O vazio!
Autor Paulo Salvio Antolini
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 3/10/2013 12:12:22 PM
O vazio!
Foi publicada, em revista de grande circulação, a detenção "para prestar depoimento" de um famoso artista de cinema e televisão que, mesmo estando em tratamento para deixar o uso da cocaína, sempre que vem a São Paulo é abordado pelo antigo "fornecedor" da droga. Este é um grande dificultador para a recuperação de quem precisa de força de vontade para não reincidir no vício. Também foi publicada, em notas breves, através de outros veículos, a notícia da internação de um, também famoso, ex-jogador de futebol e atual comentarista esportivo, para tratamento de dependência com drogas. Quando a pessoa envolvida com o vício, qualquer que seja o tipo de droga, é pobre, temos por hábito dizer que ela não tem cultura, não tem perspectivas de vida e que se amortece com o uso das drogas, seja a cachaça, seja o crack ou qualquer outra substância que o seu pouco dinheiro pode adquirir.
Quando o usuário pertence à classe média, diz-se que ocorreu uma má orientação por parte dos pais, o que o levou a tomar caminhos escusos.
Com relação aos viciados da classe alta, dizemos que não dão valor ao que possuem e que necessitam buscar constantes e fortes emoções. Também os taxamos de "protegidos do papai".
Quando tais pessoas, dependentes químicos, fazem parte do grupo de pessoas bem sucedidas e famosas, o que dizemos? "Conquistaram uma posição financeira muito favorável", "possuem uma projeção que a maioria dos seres humanos gostaria de ter". Estas pessoas transformaram-se em formadoras de opiniões pelo carisma adquirido ante a atividade exercida e aí vem a pergunta: "O que lhes falta, que os leva a se entregarem aos vícios, pondo tudo o que conquistaram a perder?" Nessa altura da vida, tais pessoas desconsideram aqueles que as amam, como a família, os amigos e raramente se sentem despertadas pela vontade de retomarem suas vidas em bases diferenciadas, onde não haja necessidade de se usar entorpecentes.
A droga altera o estado de percepção do usuário. Se uma pessoa sente necessidade de ter seu estado de consciência alterado, supomos ela não está feliz com a própria realidade. Então voltamos à pergunta: "O que falta?".
Simplesmente dizer que falta preparo para se enfrentar a dura realidade da vida é generalizar, já que para muitos essa realidade não é tão dura. Até pelo contrário, é bem benevolente. Dinheiro não traz felicidade, mas propicia conforto.
Ouvimos muito de usuários que estão tentando se entender nessa difícil jornada, que é o caminho de saída do vício, frases do tipo: "minha vida está sem sentido", "não me sinto preenchido ou satisfeito com o que realizo ou conquisto", "existe um vazio, um buraco que não consigo preencher", dentre outras do gênero.
"Imenso buraco", também conhecido por "vazio interior", é um sentimento que existe na maioria das pessoas, mas há as que não se permitem buscar no vício o alívio da angústia que esse estado gera. Dor intensa; aperto no peito constante e respiração curta, quase impossível; momentos freqüentes de inquietação causados pela ansiedade do que talvez esteja por vir. Tudo igual, menos a busca da saída desse estado.
Cada pessoa, a seu modo, é capaz de reconhecer o sentido da sua própria vida. Vivenciar o "vazio interior" é desesperador. É sentir-se se desintegrando, até mesmo fisicamente, como se o corpo começasse a "esfarelar". Viver esse vazio pode trazer à luz potenciais até então adormecidos em cada um, proporcionando novos significados e sentidos. Quase todos nós já passamos por uma "crise existencial", ainda que em maior ou menor intensidade, e ela nos dá uma amostra do que é "entrar nesse vazio interior".
Mas há algo em comum nas pessoas que não se entregam ao vício: a FÉ, a crença de que, mesmo não vendo significado na vida, mesmo não sabendo o que está por vir, algo surgirá, preenchendo o grande espaço que existe dentro de cada um. Acreditar é o que nos faz buscar a saída em caminhos cujas luzes não são suficientes para nos dar a certeza do acerto, mas nos mantêm afastados do erro.
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