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O Desapego

Atualizado dia 9/4/2006 11:40:43 PM em Autoconhecimento
por Guilhermina Batista Cruz


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Entrei em fase de mudanças na vida. Nunca pensei que teria coragem de desvencilhar-me de situações ambígüas com tanta presteza. Sabe aquelas situações das quais achamos que dificilmente vamos sair? Pois é, um dia a gente cria coragem, dá um passo à frente e, sem olhar para trás, pula fora. Comigo foi assim, tive que pular fora mesmo, exercitar o desapego em alto grau e sair do comodismo e da“segurança” financeira que havia plantado, como também da rotina que havia estabelecido em vários setores de minha vida.

Mas a mudança acarretou suas conseqüências inevitáveis, e uma delas foi afastar-me de amigos queridos, por força mesmo das circunstâncias, ou seja, tive que sair de uma situação que já não me satisfazia mais para enfrentar novas experiências e desafios, mas para isso tive que me afastar do ambiente onde estava acostumada a conviver e da companhia de amigos com os quais compartilhava uma amizade sincera e verdadeira. Apesar disso, vi que o meu apego às pessoas e situações estava me “travando” e influindo bastante em setores importantes de minha vida, que estavam sendo deixados de lado por que eu não queria afastar-me das situações “estáveis” e das pessoas com quem estava acostumada a conviver.

Porém, eu tinha chegado num estado tal de ansiedade e saturação que vi que uma mudança era inevitável; senti, com bastante nitidez, que havia chegado para mim a hora do desapego, e que já estava no momento de seguir outros rumos e adquirir novas experiências. Mas, entre falar e vivenciar o desapego há um espaço muito grande, pois ele mexe bastante com nossas emoções, deixando-nos vulneráveis e emotivos. Sim, não é fácil sairmos de nossa rotina, da sintonia com quem convivemos e nos lançarmos em situações diversas daquelas com as quais estamos acostumados, de afastarmo-nos de nosso “chão” e aconchego; ficamos como que perdidos e nos sentindo assim que nem um peixe fora d’água.

Mas chega um momento na vida em que é necessário reconhecer que a mudança é imprescindível, pois as circunstâncias atuais não são mais condizentes com nosso modo de ser e sentir e nem favorecem mais o nosso desenvolvimento, seja ele espiritual, material, intelectual, enfim, que não nos beneficia mais em todos os sentidos. A mudança, então, surge como sinônimo de renovação, incitando-nos a libertarmo-nos de tudo o que nos impossibilita de seguirmos em frente, no caminho da reestruturação de nosso ser.

Essa mudança é muitas vezes uma experiência nova e ao mesmo tempo assustadora, pois vamos constatar que para seguirmos adiante em nossos propósitos de mudança, precisamos, às vezes, largar o velho para seguir o novo;, significa que vamos ter que nos despedir de situações e planos antigos, que não estão nos fazendo ir a lugar nenhum e mergulharmos em novos caminhos, novos conceitos, livrarmo-nos dos pesos extras que tanto entulham nossa vida e aprendermos a aceitar o novo com o espírito receptivo e aberto.
É verdade que o desapego, de um certo modo, olhando exclusivamente do ponto de vista anterior, nos faz “sofrer”, pois nos sentimos assim como se tivéssemos chegado onde gostaríamos de estar sempre, e descobrimos que não podemos continuar a desfrutar do que conseguimos, e que, para nosso próprio bem, precisamos libertarmo-nos de situações do passado. Mas para que isso se dê não podemos mais ficar onde estamos, pois senão vamos nos sentir desmotivados, acomodados e insatisfeitos.

Essa é uma fase de muita perturbação, pois, ao mesmo tempo que queremos nos desligar, nos agarramos com todas as forças ao nosso jeito de ser e de agir do passado. Surge o medo de sairmos para uma nova situação, deixando atrás o nosso passado “seguro e confiável”. São dois extremos que nos deixam bastante angustiados. Creio que o que mais nos atemoriza é o medo de enfrentarmos situações desconhecidas, de não conseguirmos ir adiante sem a pseudo-segurança que tínhamos até então. O medo vem também porque vamos, daí em diante, ser responsáveis por nós mesmos, por nossas atitudes, pensamentos e ações. Não podemos culpar ninguém por estarmos indo embora, nos despedindo das situações passadas para enfrentarmos o desconhecido, pois sentimos que a transmutação de energias só acontecerá realmente quando aprendemos a nos desapegar.

De uma certa forma, o apego nos mantém presos a determinadas situações, enquanto o desapego nos liberta; quando nos desapegamos começamos a reconhecer nossa essência divina, e quando nos dispomos a acessar essa essência vemos que temos o poder de conquistar tudo o que queremos, mesmo que inicialmente, abandonarmos tudo a que estamos acostumados e exercitar o desapego possa gerar em nosso ser bastante angústia e incerteza.
O desapego mostra-nos inúmeras possibilidades e abre nosso campo para outras potencialidades. Começamos a entrar, mesmo um pouco incrédulos, numa maré da sorte, pois vemos surgir soluções para os problemas sem que sequer percebamos e as situações vão se adequando natural e espontaneamente.

O certo é que não podemos, ao mesmo tempo, acumular as etapas da vida. É preciso sair de uma para entrar em outra. Para acessarmos o novo, precisamos deixar o velho; para acessarmos a luz é necessário sairmos da sombra; Estamos descobrindo que na vida existem sempre desafios a vencer e muitas oportunidades a vivenciar. Aproveitemos então o momento propício para exercitarmos o desapego e transformarmo-nos no criador de nossa própria sorte, pois sempre é hora de reiniciar, de pensar na luz, de aprender algo novo e de exercitar o amor universal.

Inicie então o desapego comprometendo-se consigo mesmo a aceitar-se do jeito que você é realmente. Dê aos outros a mesma oportunidade. Experimente encarar a incerteza como uma alavanca na solução dos problemas e cultive o que é mais importante, que é saber que você é capaz de tudo e que o desapego é mais um aprendizado, um degrau que terá que percorrer.

Paz e Luz a todos.

Texto revisado por Cris

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