O Grande Peixe
Atualizado dia 9/2/2007 6:44:17 PM em Autoconhecimentopor Marcos Spagnuolo Souza
Antes de envolver-me nas grossas cobertas devido ao frio interior e exterior passei pelo lugar mais gostoso da casa onde ficam os meus livros e onde vivo os momentos de suprema alegria ao deixar minha mente vagar por paragens longínquas. Nesse lugar de estudo gosto de imaginar uma sociedade mais justa e principalmente onde os seres humanos vivam em harmonia com a Suprema Personalidade de Deus, cientes de que no interior de cada alma existe Deus como Superalma. Olhei os livros esparramados sobre a mesa de trabalho destacando os livros que me acompanham durante vários anos, entre eles o Bhagavad-Gita e Srimad Bhagavatam, com textos sânscritos traduzidos pelo mestre Bhaktivedanta Swami Prabhupada. Acariciei os livros que são os meus verdadeiros companheiros nesta rápida existência dando-lhes uma boa noite e fui deitar.
Enrolado nas cobertas, com os olhos fechados, respiração calma, batimento cardíaco lento, comecei a recordar os versos do Bhagavatam que contam a experiência de Satyavrata com o grande peixe que era a manifestação do Supremo e o sono suave me transportou para o lugar de Satyavrata nas margens do rio.
Estava eu nas margens de um belo e grandioso rio com suas águas cristalinas. Fazendo de minhas mãos uma concha, apanhei um pouco das águas do rio para saciar minha sede. Foi quando apareceu um peixinho na água que estava nas palmas de minhas mãos. Atirei o peixinho novamente nas águas do rio juntamente com a água. Foi então que escutei a voz suplicante do peixinho: “Por qual motivo você está me atirando novamente na água do rio, onde existem outros seres aquáticos que podem me matar? Tenho muito medo deles.”
Resolvi levar o peixe para minha casa e o coloquei numa jarra de água. Passada uma única noite o peixe cresceu tanto que não podia mover-se confortavelmente na água da jarra. O peixe falou: “Não gosto de viver nesta jarra de água, submetido a tanta dificuldade. Por favor, providencie-me algum reservatório de água mais amplo, onde eu possa viver confortavelmente.”
Tirei o peixe da jarra de água e o coloquei num grande poço. Porém, dentro de um momento, o peixe atingiu um metro e quarenta centímetros de comprimento. O peixe, então, disse: "Meu querido amigo, neste reservatório de água não consigo obter uma residência satisfatória. Por favor, dá-me um volume de água mais extenso, pois me refugiei em ti."
Tirei o peixe do poço e atirei-o num lago, mas o peixe assumiu então uma forma gigantesca que excedia a extensão da água. Então, o peixe disse: "Sou um enorme ser aquático e esta água não me é nada conveniente. Agora, por favor, descobre algum modo de salvar-me. Seria melhor pôr-me na água de um lago cuja capacidade nunca diminuísse."
Coloquei o peixe no maior reservatório de água que conhecia. Porém, o peixe continuou crescendo. Foi quando o coloquei no oceano. Quando me afastava o peixe gigante falou:
“No sétimo dia a partir de hoje, todos os três mundos imergirão na água da inundação. Quando todos os três mundos imergirem na água, um grande barco aparecerá e você deverá juntar toda espécie de ervas e sementes e as acomodará naquele grande barco. Em seguida, acompanhado por sete sábios e toda a classe de entidades vivas, subirás naquele barco e, sem melancolia, facilmente singrará com os seus companheiros o oceano da inundação, e a única iluminação será a refulgência dos grandes sábios. Quando o barco for açoitado pelos poderosos ventos, deverá prender a nau a meu chifre, utilizando-se da grande serpente. Puxando o barco viajaremos pela água da devastação por um longo período. Será completamente orientado e favorecido por mim e todas as suas perguntas serão respondidas por mim, pois estarei manifesto dentro de sua alma, estarei no oceano e ao mesmo tempo dentro de sua alma.” O peixe, após ter dado estas instruções, desapareceu.
No dia seguinte, gigantescas nuvens derramaram água incessante e o oceano começou a transbordar para a terra e a inundar o mundo inteiro. O grande barco apareceu e sentei na proa do barco para escutar as lições do grande peixe que dizia: “Existem dois níveis de consciência, a Consciência Suprema e as consciências individuais. O objetivo das consciências individuais é ter consciência da Consciência Suprema. Cada consciência individual progride do nível unidimensional em direção às infinitas dimensões. O espaço e o tempo existem apenas nas três primeiras dimensões, sendo que a partir da terceira, o espaço e o tempo deixam de existir. O objetivo de vida das almas corporificadas que estão na terceira dimensão é ampliar a consciência para o próximo nível que é a quarta. Para entrar na quarta dimensão a consciência individual corporificada deve se desprender em primeiro lugar da objetividade do corpo material, transcendendo o aspecto dimensional do corpo. Quando a consciência se deslocaliza do corpo, o espaço e tempo desaparecem. O desenvolvimento da consciência individual é justamente a absorção de minha Consciência. A absorção de minha consciência não anula a existência da consciência individual. Minha Consciência Suprema e a consciência individual são eternas.”
Sendo movido por um rápido tremor voltei à realidade de uma consciência prisioneira dentro de um corpo cansado.
Texto revisado por Cris
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