O papel do “ex” no relacionamento atual
Atualizado dia 12/5/2007 10:18:27 AM em Autoconhecimentopor Theresa Spyra
“Ele não me olha mais como antigamente” é uma reclamação corriqueira. “Só pensa naquilo e depois não tem diálogo, sem papo...”; “Ela é fria como uma geladeira. Parece que faz até de propósito!”; “Não sei o que acontece. Vivemos juntos, fazemos as coisas juntos, mas parece que não há amor. É só rotina!”; “É incrível! Só arrumo traste para me relacionar! Será que não vou conseguir ninguém que presta?”. Este é o time dos que têm relacionamento. Também tem o lado dos sem-parceiros. Que é bem grande. Um monte de gente que arruma e desarruma relações, ou caminha pela vida em busca do parceiro idealizado que nunca vem, ou carrega nas costas as mágoas de um grande amor que se desfez em meio a dores e feridas...
No trabalho com Constelação Familiar Sistêmica, não estabelecemos regras de comportamento como é feito em outras terapias. Não afirmamos que o cliente está preso ao relacionamento com o pai ou mãe e por isso não arruma bons parceiros. Nem afirmamos o contrário. Simplesmente colocamos as pessoas que representam os personagens envolvidos e deixamos que o movimento aconteça. Por exemplo: num problema de relacionamento posso posicionar o cliente e seu atual relacionamento. Subitamente, percebemos que um dos dois estão olhando para um lado vazio do ambiente, não estão presentes neste relacionamento.
Quantas pessoas têm um parceiro ao lado que parece não estar ao lado? Quantas mulheres sentem um vazio dentro de si, como se faltasse algo naquela relação, que o companheiro não preenche? Uma das explicações que a Constelação demonstra é bem clara: a pessoa que está olhando para fora da relação está presa a um relacionamento anterior. Não no sentido carnal, físico. Não é uma traição como a sociedade gosta de rotular. É uma ligação emocional profunda que faz com que aquele homem ou mulher não consiga se entregar 100% porque, por algum motivo, carrega lembranças, dores, mágoas e talvez alegrias de algum relacionamento anterior.
Aprendemos com Bert Hellinger, o criador da atual forma de se realizar Constelações Familiares Sistêmicas, que sempre que alguém é excluído do sistema, alguém assumirá esta dor da exclusão posteriormente. Neste caso, um primeiro amor não foi devidamente aceito, acolhido e esta exclusão causa a tendência da pessoa envolvida a parecer desinteressada na relação atual.
O ser humano confunde amor com posse. Um amante quer ter uma parceira novinha em folha, como se por detrás dela não houvesse um passado, dores, mágoas e emoções que ela carrega consigo. Geralmente ele não percebe isso, porque também está preso às suas próprias dores, vontades, mágoas, desejos. Não é possível ter alguém limpo de sua história. Embora alguém até possa ser fiel à outra, fisicamente falando, ele não é nada fiel emocionalmente, quer dizer: partes dele estão profundamente envolvidas com outros. Não somente antigos casos, mas também com partes da mãe, do pai, de irmãos, etc. Vejo, às vezes, brigas de ciúme entre um homem que não aceita a excessiva atenção que a mulher dá ao pai, por exemplo. Ou vice-e-versa.
Esta ligação com outras pessoas é inerente ao ser humano. Carregamos dentro de nós, geneticamente falando, informações que nos impulsionam a nos tornarmos responsáveis, ou pelo menos ligados a outros membros da nossa família. Isto é o que Hellinger chama de Amor. É um amor maior que inconscientemente nos impele a carregar os sentimentos de outro.
Quando vivemos um relacionamento, ou quando estamos buscando um, é importante entender este fato. Não temos nem nunca teremos alguém “virgem” de sentimentos e emoções. Até porque nós mesmos estamos cheios de sentimentos e emoções que o outro também terá que compartilhar. Isso, quando é percebido e aceito, torna o relacionamento sublime. Acolhemos o nosso amado em nossos braços e sabemos que além dele acolhemos toda uma história, toda uma família e antigos amores que também necessitam ser abraçados e acolhidos.
Olhamos nos olhos do amado e entendemos que muitas vezes ele carrega responsabilidades que não são dele. Se fico consciente disso, e ele também, podemos deixar essas responsabilidades suavemente, porque ao se revelar à luz, a escuridão desaparece. Isso quer dizer: só deixamos que emoções passadas influenciem a nossa vida atual é porque essas emoções estão camufladas e não são aceitas. No momento em que isso ocorre, a aceitação plena, como num milagre o relacionamento ganha um brilho especial, a pessoa que busca um parceiro encontra alguém digno e os amantes estão prontos a se entregarem um ao outro, sem medos, sem cobranças, sem mágoas, amando um ao outro completamente, como deveria ser desde o princípio.
Siddho Theresia
Terapeuta e consultora de constelação familiar sistêmica.
www.nokomando.com.br
Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 16
Theresa Spyra é alemã, trainer e terapeuta com especialização em constelação sistêmica familiar, organizacional e estrutural. Estudou com a também alemã Mimansa Erika Farny, pioneira na introdução do método sistêmico de Bert Hellinger no Brasil, e aprofundou-se nos sistemas estruturais e organizacionais, com estudos no Brasil, Alemanha e Suíça E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |