O processo de construção da autoestima
Atualizado dia 23/11/2016 01:30:32 em Autoconhecimentopor Patricia M. Barros
Respeitosamente discordo de Sartre, pois acredito que o ser humano tem uma essência divina. Porém, é inegável a importância do pensamento existencialista. O ser humano tem que fazer escolhas, escolher os caminhos que trilhará na vida. Neste sentido, dizia Sartre que “O homem está condenado a ser livre. Condenado porque ele não criou a si, e ainda assim é livre. Pois, tão logo é atirado ao mundo torna-se responsável por tudo o que faz”. A liberdade do homem, no entanto, nos impele a nos tornarmos alguma coisa, a uma existência “autêntica” e verdadeira. (Fonte: “O Mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder)
A auto-observação leva ao reconhecimento de que todos temos uma “sombra”, conceito de Jung. E abraçar a própria sombra, aceitar-se profunda e completamente não é um processo rápido ou fácil. O primeiro passo é admitir que tenho características que não aceito em mim mesma. O segundo passo pode ser reconhecer que nenhuma característica é realmente negativa. Se eu sempre reprimi a minha própria raiva, por exemplo, isto faz muito mal. Posso entrar em depressão ou ter episódios de explosão emocional, de agressividade súbita, inesperada. Ou ambos. A raiva é uma reação contra uma injustiça, é uma energia que nos impulsiona a agir. Então, esta é uma energia que pode ser canalizada de modo positivo. Segundo Aristóteles, o ideal é ficar com raiva da pessoa certa, no momento certo, pela razão certa, do jeito certo. É claro que isto não é nada fácil.
Outro exemplo: a repressão da própria sexualidade. Ora, a energia sexual é divina, é a energia da vida! Então, é claro que esta energia, direcionada de forma correta, é positiva, dá bons frutos. A vida surge daí, a espiritualidade e o amor se desenvolvem a partir daí…
Muitas vezes somos muito duros com nós mesmos. Cada um de nós precisa aprender a ser seu melhor amigo.
Também é necessário sair do papel de vítima. Existem mais duas facetas da vítima: o algoz e o salvador. Nos relacionamentos vítima – salvador ou vítima – algoz existe dependência. Então o caminho é encontrar a sua força interior, tornar-se uma pessoa verdadeiramente independente, inteira. Segundo Rilke, nós não devemos fugir da solitude, ou seja, uma solidão na qual nos sentimos completos. Já dizia o poeta, que o ideal é a união de duas solitudes. Mais: acredito que só assim o amor pode dar certo. Que coisa horrível dizer para um(a) namorado(a): “Você é uma parte de mim! Não posso viver sem você!” Isto pode até parecer uma declaração de amor, mas não é. É apenas apego, a demonstração de um sentimento de dependência. Se o outro por acaso for embora, precisamos continuar vivendo, temos que nos sentir inteiros… Nada de sentir que me falta um pedaço! Embora muitas vezes a sensação seja justamente esta… Então o trabalho é juntar os meus “caquinhos”, juntar os pedaços de mim mesma(o) e seguir em frente mais plena(o), mais inteira(o), mais forte. Afinal, “o que não me mata me torna mais forte”, não é verdade?
Outra coisa muito importante é resgatar a criança, o adolescente que há dentro de nós. O que você gostava de fazer quando era criança ou adolescente? Desenhar, cantar, dançar, praticar algum esporte? Que tal revisitar antigos sonhos, voltar a praticar alguma atividade da qual você goste? É preciso buscar o que alimenta a alma! Quantas pessoas estão insatisfeitas no trabalho? Que tal pensar em um “plano B” e nos passos que dará para chegar lá?
Também devemos ir além dos rótulos, deixar de lado o que os outros pensam, dar valor às nossas próprias opiniões. Afinal, os outros frequentemente estão errados! A nossa sociedade muitas vezes está errada, está doente em vários aspectos… “A massa é ignorante”, é o que dizem. Então, é importante “não ir com o rebanho”, ter os seus próprios valores. É inquestionável que na nossa sociedade há a inversão de valores! Se nós pararmos para pensar é o que está ocorrendo! Os amores são líquidos (Sugestão de leitura: obra "Amor Líquido" - sobre a fragilidade dos laços humanos, de Zigmunt Bauman), valoriza-se a aparência, o “ter” em detrimento do “ser”...
Já fiz alguma observação sobre a espiritualidade anteriormente. Ora, a espiritualidade abrange o reconhecimento de que sou um(a) filho(a) de Deus. É o que nos ensinam mestres da Seicho-no-ie. Isto é fundamental para a autoestima, lembrar que sou um(a) filho(a) de Deus e que, portanto, a minha essência é divina. Na minha essência, sou perfeito(a), feito(a) à imagem e semelhança de Deus!
Finalmente, sou apenas uma caminhante, como a maioria de vocês leitores. Depois de ler um pouco e fazer anos de terapia é até fácil escrever sobre o processo de construção da autoestima, outra coisa é trilhar o caminho, que não tem fim. Continuo caminhando.
Para saber mais: “Mediunidade e autoestima”, de Maria Aparecida Martins
"A Revolução Interior", de Gloria Steinen
Texto revisado
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Sou jornalista e advogada. Atualmente sou funcionária pública e estudante de psicologia e psicanálise. Sempre me interessei por questões que envolvem comportamento e o desenvolvimento pessoal. Espero contribuir um pouco para o bem-estar e felicidade de algumas pessoas! E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |