NOITE DE CÃO
Autor Ernesto Ruben de Oliveira Júnior
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 3/3/2008 12:40:56 PM
PARA RELEMBRARMOS
Certos assuntos infelizmente nunca envelhecem, nas eleições de 1996 escrevi o artigo abaixo, abordando de forma bem humorada a problemática dos cães abandonados bem como, o chato e apelativo clima que antecede as eleições e as bizarras figuras que se candidatam.
O mais interessante é que entra ano e sai ano, entra prefeito e sai prefeito, entra vereador e sai vereador e a coisa enfadonhamente continua a mesma.
Verifiquem como este artigo será super-atual para as próximas eleições.
NOITE DE CÃO
Dia desses, após um encontro com colegas de profissão, após o expediente de trabalho, conversávamos a respeito da triste realidade dos animais de rua (cães e gatos) que vivem abandonados à própria sorte, sempre sujeitos às cueldades, maus tratos, atropelamentos e doenças, muitas delas transmissíveis aos seres humanos.
E que pouco ou nada se fez, além das campanhas anti-rábicas, para melhorar a sofrida existência desses seres vivos. Foi lembrada uma estatística de que para cada pessoa que nasce, quinze cães e quarenta gatos também nascem.
Tudo isto nos leva a crer que esta situação tende a piorar dia após dia, e apesar disso, ninguém se sensibiliza o bastante para começar a reverter este quadro. Foi quando uma colega, no alto de sua indignação, saiu-se com essa : “nada é feito porque cachorro não vota, se eles votassem vocês iriam ver só”.
Fui para a casa, deitei-me no sofá e comecei a meditar sobre a afirmativa da colega, quando então adormeci e aí começou a agonia.
Sonhei que estávamos às vésperas das eleições e que os políticos profissionais, cada vez mais interessados em angariar “votos em baciada”, primeiro obrigando todos a votar, inclusive analfabetos e depois menores de idade, descobriram a tal estatística que para cada pessoa, quinze cães e quarenta gatos nascem, e deram um jeito de baixar uma lei, que depois ficou conhecida como “lei Magri”, que obrigava todos os cães e gatos a votar. Foi um reboliço total ; em todas as cidades além dos famosos “currais eleitorais” foram criados também os “canis eleitorais”e os “gatis eleitorais”,com farta distribuições de rações, biscoitos, “casinhas próprias” e grandes empresas nacionais e multinacionais do ramo pet começaram a financiar campanhas e etc.
Não se falava em outra coisa; ao invés de “voto cabresto”, agora era o “voto mordaça”, e até inventaram o “voto injeção eletrônica”,que tinha a vantagem de ser informatizado e ao mesmo tempo aplicava no eleitor uma injeção que poderia ser uma vacina ou uma vitamina.
As carrocinhas voltaram a funcionar, agora com uma nova função social : levar os cães e gatos eleitores aos locais de votação.
Vários “cãomícios” e “gatícios” surgiram em diversos pontos das cidades. Alguns políticos, aqueles conhecidos como políticos “tiriricas” ou “florentinos”, que sempre insistem em permanecer nos cargos, e em todas as eleições se repetem, prometeram agora inovar e elaborar após as eleições um “Plano Ecãonômico”com uma nova moeda o “Reáu-áu”
Pelo menos os cães e gatos estavam numa situação melhor, ao menos antes das eleições, não se via mais nenhum deles abandonados, as clínicas veterinárias, pet shops e lojas de ração viviam cheias. Certos políticos até abriram creches e maternidades caninas e felinas, porque a lei inclusive permitia que os filhotes também votassem.
Mas todos nós que sempre nos preocupamos com eles, estávamos confusos com aquela situação inusitada.Algumas pessoas tentavam nos conformar com aquela realidade, dando uma versão nova a um velho ditado popular : “Melhor um cachorro eleitor do que um político cachorro”. Foi quando acordei assustado com as lambidas do meu cãozinho Twingo, que me salvou deste sonho esquisito “prá cachorro”.
(ERNESTO RUBEN)
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