O bobo sábio de Lear
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Autor Helenilton Luiz C. de Sales (Lé de Sales)
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 4/2/2007 5:16:45 PM
É realmente inevitável não perceber a genialidade do personagem "o bobo da corte", no clássico de Willian Shakespeare. Em uma das cenas em que dialoga com Lear, veja sua fala:
"Noite assim esfria até cortesã! E eu faço professia antes de ir:
Quando Padre só no bem pensar
E cervejeiro não mais batizar
Se o nobre do alfaiate for tutor
Não queimar bruxa e sim sedutor
Quando na lei ganhar o bem feito
E não dever o homem que é direito
Se a língua não viver caluniando
Com os ladrões chegando sempre em bando
Se a usura mostrar suas mazelas
E as putas construírem só capelas
Este reino de Albion vai mostrar
A confusão que isso vai armar.
Pra quem viver o dia há de chegar
No qual os pés vão servir pra andar.
Essa profecia será feita por Merlim,
Mas eu vivo antes do tempo dele."
Então, vejamos o quanto adequado se torna analisarmos as palavras do "bobo" sob o prisma da contemporaneidade. O que há de se perceber que o tempo ao qual se refere, ainda está distante de chegar? Na trama narrada por Shakespeare, na qual o rei Lear já enfadado decide dividir o poder de sua coroa com as três filhas, os diálogos são repletos da força trágica do autor, que desperta no leitor constantes reflexos que em muito contribuem para que entendamos os bastidores do poder e os conflitos de um monarca decadente e confuso.
A tradução foi feita por Bárbara Heliodóra e é boa sugestão de leitura clássica, quando quase tudo nos parece muito moderno e sem sentido. Já adaptada ao teatro nos anos 90, a peça viajou todo o Brasil com um elenco de primeira grandeza. Assim, não poderia deixar de registrar uma analogia do bobo da corte com o povo da corte: ambos trabalham e divertem o rei, por um mísero salário, mas em seu âmago mostram existir uma sabedoria cortante, própria daqueles que aprenderam, com a tragédia, a viverem com bom humor.
E viva o rei! Quero dizer, o bobo!
Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 5
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