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O medo de se expor

Atualizado dia 4/25/2006 11:32:53 AM em Autoconhecimento
por Eda Cecíllia Marini


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Expor-se.
Expor o corpo físico tal qual é, sem exigir a perfeição estética, aceitando limitações, sem crítica e sem comparações.
Expor os pensamentos com clareza e realidade, os vícios mentais, rótulos e preconceitos.
Expor-se.
Exprimir as emoções e sentimentos tal qual brotam originalmente, sem fingimentos, com autenticidade, sem a preocupação com julgamentos. Por a público toda a carga que se carrega na mente e na alma, acumulada durante tantas vidas, tantos séculos. É tirar a máscara social, mostrar limitações, fraquezas, e por que não, falhas, medos, enfim, mostrar aos quatro ventos a própria vulnerabilidade.
Por trás de todo o barulho da mente há uma dimensão de vazio; a mente o esconde cobrindo-o com uma performance bela e conveniente, condizente com a expectativa social. Essa cobertura é decorativa e ilusória, finge ser alguma coisa, ser alguém. É funcional, sim, enquanto faz parte do jogo de troca de poder, enquanto o indivíduo não está na consciência pessoal.
Desde a mais tenra idade somos condicionados a reprimir, - não educar - pensamentos, sentimentos e emoções, fingir o que não somos, tendo atitudes e comportamentos em desacordo com a alma, criando máscaras para as diferentes situações, que juntas fazem parte da grande máscara cujos traços definem nossa personalidade, a persona de cada um.
Quem nunca ouviu dos mais velhos, quando criança:
“Seja bonzinho senão não gosto mais de você”…
“Mamãe não gosta de criança que faz isso”…
“O que os outros vão pensar”?
Então, para não ser rejeitado pela família, grupo social, amigos, enfim sociedade, é preciso armar esquemas, representar o tipo esperado, traçar comportamentos quase sempre tortuosos. Profissionalmente, para conquistar ou não perder o status conquistado nem ser desvalorizado ou desrespeitado é preciso representar o forte, imbatível, incansável, criativo, seguro, corajoso, inteligente, esperto, perfeito... enfim, um processo extremamente desgastante, pois sustentar tipos e falsidades a fim de manter a máscara esgota, é cansativo e altamente frustrante. É preciso inventar-se cada vez mais a fim de reforçar e sustentar o que não é real.
Mas, aqui sempre cabe a afirmação: “ Se não for assim, não serei aceito, respeitado, valorizado… Posso ficar só”… Então, porque não manter a máscara se é tão funcional? Não é muito mais fácil deixar como está? Vamos seguir representando porque a perda é menor…
A máscara só existe por causa do medo.
Entretanto, para ser autêntico, não é preciso ter medo.
É preciso somente ter clareza no fato de que tudo que se esconde, não se assume, tende a crescer sem controle; não vejo, não quero conhecer, portanto está escondido e sendo sempre alimentado por energias semelhantes. Ao contrário, ao se expor o errado, ele desaparece, se resseca, some pois deixou de ser nutrido. Ele não consegue se manter no aberto, pois só se mantém no inconsciente, na sombra. Trazendo-o para a consciência, ele se evaporará aos poucos.
Mas, importante! Escondendo potenciais, algo correto, ele se esvai porque se desnutre ao se deixar de cultivá-lo com a verdade. O real vai morrendo para que o não real prospere.

É preciso expor primeiramente a si mesmo.
Reconhecer corajosamente fatos e atitudes, sentimentos e comportamentos. É talvez o mais doloroso exercício de exposição, pois significa o reconhecimento dos limites pessoais, a auto-aceitação completa, com a verdadeira modéstia e humildade, colocando o orgulho de lado. Ninguém é horrível: apenas é-se como se pode ser.
Reconhecer valores pessoais e suas capacidades reais; aceitar limitações não como defeitos nem como falhas mas sim como etapas de aprendizado. Olhar-se sem culpa e sem exigência de perfeição. Despir-se de autojulgamentos e rótulos, largar preconceitos para trocar conceitos. Só assim a máscara começa a desfazer-se e o real começa a respirar.
Um bom exercício é anotar em uma folha de papel, sem método, tudo que surgir à mente e ao coração - reações, pensamentos, definições, atitudes. Sem julgar. Apenas escrever o que sentir.
Meditar sobre isto, como se sente e assim perceber o real do que é irreal, reconhecendo a máscara.

O medo da mudança é natural, porque o velho é familiar há uma identidade definida, conveniente, já há muito aceita, segura e facilmente administrável. Não se deve condená-lo, pois é parte deste condicionamento social. Aceitá-lo e ir além dele pode parecer assustador, mas logo se começará a ganhar força, sua real medida; passa-se a ser um indivíduo, sai-se da massa. A sofisticação social dá lugar à individualidade, à realização pessoal como Deus a fez, crua, selvagem e com tremendo poder.
Na verdade, é preciso abandonar as velhas idéias para se saber quem se é, não é preciso dar saltos. Apenas caminhar passo a passo, mas com firmeza, liberando fantasmas, criações mentais, emoções reprimidas, distorcidas, atitudes desviadas, desacomodando pesares e mágoas, raiva, ambição; prazer, alegria, sexo e sexualidade.
Trazer das profundezas do inconsciente o que lá foi relegado, tornando-se consciente na aceitação de si mesmo. É “arejar o porão”…
Quanto mais se vive na máscara e por ela, mais se é automatizado, robotizado, sem consciência. Autoconscientizar-se assemelha-se a uma ressurreição, um renascer para o poder interior, para a união com o divino.
Desconectar para reconectar.
A exposição passa a ser feita sem medo: autenticidade, não grosseria ou agressividade, mas sim caminhando de acordo com o potencial pessoal, porque já se conhece a extensão da força íntima. Ela apóia e dirige pelo caminho do equilíbrio.
Expor-se, então, deixa de ser doloroso ou assustador, mas sim altamente gratificante, pois traz a segurança e a satisfação da realização.
Texto revisado por: Cris
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