O Ser Humano Animal e o Ser Humano Espiritual
Autor Marcos Spagnuolo Souza
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 9/1/2008 2:33:33 AM
Estou com 63 anos e desde a minha adolescência tenho percorrido a trilha que nos conduz ao melhor entendimento sobre a nossa existência na dimensão que estamos inseridos. Durante o percurso as minhas idéias foram se transformando devido às leituras e experiências vivenciais e olhando o passado posso dizer que não foi um tempo perdido ao me dedicar com muita devoção ao entendimento da nossa missão aqui no plano dos limites temporais e espaciais. Nesse pequeno artigo pretendo colocar a síntese do resultado do meu percurso mostrando a idéia basilar do nosso propósito de viver no corpo material.
O corpo humano é uma estrutura resultante de uma evolução que passou pelo reino mineral, vegetal, animal aquático, animal terrestre e finalmente a forma humana. Essa forma humana possui uma essência não material que podemos denominar de “nous”. O “nous” é o nosso verdadeiro ser primordial, é um ponto de luz imaterial ou a nossa consciência primordial que está em movimento em direção ao infinito ultrapassando dimensões. O “nous” sempre utilizou a matéria para se manifestar e atualmente utiliza o corpo humano. O “nous” possui consciência de toda sua trajetória sendo morfogenético, isto é, estrutura a forma material para sua manifestação.
O “nous” responsável por conduzir a forma humana traz consigo o arquétipo preponderante de seu último estágio que foi a vida animal caracterizada pelo desejo de domínio e perpetuação da espécie. O arquétipo animal é facilmente observado nos animais onde o mais poderoso destrói o mais fraco e podemos ver tal fato com perfeição nos filmes sobre a vida animal. Outro aspecto da vida animal é a perpetuação da espécie onde o viver se concentra em torno do ato sexual e a busca pelo alimento.
Podemos dizer que a forma humana representa o homem animal que possuindo inteligência mais ativa coordena todos os meios que a natureza possui para satisfazer o seu desejo de domínio e perpetuação da espécie. O atual nível de conscientização do “nous” deve ser ultrapassado para forma humana espiritual onde o “nous” não esteja centrado no corpo e sim consciente de si mesmo como sendo atemporal e aespacial inserido no interior do “macronous”. A partir do momento em que o “nous” ultrapassar o seu atual estágio terá consciência de sua imortalidade se libertando do ciclo do nascimento e morte do corpo. O próximo estágio do “nous” é a transcendência do tempo e espaço, nível que os Vedantas chamam de “moksha”.
O “nous” na atual dimensão projeta em sua vida o viver do animal em um nível mais virtualizado procurando atingir três metas na vida: desfrute material dos sentidos do corpo físico, desenvolvimento econômico responsável pela manutenção do poder e finalmente uma religiosidade mundana doadora de uma moral, caridade, realização de bons atos, peregrinação e cumprimento dos deveres. Os Vedantas denominam os três estágios salientados de do “tri-varga” (kama; artha; dharma).
O homem animal em seu processo dialético de constante mudança deve tomar consciência da necessidade imediata de romper as barreiras do corpo físico e vivenciar o existir no estado de “nous” além do tri-varga, atingindo o estágio moksha.
A transcendência do atual arquétipo que vivemos é eliminar todos os desejos que caracterizam o homem animal que é o caminho explicado por todos os avatares e atualmente principalmente por Sai Baba e Eckhart Tolle. Eliminar os desejos é entrar no estado meditativo. Quando estamos em meditação apagamos o passado, presente, futuro, pensamentos, desejos, vontades, emoções e individualidade. No estágio meditativo o “nous”, nosso verdadeiro ser, é amparado por seres de luz.
É uma grande benção quando compreendemos que o homem não nasceu para satisfazer seus desejos mundanos; diante dele está o infinito e o cósmico atrai o “nous” em direção ao infinito fazendo-o transcender as limitações humanas normais. O nosso objetivo é superarmos o indivíduo vaisya (envolvido nos negócios do mundo) e sermos indivíduos Vyakthi, aquele que manifesta sua Divindade latente, o poder Divino.
Tenho perguntado por qual motivo ainda estou vivo e recebo como resposta que é um presente de Deus sendo cada dia de vida uma oportunidade de transcender a barreira do tempo, espaço, relatividade, finitude e finalmente ir além do estágio de homem animal para viver na forma de “Jyotis” (luz imaterial).
Devemos rogar a Deus a graça para colocarmos em prática o processo de transcendência da nossa atual dimensão.
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