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Jung e a construção de um novo tempo

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Autor Isabela Bisconcini

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 2/12/2009 3:16:53 PM


Quando estava escrevendo sobre a criação da consciência (vide link abaixo), me remeti ao livro de Edward Edinger, analista junguiano, “A Criação da Consciência”, Ed. Cultrix, 1984, lido pela primeira vez há, talvez, 20 anos e que foi leitura que mudou – de fato – minha vida. Mas escrevi o texto de memória, não fiz nenhuma consulta ao livro, até porque ele estava no consultório. Mas, depois, chegando lá, fui consultá-lo e me surpreendi muito, mas muito mesmo. Senti uma alegria indescritível ao reler tantos anos depois passagens que foram escritas quando não se percebia nada como hoje percebemos. Jung viveu no período de 1875-1961. Suas descobertas foram "proféticas", como foram as de Einstein, Neils Bohr, Dr. Bach, Rudolf Steiner, porque vistas por muito poucos.

O que Jung disse e viveu de maneira tão solitária (como todo visionário) está sendo visto por tantas outras pessoas bem rapidamente. Vamos às frases:

“O mito da encarnação necessária de Deus (...) pode ser entendido como o confronto criativo do homem com os opostos e a síntese deles no eu: a completude de sua personalidade (...). Essa é a meta (...) que integra significativamente o homem no esquema da criação e, ao mesmo tempo, dá sentido a ela”. C. G. Jung, in Memórias, Sonhos, Reflexões.

As seguintes passagens são de Edward Edinger, sempre em "A Criação da Consciência":

“A história e a antropologia nos ensinam que a sociedade humana não pode sobreviver por muito tempo, a menos que seus membros estejam psicologicamente contidos num mito central vivo. Esse mito proporciona ao indivíduo uma razão de ser. (...) E quando a minoria criativa e intelectual está em harmonia com o mito predominante, as outras camadas da sociedade seguem sua liderança, chegando mesmo a poupar-se de um confronto direto com a questão fatídica do sentido da vida.
É evidente para as pessoas reflexivas que a sociedade ocidental já não possui um mito viável, operante. De fato, todas as principais culturas mundiais aproximam-se, em maior ou menor grau de um estado de carência de mitos. O colapso de um mito central é como o estilhaçamento de um frasco que contém uma essência preciosa: o líquido se derrama e se escoa, sugado pela matéria indiferenciada à sua volta. O sentido se perde. Em seu lugar, reativam-se os conteúdos primitivos e atávicos. Os valores diferenciados desaparecem e são substituídos por motivações elementares de poder e prazer, ou então o indivíduo expõe-se ao vazio e ao desespero. Com a perda da consciência de uma realidade transpessoal (Deus), as anarquias interna e externa dos desejos pessoais rivais assumem o poder.

(...)

“É a perda de nosso mito continente que está na raiz de nossa atual angústia individual e social, e nada, a não ser a descoberta de um novo mito central, vai resolver o problema para o indivíduo e para a sociedade. De fato, há um novo mito em formação, e C. G. Jung tinha uma aguda consciência desse fato. Certa vez, um analista junguiano teve o seguinte sonho:

“Um templo de amplas dimensões estava em processo de construção. Até onde eu podia ver – à frente, atrás, à direita e à esquerda – havia um número incrível de pessoas construindo pilastras gigantescas. Também eu estava construindo uma pilastra. O processo total de construção estava em seus primórdios, mas as fundações já estavam lá, o restante do edifício começava a erguer-se, e eu e muitos outros trabalhávamos nele.

“Este sonho foi contado a Jung que fez o seguinte comentário: “Sim, você sabe, esse é o templo que todos construímos. Não conhecemos as pessoas porque, pode acreditar, elas constroem na Índia, na China, na Rússia e por todo o mundo. É a nova religião. Sabe quanto tempo vai demorar até que esteja construída? ... cerca de seiscentos anos” (in Max Zeller, The task of the Analyst – Psychological Perspectives, primavera de 1975).

Esta passagem realmente me arrepia e me emociona muito. O texto de Zeller é de 1975, mas Jung disse isso com tranqüilidade e clareza muito antes, pois ele morreu em 1961!

Edinger escreveu tudo isso na década de 1980. Mas Jung se deu conta da carência do mito, e da crise do homem moderno (conforme nos relata em Memórias, Sonhos, Reflexões) logo após a publicação do seu livro “The Psychology of The Uncounscious”, em 1912. Vislumbrou seu novo mito ao visitar os Índios Pueblo, em 1925, no sudoeste dos Estados Unidos, e cristalizou a formulação do novo mito de modo mais explícito, ainda em 1925, quando viajou pela África.

Edinger continua:

“Jung foi um homem-marco. O homem-marco é o primeiro a experimentar e a articular integralmente uma nova forma de existência. Desse modo, sua vida assume um significado objetivo, impessoal. Torna-se um paradigma, a vida prototípica de uma nova era e, por conseguinte, exemplar. (...)

“Uma característica notável do novo mito é a sua capacidade de unificar as diversas religiões atuais do mundo. Ao encarar todas as religiões em atividade como expressões vivas do simbolismo da individuação, isto é, o processo de criação da consciência, lança-se uma base autêntica para uma verdadeira atitude ecumênica.

“Pela primeira vez na história, dispomos agora de uma compreensão do homem tão abrangente e fundamental que pode ser a base da unificação do mundo – primeiro religiosa e culturalmente e, no devido tempo, politicamente. Quando indivíduos em número suficiente forem portadores da “consciência da completude”, o próprio mundo se tornará completo.”

Bom... é verdade que depois que re-descobri tudo isso, tive que voltar ao texto do primeiro artigo e modificá-lo novamente (o texto não termina nunca!) e, ainda por cima, “tive que” fazer esse, pois não consegui deixar de compartilhar a alegria que senti ao ler estas palavras e ver como andamos rápido dos anos 1980 para cá, e como estas palavras são tão mais claras hoje em dia!!!

É sincrônico recuperar esta leitura tantos anos depois, nesse momento presente em que vivemos a urgência da transformação da consciência.

12/02/2009


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Conteúdo desenvolvido pelo Autor Isabela Bisconcini   
Isabela Bisconcini é Psicóloga Clínica e Consteladora Sistêmica. Terapeuta EMDR. Terapeuta Floral, Reiki II, NgalSo Chagwang Reiki, AURA-SOMA. Deeksha Giver. Dedicou-se por 25 anos ao estudo da psicologia budista e prática do Budismo Tibetano. Participou do Centro de Dharma da Paz desde 1988, quando Lama Gangchen Rinpoche o fundou.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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