GRANDE DRUMMOND...
Atualizado dia 5/13/2006 11:57:02 PM em Autoconhecimentopor Fátima Rodrigues Graziottin
Concretizou seus estudos em Belo Horizonte e, neste mesmo local, deu início à sua carreira de redator na imprensa. Seus poemas abordam assuntos do dia-a-dia e contam com uma boa dose de pessimismo e ironia diante da vida. Em suas obras há, ainda, uma permanente ligação com o meio e são obras politizadas. Além das poesias escreveu diversas crônicas e contos.
Os principais temas retratados nas poesias de Drummond são o conflito social, a família e os amigos, a existência humana, a visão sarcástica do mundo e das pessoas e as lembranças da terra natal.
Dentre suas obras poéticas mais importantes destacam-se: "Brejo das Almas", "Sentimento do Mundo", "José", "Lição de Coisas", "Viola de Bolso", "Claro Enigma", "Fazendeiro do Ar", "A Vida Passada a Limpo" e "Novos Poemas". Talentoso também na prosa, tem-nas reunidas nos seguintes volumes: "Confissões de Minas", "Contos de Aprendiz", "Passeios na Ilha" e "Fala Amendoeira". Em 1980 lançou "A Paixão Medida" que contém 28 poemas inéditos e "A Falta que Ela me faz" (crônicas e histórias).
Faleceu em 17 de agosto de 1987, no Rio de Janeiro, doze dias após a morte de sua filha única.
O AMOR ANTIGO
O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.
O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.
Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.
Mais ardente, mais pobre de esperança,
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.
CONSIDERAÇÃO DO POEMA
Não rimarei a palavra sono
com a incorrespondente palavra outono.
Rimarei com a palavra carne
ou qualquer outra, que todas me convêm.
As palavras não nascem amarradas,
elas saltam, se beijam, se dissolvem,
no céu livre por vezes um desenho,
são puras, largas, autênticas, indevassáveis.
Uma pedra no meio do caminho
ou apenas um rastro, não importa.
Estes poetas são meus. De todo o orgulho,
de toda a precisão se incorporam
ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius
sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo.
Que Neruda me dê sua gravata
chamejante. Me perco em Apollinaire. Adeus, Maiakovski.
São todos meus irmãos, não são jornais
nem deslizar de lancha entre camélias:
é toda a minha vida que joguei.
Estes poemas são meus. É minha terra
e é ainda mais do que ela. É qualquer homem
ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna
em qualquer estalagem, se ainda as há.
– Há mortos? há mercados? há doenças?
É tudo meu. Ser explosivo, sem fronteiras,
por que falsa mesquinhez me rasgaria?
Que se depositem os beijos na face branca, nas principiantes rugas.
O beijo ainda é um sinal, perdido embora,
da ausência de comércio,
boiando em tempos sujos.
Poeta do finito e da matéria,
cantor sem piedade, sim, sem frágeis lágrimas,
boca tão seca, mas ardor tão casto.
Dar tudo pela presença dos longínquos,
sentir que há ecos, poucos, mas cristal,
não rocha apenas, peixes circulando
sob o navio que leva esta mensagem,
e aves de bico longo conferindo
sua derrota, e dois ou três faróis,
últimos! Esperança do mar negro.
Essa viagem é mortal, e começa-la,
Saber que há tudo. E mover-se em meio
a milhões e milhões de formas raras,
secretas, duras. Eis aí meu canto.
Ele é tão baixo que sequer o escuta
ouvido rente ao chão. Mas é tão alto
que as pedras o absorvem. Está na mesa
aberta em livros, cartas e remédios.
Na parede infiltrou-se. O bonde, a rua,
o uniforme de colégio se transformam,
são ondas de carinho te envolvendo.
Como fugir ao mínimo objeto
ou recusar-se ao grande? Os temas passam,
eu sei que passarão, mas tu resistes,
e cresces como fogo, como casa,
como orvalho entre dedos,
na grama, que repousam.
Já agora te sigo a toda parte,
e te desejo e te perco, estou completo,
me destino, me faço tão sublime,
tão natural e cheio de segredos,
tão firme, tão fiel... Tal uma lâmina,
o povo, meu poema, te atravessa.
https://memoriaviva.digi.com.br/drummond/index2.htm
https://www.suapesquisa.com/biografias/drummond.htm
Texto revisado por Cris
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