Frentes Frias - Alimento Quente
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Autor Merit Rabanés
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 5/4/2008 1:11:34 PM
Tem um programa na capital de São Paulo, para acudir as pessoas que moram nas ruas sempre que a temperatura descer a 13ºC, chamado "frentes frias".
Os encarregados param viaturas e vão convidando um a um a ir para um abrigo. Depois essas pessoas podem voltar aos seus "lugares".
O senso comum quer saber porque essas pessoas não ficam definitivamente nesses abrigos, trabalham durante o dia, voltam lá à noite ou a hora que quiserem - como se fora sua casa -, deixando assim de se submeter às intempéries do tempo.
Por que o governo não investe mais nesses abrigos para os adultos e para as crianças?
Acompanhei de perto os trabalhos filantrópicos dos espíritas e com eles aprendi que a maioria dessas pessoas não quer submissão aos abrigos. Querem a liberdade que têm nas ruas. É um direito que lhes assisti, que nos constrange e infelicita, mas é seu direito, é o seu livre arbítrio que deve ser respeitado.
Aquelas que querem uma vida mais convencional, quando lhes é oferecida uma oportunidade, fazem de tudo para abraçá-la.
Alguém me pergunta se, dependendo dos motivos que levaram alguém a ir para as ruas, ela será castigada depois da desencarnação.
Depois de tudo o que aprendi, sei que ninguém é castigado por nada. É nossa própria consciência que nos leva ao cumprimento das leis, que na maioria das vezes chamamos de castigo, justamente por não saber/entender que estamos passando por algo que já fizemos outro passar.
Mas se essas pessoas não querem ajuda, o que o governo deve fazer? Continuar oferecendo abrigo, comida e trabalho. Raras são as pessoas que não podem fazer qualquer coisa digna para ganhar dinheiro.
Se essas pessoas não querem ajuda, porque os espíritas e outras sociedades religiosas teimam em lhes oferecer alimentos, satisfazendo talvez aos seus egos místicos? Porque não se trata apenas de fingir que está ajudando. Principalmente os espíritas sabem que estão sendo avaliados e não adianta estar por obrigação ou má vontade num lugar e para fazer algo que exige vários atributos.
Não adianta chegar perto de uma pessoa de rua, que fede por motivos óbvios e lhe oferecer um prato de sopa com cara de nojo.
Não adianta tentar ouvir os problemas dela com cara de quem quer sair dali correndo.
Não é só o oferecer comida a ação benemérita dessas pessoas, que conta. É o exercitar a simplicidade, a humildade, a compreensão. É aceitar que alguém não consegue tomar banho como vc toma e não tem os perfumes que você tem. É aceitar o sorriso amarelo, banguelo daquele que mal tem dinheiro para comer, quanto mais para se tratar, sem expressar nas feições a incredulidade ou o assombro.
Não se deve mandar alimentação para um povo que sofreu com os espasmos da natureza, apenas. Deve-se enviar alimentos para todos os povos que sofrem de fome até que ela deixe de existir.
Desnutridos não poderão trabalhar. Acompanhados por médicos de boa formação, todo aquele que poderia estar estudando (aprendendo a ler, a escrever e a desenvolver suas habilidades) ou trabalhando, poderá ter saúde para tanto.
Mas nós só nos lembramos do agasalho velho no inverno.
Só damos comida a quem nos vem pedir.
Não se trata apenas de egoísmo, e sim de medo. A violência é crassa, ninguém quer abrir as portas de sua casa para alguém desconhecido que pede qualquer coisa. Eu gostaria, mas não consigo. Tenho medo. Medo de várias coisas.
Por isso há muito tempo não dou esmolas. Sigo o ensinamento do metrô de São Paulo, que diz que é melhor procurar uma instituição idônea e fazer doações. Esmolas incentivam o banditismo que usa crianças com seus olhares pidonhos para nos comover.
Vamos causar calor no frio? Vamos alimentar de alguma forma àqueles que precisam e estão mais próximos de nós?
Vamos ao menos tentar?
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