HOJE, NO RIO DE JANEIRO
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Autor Christina Nunes
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 07/04/2011 22:50:28
Ainda há pouco meu filho veio para mim:
- Na lista de crianças mortas havia alguma Larissa?
- Por que, meu filho? - pergunto, como todo o Brasil ainda mergulhada na maior consternação.
- Porque uma amiga minha conhecia duas das meninas de lá. Uma delas se chama Larissa, e está na lista das crianças mortas...
Até onde vai a extensão de nossa impotência?
Normalmente escrevo para sites espíritas ou de auto-conhecimento, onde os temas forçosamente são mais leves, porque neles procura-se apresentar uma percepção de vida mais otimista, construtiva, não tão entregue a derrotismos e pessimismo, que é o normal quando presenciamos este tipo de hecatombe abandonados à nossa faceta mais humana. Aí, talvez que se adequasse melhor um site mais eclético.
Permitam-me, contudo, publicar neste momento a expressão desta minha faceta mais humana...
E volto a propor a reflexão: até onde vai a extensão de nossa impotência?
A extensão de nossa paciência?! De nossa esperança?! De nossa capacidade de suportação?! Mesmo sabedores da ação inefável das leis cármicas, das atrações e reações, das sintonias e propensão de colapsos de realidades a cada gesto, a cada pensamento ou ato nosso, de minuto para minuto, de vida para vida?!
Durante o dia de hoje enfileirei em minhas lembranças tudo o que já passou e motivou textos ou perplexidade de minha parte e no âmbito geral, coletivo.
E veio o cortejo assustador - alguns dos ítens ainda bem recentes, frescos em nossa memória:
- João Hélio, Gabriela Sou da Paz, o outro menininho João, daqui mesmo, do Rio de Janeiro, baleado por acaso por um policial desastrosamente atrapalhado em suas funções... A chacina da Candelária... A sobrinha neta de uma antiga empregada, executada barbaramente em Queimados... Há pouco, as duas irmãs em São Paulo...
Tantos! Tantos, bom Deus!...
E terremoto no Chile e no Japão e no Haiti... E a desastrosa enchente serrana no Rio de Janeiro... E outra ainda nos EUA, anos atrás... E no Rio de Janeiro de novo no início do ano passado... E a tsunami na Indonésia... E a tragédia da guerra no Iraque e agora em todo o Oriente Médio...
E surtos de dengue e outras epidemias mais...
E futilidades sendo divulgadas à rodo! Reallity shows deprimentes, novelas de conteúdo francamente aviltante à moral e bons costumes... E noticiários diários que são banhos de sangue e de angústia sistemáticos!
Como aliás definiu William Boner no começo de um dos noticiários das oito recente: um Circo dos Horrores!
E por mais que o silêncio seja o que melhor se imponha neste momento, frente a tantos descalabros sucessivos, no cenário do inegável apocalipse dos tempos em que vivemos, a necessidade de desabafo se impõe, diante de nosso estarrecimento, como dito... diante de nossa aparente impotência!
E aqui quero frisar: seremos mesmo tão impotentes?
Chamou minha atenção a mensagem de uma gravura postada na internet, abaixo da qual se dizia:
"O amor é a compensação da morte!..."
A Semana Santa vem chegando, e ocorre-me que Jesus sofreu uma destas grandes hecatombes, expandindo amor - este sentimento atualmente tão vilipendiado, atirado à obscuridade a sua poderosa expressão - até o seu último minuto!
E é ainda por causa desta Mensagem, mesmo após dois mil anos, que, a despeito de tudo, insistimos em ter esperança. Muitos e muitos de nós!
Sim... insistimos em sonhar e em tentar realizar, na pequenez dos nossos minúsculos atos do dia-a-dia, gestos que nutrem, aos poucos, um mundo melhor...
Vivemos, indubitavelmente, uma época-chave de escolhas!
Amor... que certamente faltou na indigência desta alma atirada à perversidade da prática deste crime hediondo - amor que, provavelmente, não lhe dedicaram de maneira acertada e suficiente, até ao fim de sua triste vida.
Amor... que agora vertemos, em lágrimas, por todas as crianças vitimizadas pela barbárie, e às suas famílias!
A luz no fim do túnel!...
Que Deus, fonte de todo o arrimo e força interior, os acalente na prova, e lhes robusteça o coração.
E nos sustente, altivos, incólumes, no bom caminho, durante a longa e eterna caminhada - a todos nós...
Rio de Janeiro, 07 de abril de 2011
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Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |