O NINHO VAZIO
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Autor Claudette Grazziotin
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 4/1/2004 7:36:34 AM
O NINHO VAZIO
Claudette grazziotin
Sonhei uma família, encontrei companhia, construímos um ninho. Cuidei da ninhada com muito amor e carinho. Soube desde o princípio que dando–lhes asas e fortalecendo-as, mais cedo ou mais tarde, deveria libertá-los.
A menina precoce, inquieta quis descobrir o mundo. Anunciou o primeiro vôo. Foi, então, que, mesmo feliz por ela, senti o peso e ouvi no grito silencioso do quarto vazio, dentro de mim abrir-se a primeira lacuna. Ao meu lado, a alegria presente era meu filho. Ela voltou, mas nunca mais, nós e a casa conseguimos resgatá-la plenamente.
Uma parceria insustentável, um casamento desfeito inaugurou a primeira partida definitiva. Restou um vazio na sala atrás da porta fechada, um lugar à mesa quedou-se vago. Os que ficamos, ficamos a nos olhar com um olhar parado, os três, urrando calados, atordoados. O peito sentindo a dor verter, vazando, vazando...
Meu quarto ficou capenga pendendo mais para um lado, desequilibrado. Nos nichos dos armários, enormes claros, bocas abertas me engolindo. A cama ficou gelada e ao meu lado abriu-se enorme precipício. E,lá de dentro do nada, sonoro explode o silêncio, a lacuna vira cratera. A noite ficou mais negra.
Meu filho, também escondeu sua dor dentro do quarto e o que seu coração sentia decalcou na vidraça: Não tenho tudo o que amo, mas amo tudo o que tenho.
Com sua força, alegria e amor assumiu nossa fragilidade de uma forma muito bonita confirmando a mensagem do decalque.
Como nada é para sempre, o traço do tempo desenhou novas paisagens no espaço desocupado, alívio por um período até prolongado, uma espécie de ungüento.
E quando me pretendo pacificada, entra pela porta minha filha dançando e cantando o anúncio apaixonado de seu casamento. Cúmplices, preparamos tudo, curtimos cada detalhe, cada momento, mas na minha alma, já se esboçava pesado, o espectro da vacuidade que a despedida outra vez, instalaria. Festa acabada, voltando para casa, sapatos jogados para um canto, sentada no sofá da sala, olho tudo ao meu ao redor e choro. Então, meu filho me aperta nos seus braços, me beija, seu amor me renova e me diz que ele está lá, que deseja que eu sorria. Muitas vezes, à mesa, nos pegamos, os dois, silenciosos, olhando os lugares desocupados e sentindo as presenças ausentes, sem que disséssemos uma palavra um para o outro, cada um respeitando o seu luto. Tudo subentendido, sentido, mas claro, inevitável.
Vi num desses momentos, surpreendendo-o absorto, que ele era o último liame que me restava do sonho inicial. Irônicamente, percebi que desta vez eu mesma teria que tomar a corajosa atitude de cortar o elo se quisesse zelar pela sua felicidade, sem pensar na dimensão e significado deste desligamento. Eu provocar sua partida seria diminuir o peso, liberá-lo, desobrigá-lo do compromisso de não me deixar só, de me apoiar, de me proteger que ele assumira para si mesmo ainda que nunca tivesse expressado verbalmente. Seria muito difícil para ele tomar a iniciativa, ele injustamente se culparia vendo seu gesto como deserção, abandono e jamais se permitiria isso, por mim... E eu ainda me recuperava da outra ausência.
Assim, com o devido cuidado para não parecer que eu o estaria descartando, sob minha insistência, meu incentivo e estímulo, meu filho mudou-se para seu apartamento. Ajudei-o na transferência e na decoração. Garimpamos objetos, móveis. Foi bonito, lúdico, mesmo não sendo fácil. E ele está muito feliz! Eu compenso a ausência, com a certeza e alegria de que acertei. Também me sinto feliz.
Confesso que fiquei perdida, sòzinha neste apartamento imenso.
Às vezes, fico vagando pelos cômodos e o silêncio com suas tantas histórias gravadas nas paredes, umas muito felizes, outras nem tanto, parecem que arranham meu peito, que gritam. E, escuto os risos, a música, os prantos, os cantos, as falas como fantasmas rondando, me assombrando; sinto os temores, as dores, as alegrias, os odores, me perseguindo e repetindo sem trégua: - O ninho ficou vazio. O ninho ficou vazio. E agora?
-O que vais fazer contigo? Como vai ser, sòzinha nesse ninho vazio?
Como resposta, outro dia, vi um passarinho brejeiro começar a construir seu ninho perto do lugar onde me sento no jardim, escondidinho num pequeno arbusto. Acompanhei desde que ele juntou as primeiras palhinhas até que ficou pronto. Trabalhou incansável. Espiei pela portinha. Ficou lindo!
Lembrei então, que logo chegará a primavera. Ele preparou com tanto zêlo e amor aquele lugarzinho, para depois escolher aquela que irá ocupá-lo e transformá-lo num lar. Vai ser muito bonito e emocionante assistir a essa chegada, poder apreciar a
felicidade que cercará o ninho, o amor do casalzinho e depois a chegada
dos filhotes. Olhando o pássaro e seu ninho ouso sonhar.
Seria para mim, um sinal de um novo recomeço?
A reconstrução a partir de outros alicerces?
Estaria ele me convidando a confiar e, imitando-o, começar corajosa, a juntar novas palhinhas outra vez?
Construir um novo ninho com alegria e com fé, aguardando a primavera que retorna para mim também ?
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