Famílias materiais e famílias espirituais
Atualizado dia 6/29/2016 10:58:01 AM em Autoconhecimentopor Adriana Garibaldi
Costumamos ouvir muitos relatos a respeito de famílias nas quais os vínculos foram quebrados com o passar do tempo, ficando poucos elos de união entre pais, filhos ou irmãos.
Existem famílias materiais e famílias espirituais e sabemos que somente os laços de afeto, que pertencem a um mesmo grupo de espíritos afins, são capazes de perdurar além da matéria.
Na vida espiritual, os espíritos provenientes dessas famílias se congregam em torno do amor que atrai uns aos outros, em função da mútua afinidade de sentimentos.
Na esfera física, no entanto, a maior parte dos envolvimentos familiares representam ligações cármicas que precisam ser reformuladas e transformadas e isso sera possível pelo desejo sincero de cada membro do grupo, quando capazes de aproveitarem a oportunidade que a convivência lhes possibilita, transformando inimigos do passado em amigos do futuro.
Às vezes, isso é possível, outras vezes não.
Como pais, damos aos nossos filhos um corpo carnal, com seus componentes genéticos. Damos também afeto, proteção, educação, cuidados na infância, medicação e assistência quando enfermos, e fazemos tudo isso por amor, realizando o melhor, que nossa condição evolutiva ou maturidade emocional nos permita. Contudo, não está em nossas mãos despertar neles uma afeição verdadeira para conosco. Sentimentos de verdadeiro amor somente acontecem quando existe um vínculo afetivo espiritual. Mesmo nos esforçando em conquistar o apreço naqueles seres, isso independe, na maioria das vezes, de nossas ações.
Costumamos ouvir frequentemente, nos últimos anos, mães com a mesma queixa, referindo-se à sua relação de conflito com filhos ou filhas dizerem: "É assim mesmo que acontece, só muda o endereço"...
Uma grande verdade... só muda o endereço, o processo de indiferença e rejeição com respeito às mães principalmente, costuma ser semelhante. Sem dúvida, os vínculos de afeto, se em algum momento existiram, na época da infância dos filhos, foram dando lugar a uma frieza cortante, e até a uma agressividade incompreensível, principalmente para com a figura materna, talvez por ela representar de forma arquetípica, o esteio que sustenta uma unidade familiar que eles renegam.
Por que a agressividade, notadamente, em relação à mãe?
Para a psicologia freudiana, provavelmente porque, afinal, a mãe sempre é considerada culpada pelos problemas psicológicos dos seres humanos. Não se vendo tudo aquilo que como mães proporcionaram a seus filhos em matéria de dedicação e desvelado amor, no transcurso de suas vidas.
Aprofundando ainda mais no assunto, entendo que quando por trás dos vínculos de sangue se carece de uma comunhão espiritual, a família representa uma reunião de pessoas estranhas umas das outras, congregadas somente em função de processos cármicos, em que lares assemelham-se a um campo de batalha, onde dificilmente se encontra um propósito significativo que o sustente e aglutine, impedindo de continuarem a se relacionar a não ser por uma obrigação imposta pela sociedade, ou por interesses individuais que cessam com o tempo.
Por que essa atitude de indiferença e revolta recai habitualmente sobre a figura materna?
Talvez por significar ela o veículo mais palpável pelo qual aquela criatura foi chamada a se integrar a uma família que lhe é antagônica.
Sem dúvida, somos capazes de escolher nossos amigos, e eles podem representar para nós, afeições muito mais verdadeiras e genuínas que aquelas que, como mães, acabamos, sem resultado nenhum, impondo a nossos filhos.
Não se percebe que obrigação ou imposição não tem nada a ver com amor. Sem dúvida, como mães, podemos exigir respeito, mas o amor, ou o desamor, infelizmente não está em nossas mãos, e sim, no componente espiritual ou na falta dele.
Quando existe um vínculo de alma, o desejo de estar próximo, de conversar, de se relacionar, de querer saber do outro, torna-se espontâneo e não precisa ser cobrado nem imposto.
Muitos podem pensar que exista algum motivo ou justificativa para filhos distantes, e pensa-se que provavelmente essa causa esteja no presente, por muitos atos falhos praticados pelos pais. Mas, na maioria das vezes, esses motivos não existem ou não na gravidade que se lhes adjudica.
Se investigássemos a fundo aquela mãe, ou pai, veremos que fizeram o melhor que podiam, dentro da sua condição, naquele momento. Tiveram dedicação aos filhos, muitas vezes trabalhando e se esforçando ao máximo para que não lhes faltasse nada, suprindo as necessidades materiais e emocionais da família.
Então, conclui-se que pode existir duas hipóteses para isso.
A primeira, como falei antes, por haver um componente passado que desconhecemos, e a segunda porque a vida fez, à guisa de prova, com que pessoas que não são espiritualmente afins sejam obrigadas a se reunir a revelia, debaixo de um mesmo teto, e isso cria um estado de tensão e revolta instintiva.
Sem a existência de uma vida pregressa, realmente é difícil encontrar alguma explicação convincente para esse quadro que parece, com o passar dos anos, se agravar cada vez mais na sociedade familiar.
Recorrendo ao Evangelho lemos:
Estava Jesus sentado à roda de um crescido número de gente, e lhe disseram: Olha que tua mãe e teus irmãos te buscam aí fora.— E ele respondeu, dizendo: Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos? — E olhando para os que estavam sentados à roda de si: Eis aqui, lhes disse, minha mãe e meus irmãos. Porque o que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã e minha mãe. (Marcos, III: 20-21 e 31-35 – Mateus, XII: 46-50).
Afinal, quem pronunciou essas palavras? Jesus o homem ou Jesus o Cristo? Para Jesus, o homem, seguramente aqueles seres que procuravam por ele no portão eram de fato seus parentes mais próximos e segundo a carne sua família. Mas para Jesus o Cristo, o Messias, o enviado de Deus, eles eram pessoas unidas a ele por laços de sangue, mas não, sua família espiritual de fato, ao qual seus discípulos pertenciam, nas palavras do Mestre, por fazerem a vontade do Pai que está nos céus. Sabe-se que seus irmãos, conforme a carne, o rejeitavam e não confiavam nele.
Quem são nossos filhos, nossas mães, nossos pais, nossos netos?
É necessário fazer-nos essa pergunta?
Eles são verdadeiramente nossa família, no sentido espiritual? Ou provas duras que somos obrigados a travar com nosso pretérito de muitas e muitas vidas sucessivas?
Neste caso, então, qual é o caminho?
Fazermos a nossa parte, o nosso melhor, sem esperar que vínculos fadados a se transformarem fatalmente em pó, possam ser confundidos com verdadeiros vínculos espirituais.
Ligações para a vida eterna.
Pensemos nisso.
Texto revisado
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