O Santo, o Salvador, e o Ego
Autor Nuno Michaels
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 12/31/2007 5:48:41 PM
As profissões de aconselhamento aos outros, seja a de psicólogo, a de astrólogo ou a de psicoterapeuta (isto para nomear apenas algumas e não incluindo o sacerdócio), constituem enormes desafios ao crescimento pessoal de quem as pratica.
E não é tanto por exigirem um alto grau de especialização, estudo, dedicação ou prática. Sabemos que é assim.
Nem tampouco pelo facto de serem profissões que se prestam como nenhuma outra aos processos de transferência e de contra-transferência - o fenómeno da projecção mútua de todos aqueles sentimentos inconscientes, confusos e não-resolvidos de amor, ódio, atracção, identificação, raiva (sabe Deus!) entre paciente e terapeuta - e que a escola psicanalista explica magistralmente.
Nem sequer pela responsabilidade que implicam de tomar nas próprias mãos parte da responsabilidade pela vida de outrém - quantas vezes as pessoas não revolucionam as próprias vidas, terminam relações insatisfatórias mas securizantes, deixam empregos redutores, alteram os parâmetros de convivência com aqueles que lhes são mais próximos ou se desligam daqueles amigos com quem deixam de partilhar interesses comuns, na sequência (ou durante) um processo psicoterapêutico ou espiritual que vem ampliar o seu nível de consciência?
O desafio maior dessas profissões de ajuda e aconselhamento vem, sim, do elevado nível de integração pessoal que exigem, e da consciência, indispensável para quem as escolhe, dos motivos reais para a sua escolha. Por que é que alguém escolhe ser terapeuta? Por que é que alguém quer dedicar a sua vida a ajudar os outros? Por que é que alguém investe anos e anos da sua vida preparando-se para guiar os irmãos de caminho nesta aventura misteriosa que é Vida?
O problema é que as respostas mais imediatas, e que orbitam invariavelmente em torno da ideia de "ajudar" não satisfazem e ocultam motivações mais profundas - por vezes até demasiado humanas para serem admitidas à consciência.
Às vezes, quem não consegue assumir responsabilidade pela sua própria vida encontra o caminho mais fácil assumindo a responsabilidade pela vida dos outros. Às vezes, ajudar os outros alimenta um ego sequioso de reconhecimento - porque ser espiritual também é uma viagem do ego ("eu medito duas horas e tu só cinco minutos, por isso sou mais espiritual do que tu...").
Às vezes, é gratificante impressionar os outros com o nosso conhecimento de leis ou realidades ocultas, inexploradas pelo indivíduo comum, e cuja ignorância ou inabilidade são mais um ponto para a nossa auto-imagem. Às vezes, trocamos o pólo vítima pelo de salvador e esquecemo-nos que os dois são indissociáveis. Às vezes esquecemo-nos dos nossos próprios problemas e perdemo-nos nos dos outros - embora os nossos lá permaneçam até que sejam resolvidos.
Não quero dizer que o caminho não seja exactamente esse - o de nos tornarmos mais disponíveis para os outros, mais impessoais nas nossas preocupações, usando a nossa própria força anímica para ajudar os outros a erguerem-se.
Quero, apenas, lembrar que neste particular como noutros, é fundamental estarmos conscientes das nossas motivações mais profundas. Para não fazermos as coisas certas pelos motivos errados.
Nuno Michaels
Avaliação: 5 | Votos: 9
Conselheiro Astrológico, Formador, e Life-Coach. A sua abordagem à Astrologia é Esotérica na lente, Psicológica no trabalho com clientes, Existencial nos pressupostos, e Terapêutica na abordagem. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |
