. E depois porque para a maioria das pessoas, e em particular para as PAS, esta costuma ser uma das épocas mais estressantes de todo o ano. Assim, pare de pensar que deve haver alguma coisa errada com você e reconheça que estes dias tendem a deixar qualquer pessoa com alta sensibilidade profundamente estressada e saturada.
Para começar há o clima frenético que toma conta das ruas, com as pessoas se deslocando apressadas em busca das compras de Natal, enchendo lojas e shoppings centers. Estes ambientes, já normalmente hiperestimulantes, têm o seu acúmulo de estímulos levado a extremos inacreditáveis com a exagerada decoração natalina, as luzes piscantes das gigantescas arvores de Natal, o barulho causado pelas multidões que se acotovelam pelos corredores e, ainda, as crianças hiperexcitadas, em longas filas, à espera de sentar-se por alguns minutos no colo do Papai Noel, enquanto são fotografados repetidas vezes pelos pais. Tampouco adianta evitar os shoppings, pois o que encontramos nas ruas, sejam de comercio ou não, é o mesmo clima de agitação e ansiedade, com todos parecendo buscar “aquilo” que fará com que esta época corresponda às expectativas culturais colocadas sobre ela.
Há, ainda, a demanda gerada pelas (muitas vezes incontornáveis) confraternizações entre colegas de trabalho. Mais uma vez nos encontramos em um ambiente hiper, hiper, hiper (por acaso, existe uma palavra mais forte?) estimulante: os restaurantes superlotados e barulhentos onde acontecem, simultaneamente, várias confraternizações. Como PAS você não pode deixar de sentir-se oprimido(a) por ambientes como esse. E, talvez mais ainda, pelo artificialismo da situação, na qual pessoas que convivem mal durante o ano inteiro aparentemente se reconciliam em nome do “espírito natalino”. E nem quero falar do inacreditável ritual do “amigo secreto”…
Como se nada disso bastasse temos que conviver, também, com a pressão do tempo para dar conta dos nossos compromissos diários e cumprir com as obrigações familiares, que podem incluir desde os esperados presentes até a presença na ceia de Natal com a família. Em que pese o amor que todos sentimos pela nossa família, é necessário dizer que, em muitos casos, esta é uma daquelas ocasiões em que, seja pelo fato de estarem todos reunidos, seja pela (des)repressao provocada pela bebida, os velhos conflitos e os temas mal resolvidos (incluindo você e a forma como os seus parentes costumavam encarar a sua sensibilidade) vem à tona. Enfim, para as PAS – que em sua maioria colocam um valor muito alto em viver de forma autêntica – toda essa pressão por uma demonstração artificial de felicidade pode ser sentida como uma experiência bastante perturbadora.
Certo. Mas, porque só eu sou assim?
Não, não é apenas você que é assim. À parte o fato de que somos algo em torno de 20% da população mundial, a verdade é que sentir-se afetado pela peculiar mistura de ansiedade e melancolia que caracteriza esta época não é algo exclusivo das PAS. Basta ver como os índices de suicídio aumentam dramaticamente neste período. Seja por solidão, seja pelo sentimento de frustração pelos sonhos não realizados, seja pela mera consciência da passagem do tempo, o fato é que para muita gente as luzes e o colorido da festa escondem (mal) uma dor, que se torna mais aguda pelo contraste entre ela e a expectativa do que deveria ser este período de festas.
O que me parece típico das PAS, além da saturação causada pelos estímulos desenfreados que tratamos acima, é o fato de que, como pessoas com um alto nível de empatia, não podemos deixar de captar toda a overdose de sentimentos típicos desta época do ano. Assim, sentimos não apenas a aceleração e a agitação que caracterizam estes dias, mas também a tristeza e a depressão daqueles que se sentem mal durante esta época. Não me entenda mal, como disse creio que o “clima de fim de ano” afeta todas as pessoas, para o bem e para o mal. O que acontece conosco é que, devido as características do traço – como a já citada empatia e a capacidade de processar toda informação em profundidade – sentimos mais intensamente os efeitos deste tempo. E corremos o risco de assumirmos como nossas dores e angústias que, simplesmente, estão no ar, compondo a paisagem psíquica deste momento.
Com tudo isso não é de estranhar que cheguemos ao final do ano saturados e exaustos, com uma vontade imensa de ficarmos em casa e nos refugiarmos no nosso mundinho. Acontece, porém, que muito poucos de nós têm a segurança e o autoconhecimento necessários para estabelecer uma negociação saudável entre a nossa sensibilidade e as expectativas sociais. O mais comum é que nos sintamos presos entre recusar os convites e o excesso de atividades (e nos sentirmos culpados e julgados como antissociais) ou atendermos a todas as demandas e sofrermos as consequências do excesso de estimulação.
E então? Como posso lidar com tudo isso?
Ah, ah, é claro que eu não sei. Lamento, mas não tenho a fórmula secreta de como sobreviver as festas de fim de ano, sendo PAS. Tudo que posso fazer é recolocar a questão como uma forma de aprofundar a sua (e a minha) reflexão. Talvez não se trate de sobreviver à esta ou àquela época específica, mas sim, de como equilibrar nossa vida, de modo a fazer justiça à nossa sensibilidade, sem usá-la como desculpa para nos escondermos do mundo. Penso que a resposta é individual e depende da personalidade e das circunstâncias de cada pessoa altamente sensível. Mesmo assim, baseada na minha própria experiência e naquilo que a dra. Aron chama de abordagem revolucionaria das festas e feriados, gostaria de me aventurar a sugerir alguns poucos passos que, penso, podem ajudar na busca desse equilíbrio.
Comece se perguntando sobre o significado que têm, para você (e só para você), as festas de fim de ano. Sente-se num local tranquilo, feche os olhos e respire profundamente procurando conectar-se com a sua verdade interior. Cale o ruído externo por um momento e pense:
Qual o verdadeiro significado destes dias para mim? Tem a ver com dar e receber presentes? Com estar perto da família e reafirmar meu amor pelas pessoas queridas? Com a celebração religiosa? Com seguir uma tradição cultural? Com celebrar a vida e assimilar as experiências do ano que passou? Enfim, onde meu coração encontra o sentido dessa data?
Como desejo celebrar? Uma vez que você tenha estabelecido o sentido que estes dias têm para você, se torna mais fácil perceber o que verdadeiramente deseja fazer neste período. Aquilo que efetivamente lhe trará contentamento, pois guarda correspondência com os seus valores.
Agora que você já decidiu como deseja passar os dias de festa, faça um planejamento, buscando um equilíbrio entre as atividades que respondem aos seus desejos e necessidades e aquelas que você também gostaria de fazer, mas somente como uma maneira de agradar a uma (ou mais) pessoa querida. Apenas tenha em mente que suas necessidades e seu equilíbrio interior são importantes demais para serem empurrados para o segundo (ou último) plano.
Pare de se cobrar. Nem tudo tem que sair absolutamente perfeito. Elimine os excessos e mantenha o foco naquilo que é importante. No final das contas, os presentes, a decoração e as comidas são apenas símbolos. Maneiras que encontramos celebrar a presença das pessoas queridas em nossa vida. Vale mais estarmos abertos a esse sentimento do que mal conseguirmos nos conectar de tão esgotados que ficamos na tentativa de fazer tudo perfeito
Não digo que nada disso seja fácil. Muito pelo contrário, é mais fácil se deixar levar pelo frenesi do final do ano e aguentar o tranco. Mas à que preço? Por isso, se o seu desejo viver esse tempo de festas como algo positivo para você e para aqueles que você ama, ofereço-lhe algumas dicas práticas na esperança de algumas delas possam lhe ser úteis.
- Inclua um tempo na sua agenda para se recuperar
- Faça do sono uma prioridade
- Procure manter a sua rotina
- Monitore a ingestão de cafeína e açúcar
- Respire
- Desconecte-se para liberar a tensão
- Comunique sua necessidade de um tempo de descanso
- Priorize a qualidade sobre a quantidade
Espero que estas dicas lhe sejam úteis. Ou, se não forem, espero que você desenvolva suas próprias estratégias para lidar com o estresse de fim de ano. Mas, o que desejo de verdade é que você tenha um final de ano que respeite a sua sensibilidade e satisfaça os seus valores mais profundos.
Desejo-lhe boas festas à moda PAS. Nos vemos em 2018.
E, caso você pense que o começo do ano é um bom momento para aprender a equilibrar melhor a sua alta sensibilidade, conheça o meu programa de coaching para pessoas altamente sensíveis. Quem sabe não iniciamos o proximo ano trabalhando juntos(as)?
Beijos e bênçãos,
Rosalira
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Life Coach, especializada em Pessoas Altamente Sensíveis (PAS). Criadora do "Programa Ame sua Sensibilidade". Apaixonada por mitologia, religiões antigas, gatos, florais e fotografia. Mas, acima de tudo uma PAS, como você. Para saber mais sobre a alta sensibilidade, visite meu site: www.amesuasensibilidade.com.br E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |