O piloto automático em câmera lenta
Autor Rodrigo Durante
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 21/07/2020 09:27:46
É cedo, o despertador dispara: o susto nos leva à reação natural de desligá-lo. Aos poucos, nossa consciência retorna ao corpo. Como um computador que está sendo iniciado, vamos acrescentando à nossa percepção as rotinas que nos colocarão de pé, prontos para enfrentarmos nosso dia.
Primeiramente percebemos o corpo físico com suas sensações mais básicas como bexiga cheia, como está nossa fome, frio ou calor, sonolência ou disposição. Em nosso íntimo, sentimos que ainda não estamos inteiros, ainda não estamos nos reconhecendo da maneira como estamos acostumados a nos sentir.
Nossa consciência começa a buscar então algo que nos traga uma sensação familiar, que supra nosso vazio existencial. Antes mesmo de começarmos a analisar algo, entramos em contato com a negatividade do não-ser, do ego/personalidade, inconscientes da verdade de quem somos. A partir daí, seus derivados polarizados como medo ou confiança, carências, tristezas, raivas começam a aparecer. Estas sensações ou energias definem como nosso mental funcionará e, a partir daí, nossa consciência começa a buscar entender o que está acontecendo.
Já reconhecendo a vibração básica do personagem que acreditamos que somos, "carregamos" um pacote pronto de informações (que nós mesmos criamos) que nos explicam mental e emocionalmente quem somos, como nos relacionamos, como nossa vida é. Memórias do que fizemos ontem e do que programamos para hoje começam a aparecer e, impulsionados pelas energias emocionais, nos sintonizamos em algum determinado estado interior, nos sentindo mais prontos para iniciar nosso dia.
Tudo isso não levou mais que alguns segundos desde que nosso despertador tocou. Dessa forma, funcionando sempre nesta rotina de buscarmos sabermos quem somos a partir do que temos programado mentalmente, percebemos que nosso piloto automático começa a atuar antes mesmo de levantarmos da cama.
Já com as primeiras atividades do dia como ir ao banheiro, tomar café da manhã, verificar algo no celular e nos prepararmos para nossas tarefas, o piloto automático vai ganhando força na medida em que nos entregamos aos impulsos do emocional/mental e nos esquecemos do nosso estado original, antes de carregarmos este pacote distorcido de informações e à necessidade de controlarmos tudo mentalmente, inconscientes do ser.
Ainda que para muitas pessoas o dia comece cheio de alegria, bom humor e disposição característicos do ser, enquanto não estivermos conscientes de quem verdadeiramente somos e mais identificados com o ser do que com o ego, nosso intelecto sempre encobrirá este estado de bem aventurança matinal, colocando condições para sermos felizes e nos realizarmos, temendo as próprias negatividades que projeta no mundo.
É importante então estarmos atentos para reconhecermos o que é o ser e o não-ser, o absoluto e o relativo, o incondicional e o condicional, assim como as posturas interiores que almejamos mas que são fruto do cumprimento das exigências do nosso ego. Da mesma forma, é imprescindível reconhecer quando estamos saindo da bem-aventurança e entrando no negativo, relativo e condicional.
A verdadeira paz, compaixão, felicidade, segurança, plenitude e bem estar são características do ser, são incondicionais, não dependem das circunstâncias exteriores para existirem. Tudo isso já está dentro de nós e podemos acessá-las apenas interrompendo os programas do piloto automático e nos conhecendo mais profundamente, além das superficialidades que estamos acostumados a viver e buscar.
Em Paz,
Rodrigo Durante.
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