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PELO QUE VOCÊ SAI DA CAMA - PARTE 2

Atualizado dia 12/10/2008 17:50:28 em Autoconhecimento
por Isabela Bisconcini


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De fato, hoje sinto que essa sensação de um forte propósito na vida talvez não seja uma condição a ser buscada em si mesma, como muitos buscam descobrir uma vocação, um talento, um dom ou uma razão para viver, mas talvez ela seja justamente a conseqüência de ter experimentado esse ‘algo vivo’, dessa abertura, dessa brecha sentida num momento e sentindo-se parte do Todo, com uma sensação de estar vivo e desperto; isso faz com que nos comprometamos tanto em buscar senti-la de novo (e sempre até que se assente de vez essa sensação em nós), quanto em querer compartilhá-la com os outros.

Artistas são assim: têm esse compromisso com o que neles pede voz, com o que neles pede forma e expressão. Esse é o motivo de sair da cama... Ver-se e surpreender-se com o que há por surgir de si.

Se pensarmos um momento em todos os artifícios que criamos pessoalmente e em nossa sociedade para evitar sentir o tédio da falta de significado e o vazio em nossas vidas, inevitavelmente veremos que quase ninguém tem essa experiência de satisfação, de valer a pena estar vivo e a depressão que nos assola vira o inimigo número um a ser aplacado com mais e mais entupimentos a que nos submetemos em largo espectro, desde objetos de consumo até informação, lazer, entretenimento, tendências, ideologias, até todos os antidepressivos, cada vez mais sintomáticos. De fato, constatamos que tudo ao nosso redor funciona porque se assenta nessa motivação de fazer algo porque falta algo. Ou, então, vemos alguns mestres que chegaram a algum lugar e estão numa sensação melhor e decidimos escalar a grande montanha. Enfim, nos enfiamos em mais uma busca e perseguição pela qual fazermos a vida valer a pena. Como esse caminho é longo - seguro, mas longo - corremos o risco de fazermos também dessa busca um anestésico para evitar o confronto com o vazio, pensando no tal dia em que chegaremos lá e nos iluminaremos, e continuamos a correr como o cavalo com a cenoura amarrada na sua frente. Mas como esse caminho nasce da percepção do vazio, é parido nesse vazio, talvez seja melhor aceitarmos o fato e agüentarmos sentir o nosso tédio, o nosso vazio, a nossa sensação de falta de propósito ou significado maior, para, a partir disso, poder sentir no vazio o espaço que há, o quanto há lá, poder ventilar a surpresa, a abertura do inesperado e o frescor, que por si só fazem nos sentir vivos e partes desse Algo Maior e fazem valer a pena levantar da cama. A questão é que não agüentamos o contato nem por segundos, quanto mais por minutos... E fugindo perdemos o espaço das possibilidades que o Vazio abriga.

Sentir que vale a pena se levantar e viver para sentir essa qualidade de presença viva e fresca pode ser um norte.

Vida é risco, mas esquecemos. Confundimos risco com o exagero das sensações pré-fabricadas disponíveis no mercado. Não há risco maior do que abrir o coração a si mesmo, aos outros e à sua dor e ao amor que tudo isso envolve e oferecer-se uma nova chance, mesmo com medo, mesmo com mágoa, mesmo com ressentimento. Se não fosse assim, por que pular de bungee jump parece mais fácil do que fazer as pazes com alguém da família com quem temos dificuldade há tantos anos? Por que sentimos tanto a sensação de que não conhecemos quem está mais perto de nós, como pais, filhos ou o parceiro? Não seria pelo medo de nos abrirmos e de corrermos o risco de ver quem está lá hoje? Ou por que nos mantemos no cativeiro das velhas e condicionadas visões de nós mesmos e dos outros? Talvez você possa encontrar um outro local interno para lidar com as velhas situações familiares e sentir a brisa de um novo olhar ventilar o seu dia. Para sentir isso vale a pena se levantar!

Este texto começou a ser escrito há pelo menos quatro anos e hoje se encaixou um pouco mais, numa terça-feira em que acordei sem ter pelo que me levantar e ao mesmo tempo cheia de afazeres; e sentindo-me à beira desse abismo e me entregando à queda, senti também a alegria de ver-me abrir e comover-me nesse nada, pelo espaço em branco de um dia, de uma folha de papel, pelo que em mim e em nós é mais apertado, aprisionado e neurótico. Ele é ‘por enquanto’ - como as descobertas em minha e em nossas vidas são ‘por enquanto’ - até que algo mais claro e mais belo, que satisfaça mais a nossa já presente sensação de inteireza, apareça.

E você: pelo quê tem achado que realmente vale a pena se levantar da cama?
É em nome disso que você tem se levantado?
Você tem espaço para a surpresa?

Boa sorte!
Fevereiro 2008

Texto revisado por Cris


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Conteúdo desenvolvido por: Isabela Bisconcini   
Isabela Bisconcini é Psicóloga Clínica e Consteladora Sistêmica. Terapeuta EMDR. Terapeuta Floral, Reiki II, NgalSo Chagwang Reiki, AURA-SOMA. Deeksha Giver. Dedicou-se por 25 anos ao estudo da psicologia budista e prática do Budismo Tibetano. Participou do Centro de Dharma da Paz desde 1988, quando Lama Gangchen Rinpoche o fundou.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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