Mito Pigmalião - Pequena Reflexão
Atualizado dia 5/22/2007 8:48:23 AM em Autoconhecimentopor Academia Mental
1. O que é a paixão?
2. O que representa a mulher para um homem?
"No tempo em que o mundo era jovem e os deuses ainda andavam na Terra, reinava na ilha de Chipre um escultor rei e rei dos escultores. Seu nome era Pigmalião. Na linguagem de nossos dias poderíamos dizer dele que era “casado com sua arte”. Ele via na mulher somente a ruína do homem. Acreditava que as mulheres desviavam os homens do caminho que lhes estava destinado.
Enquanto vivesse sozinho, era livre: não se tornava um “refém da fortuna”. Sozinho, o homem podia viver para sua arte, podia combater todos os perigos que o assaltassem, podia escapar desimpedido de todas as armadilhas da vida.
A mulher constituía a hera que se agarrava ao carvalho e o sufocava inapelavelmente. Nenhuma, jurou Pigmalião, o prenderia jamais. Por fim, chegou a odiar a mulher e livre de coração e alma seu gênio criou obras tão grandiosas que se tornou o mais perfeito escultor. Só tinha uma paixão: sua arte; e era tudo quanto lhe bastava. De grandes blocos de mármore tosco ele moldava a mais perfeita cópia de homens e mulheres; e toda essa arte parecia-lhe a mais bela e a mais digna de ser preservada.
Certo dia, enquanto lavrava e esculpia, começou a surgir de suas mãos, como esboço de um formidável retrato, a imagem de uma mulher. Isso aconteceu a despeito de sua intenção. Apenas sentia que naquele bloco de pedra de puríssima brancura parecia estar aprisionada a forma primorosa de uma mulher a quem devesse tornar livre. Ela foi surgindo lenta e gradualmente e Pigmalião viu que era a mais bela obra que sua arte tinha engendrado. Tudo o que em sua concepção uma mulher devia ser estava ali. Sua forma e semblante eram os mais perfeitos; tão perfeitos que ele ficou convencido de que, se fosse uma mulher real, mais perfeita seria sua essência interior. Nela trabalhava como nunca antes.
E veio o dia em que, por fim, sentiu que outra cinzelada mais podia alterar a obra rara que tinha criado. Depositou seu cinzel e sentou-se para contemplar essa Mulher Perfeita. Ela parecia fitá-lo na alma, seus lábios entreabertos pareciam prontos para falar, prontos para sorrir; suas mãos pareciam se estender para encontrar as dele. Pigmalião cobriu os olhos. Ele, que odiava as mulheres, amava uma de mármore frio. As mulheres que ele tinha desprezado agora estavam vingadas.
Dia após dia sua paixão pela mulher que ele próprio criara aumentava. Suas mãos não puderam mais manejar o cinzel, tornaram-se inativas. Ficava sob os grandes pinheiros, fitava o mar azul safira e devaneava criando imagens de uma mulher de carne e ossos; tocava com os pés nus a areia branca, os raios do sol de Chipre roçavam seus cabelos de mármore, que se tornavam vivos e dourados. Ele corria apressado de volta à casa para constatar que esse milagre não se realizara. Beijava com paixão as pequenas mãos frias e depositava ao lado dos delicados pés de mármore os presentes que ele sabia eram cobiçados pelas mulheres jovens.
A essa divindade ele deu o nome de Galatéa; no silêncio da noite as inumeráveis estrelas prateadas pareciam sempre sussurrar: “Galatéa...”. Ele adornou um leito para ela com tecidos de púrpura de Tiro e sobre almofadas macias deitou a linda cabeça da mulher de mármore que ele amava.
Assim o tempo transcorria, até que se aproximou a ocasião dos festivais de Afrodite. A fumaça subia ondulante dos altares, o odor do incenso misturava-se ao perfume dos pinheiros e as vítimas, adornadas de guirlandas, mugiam e baliam enquanto eram levadas para o sacrifício. Como rei, Pigmaleão realizou fielmente e com perfeição todos os atos que a ele incumbia praticar na solenidade e, por fim, foi deixado aos pés do altar para fazer sozinho suas preces. Nunca antes, quando depositava seus pedidos diante dos deuses, suas palavras tinham vacilado, mas nesse dia falou não como um escultor-rei, mas como uma criança temerosa do que ia pedir.
“Ó, Afrodite, que tudo pode”, exclamou, “rogo-te que me envies uma mulher como Galatéa!" "Dê vida à minha Galatéa” não ousou dizer, mas Afrodite soube perfeitamente as palavras que ele desejou ter pronunciado e sorriu ao ver como Pigmaleão estava ajoelhado. Três vezes a deusa fez as chamas do altar levantarem-se impetuosamente como sinal de que a prece tinha sido ouvida e Pigmaleão voltou para casa, mal ousando esperar, sequer permitindo que sua alegria vencesse o medo.
As sombras da noite caíam quando ele entrou no aposento sagrado que tinha preparado para Galatéa. Sobre o leito coberto de púrpura ela repousava. Pareceu-lhe que os olhos dela fitavam os seus e que lhe sorria acolhedora. Correu para ela, ajoelhou-se a seu lado e tocou com seus lábios os dela, de mármore inerte. Muitas vezes ele tinha feito o mesmo e sempre aqueles lábios gelados e sem vida pareciam transmitir a sua frieza diretamente ao coração, mas agora estava seguro de que não estavam mais frios. Sentiu uma de suas delicadas mãos; também não estavam mais rígidas nem frias nem insensíveis ao toque, mas repousavam macias e cálidas entre as suas. Roçou suavemente os dedos nos cabelos de mármore, e sentiu o cabelo dourado, macio e ondulante de seus desejos. Novamente, com a reverência com que tinha depositado as oferendas no altar de Afrodite, beijou seus lábios. Galatéa correspondeu com as faces rosadas e quentes; os olhos, como dois lagos transparentes iluminados ao sol, fitavam-no com uma alegria tímida.
Silencia depois disso, a história de Pigmaleão e Galatéa. Sabemos apenas que suas vidas foram afortunadas e que tiveram um filho, Pafo, de quem a cidade sagrada de Afrodite recebeu o nome. Talvez Afrodite tenha rido muitas vezes ao ver Pigmaleão, que outrora tinha desprezado as mulheres, transformar-se em um servo devoto da mulher modelada originalmente por suas próprias mãos."
Questionamentos e Reflexões
1) O que é a paixão?
É a expressão de nosso lado criativo.
2) O que representa a mulher para um homem?
Seu lado feminino que possibilita dar um sentido em sua vida.
Comentários
Esse mito nos mostra que quanto mais resistimos aos aspectos inerentes ao nosso ser, mais esses aspectos ganham força. É inevitável que tenhamos que entrar em contato com tudo isso, através da consciência ou da inconsciência. Se trilharmos o caminho do autoconhecimento que significa consciência realizaremos o que queremos. Através da inconsciência criaremos somatizações.
Texto revisado por Cris
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