Fora da caverna



Autor Alex Possato
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 8/17/2012 9:45:58 AM

Os anos se passaram, minha barba cresceu, e a vida continuava um saco. Dentro da caverna. Ligava o rádio, e sempre me diziam: cuidado! Perigo! Previna-se! Quando tentava buscar uma saída da caverna, aparecia um vendedor de seguro de saúde, dizendo o quanto havia perigo de adoecer. Comprava o seguro, e então ligava para o gerente do banco, verificando meu saldo: veja, faça este plano de previdência privada! Nunca se sabe o dia de amanhã! Nos finais de semana, ia lá pro fundão da caverna, onde a gente se reunia pra rezar, pedindo pra Deus uma vida melhor, depois de morrer. A vida passava. Algumas pessoas foram morrendo. Não sei se encontraram Deus - nunca voltaram pra contar. O casamento acabou. A empresa fechou. O gerente foi demitido. O seguro venceu. E comecei a perceber que, apesar de tudo isso, e da barba começar a ficar branca, eu continuava lá. Do mesmo jeito. Cheio de vontade e tesão. Mas preso. Um dia, na escuridão da noite (se é que existe noite no fundo de uma caverna), peguei minha mochila, juntei algumas poucas coisas, e saí... pé, ante pé. Andei léguas intermináveis. Desviava-me de todos, pois sabia que qualquer um que encontrasse iria tentar me barrar. Dizer que eu era louco. Que não sabia o que estava fazendo. Iriam falar da minha irresponsabilidade. Por isso, andava nas sombras. Aos poucos, comecei a sentir uma brisa agradável penetrando a narina, me embriagando, entorpecendo minha mente e acendendo o meu corpo. Uma luz brilhava intensamente lá na frente. Era tanta luz, que fiquei cego, e por alguns segundos, temi. Fiquei com medo. Quis voltar. Mas não havia volta. Eu estava embriagado. Minhas pernas trôpegas teimavam em andar... para frente. E o que vi, compensou tudo o que eu havia vivido até então... O paraíso me arrebatou, com seus braços macios e seus beijos doces e molhados. Continuei. Saí. Andei sem rumo. Me perdi. Não preciso de mais nada. Estou perdido. E tudo bem. Até comecei a reparar que existem outros. Andando feito bobos alegres. Pulando, sem nada nas mãos, sem posses... sem nada. Só alegria.
Não havia perigo. Ninguém queria me ferir. A vida era fácil, as pessoas honestas. O trabalho era suave, havia amor e justiça. Todos estavam nus.
Que mais eu poderia querer?
Bem... Uma morena me olhou. E eu olhei para ela...
Alex Possato é facilitador de constelação sistêmica, consultor de comunicação/imagem pessoal e profissional e escritor. Confira seu trabalho no site Expressão do Ser, clicando aqui!









Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |