Ponto de Vista.

   

Autor Paulo Salvio Antolini

Ponto de Vista.

            Ponto de vista, expressão que indica a forma de pensar de uma pessoa, sua linha de raciocínio. Não deveria, mas continuo me surpreendendo pela quantidade de pessoas que não conseguem conviver harmonicamente com outras, apenas porque possuem pontos de vistas diferentes sobre determinados assuntos. Por mais que o tempo passe, por mais que as pessoas evoluam, acredito que seja aqui que se encontre meu ponto de surpresa. Qualquer que seja o nível social, cultural e intelectual, este fato ocorre.

            Poucos percebem que pensar diferente, divergir na forma de entender os fatos, pode ser uma oportunidade de ampliação de nossa capacidade de entendimento destes mesmos fatos. Pela maioria, é tido como uma ameaça. E as reações são compatíveis com essa forma de sentir. Bastou não ser concordante para que o outro passe a ser incômodo, inconveniente, passa a ser considerado "desagregador", e em alguns casos mais extremos, passa a ser considerado "um bandido".

            No discurso, nos dizemos abertos a quaisquer situações. Apregoamos e demonstramos um equilíbrio que somente é colocado à prova quando a divergência ocorre com algo que nos diz respeito e nos é importante. Nas demais situações estamos isentos, imunes e portanto, fica fácil de "aceitar a diferença".

            Mas o que leva uma pessoa a ser tão crítica e contundente com as demais, quando há pensamentos ou sentimentos diferentes? Qual o ponto de ameaça?

            Quando as pessoas estão convictas e seguras de sua forma de pensar, elas não têm a necessidade de apregoar e debater acirradamente sobre isso, pois a convicção traz consigo uma segurança e tranqüilidade interior, que o pensar diferente dos demais não as abala. Ocorre o respeito. Não há a necessidade de tentar convencer quanto às suas percepções.

            Se a diferença incomoda, pode ter certeza de que está se mexendo em algo dentro de si. Isso é bom, se a pessoa busca o que está acontecendo e revê então sua posição, despida de julgamento próprio e aberta a possíveis mudanças pessoais e percebendo coerência e sentido no que se apresentou. Ocorre o crescimento. Mas torna-se negativo quando a pessoa se nega a buscar em si o que a está incomodando pra valer. Torna-se então taxativa em suas afirmações e julgamentos, atribuindo aos demais todo e qualquer motivo de "desconforto" pessoal, evitando assim uma reflexão que poderia lhe mostrar pontos onde sua conduta e mesmo sua crença poderiam ser ampliadas e aprimoradas.

            Aqui se faz presente novamente a auto-estima. Quando se tem uma baixa auto-estima, comportamentos de auto-afirmação tornam-se ostensivos e reveladores dos "donos da verdade". "Fulano é assim". "Beltrano é assado". E o que desencadeou tudo isso foi apenas uma discordância.

            Em empresas, em relações comerciais, grandes resultados são atingidos quando pessoas divergentes se respeitam e "detonam" verdadeiros bombardeios de idéias onde, ao final, todos cresceram, todos ganharam. Em relações afetivas, o respeito às divergências, às formas diferentes de ser, mais do que refinar o relacionamento, une os pares. Afastam, entretanto, e às vezes definitivamente, quando um quer "moldar" o outro a seu bel-prazer. E se não há afastamento, aquele que se submete será infeliz e os dois serão insatisfeitos no resultado da convivência.

            Há muitas formas de se ver, de se perceber as coisas. Devemos sempre estar coerentes com a nossa forma de ver a vida, mas assim como estamos nos respeitando, devemos também respeito aos demais, pois ser diferente e visualizar diferentemente a vida, não torna o ser humano desprezível ou não merecedor de consideração. A Neurolingüística chama nosso campo experiencial de mapa do mundo e afirma que ele não é o mundo, pois muito do mundo nós desconhecemos. Permitirmo-nos a reflexão sobre o que o outro aponta significa nos darmos a possibilidade de aumentar nosso mapa. E quanto mais opções nós conhecermos, melhor nós vivemos.

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