Primeira Experiência de Cura - parte 1
Atualizado dia 27/03/2008 22:17:04 em Autoconhecimentopor Julio Lótus
Do lado de cá do riacho também era muito bonito e muito aconchegante e uma dúvida pairou sobre minha cabeça: permaneço do lado de cá do riacho ou atravesso para a outra margem? Tenho convicção de não ter ouvido voz alguma, mas senti dentro do mais íntimo do meu ser que alguém dissera: atravesse e siga na direção das montanhas.
Um impulso incontrolável me moveu na direção indicada. Atravessei o riacho sem me molhar; tenho plena certeza de que pisei no fundo do riacho, mas não molhei minhas alpercatas - sapato antigo feito com lona azul e o solado de corda trançada e enrolada - ou meus pés e segui sem olhar para trás.
Depois de algum tempo a grama foi dando lugar a uma vegetação mais alta, mas não menos bela e a aparência de cuidado também imperava nessa vegetação que por vezes ficava acima de minha cintura.
Mais alguns metros e avistei uma espécie de gruta que embora se parecesse com uma gruta não estava incrustada em nenhuma montanha. Aliás, ali não havia montanhas, mas a gruta emergia da terra plana, se apoiando apenas na terra plana. Hesitei, mas acabei por entrar, pois meu instinto me dizia que o centro da gruta devia ser o meu destino.
Depois de passar por alguns corredores estreitos avistei um alargamento do corredor que culminou numa espécie de auditório e, por sinal, estava completamente lotado de seres iguais e diferentes de mim. Percebi que no fundo da gruta havia um facho de luz verde brotando do centro do chão, parecendo uma espécie de geisel sem água, mas com luz.
Havia muitas pessoas com formas humanas, mas também gente muito esquisita cuja forma do corpo eu só havia visto em revista de quadrinhos, parecendo alienígenas – gente com um olho só no centro da testa, outros com mais de dois braços, com cabeças muito grandes e também com cabeças muito pequenas, etc. – que me causaram medo e apreensão.
Decidi ir embora, mas não consegui me deslocar; mesmo fazendo força, não consegui sair do lugar. Dirigi-me impulsivamente ao centro da gruta e tive a certeza de que embora eu estivesse com muito medo - quase pavor – daquelas pessoas, eles não demonstravam nenhum tipo de comportamento de estranheza ou se importavam com minha presença. Ninguém falava nada e nenhum som de voz era ouvido, mas a comunicação fluía como num passe de mágica e mais uma vez senti que me chamavam para uma fila que se iniciava próximo do ponto onde eu estava e terminava muito perto daquela luz verde.
Tenho plena convicção de que em nenhum momento deixei de me sentir apavorado, mas a sensação que pairava no ambiente era da maior paz que eu já havia experimentado e obedeci ao chamado.
À medida que a fila andava e eu me aproximava do fim dela, percebia que algumas pessoas – de cinqüenta a cem – estavam de alguma forma captando a luz que se irradiava do chão e transmitindo-a para aqueles que estavam na fila.
Chegando a minha vez, eu vi – tenho a mais absoluta convicção – a luz entrando pelo cérebro do ser que me recepcionou e saindo do centro de seu peito em direção a mim. Inundou-me! Invadiu todo o meu ser, entrando pelos meus ouvidos, boca, nariz, estômago, peito, enfim, por todos os meus poros e uma paz ainda maior tomou conta de todo o meu ser.
Eu me senti muito feliz e inexplicavelmente abobado, parecia levitar, mas estava pregado ao chão da gruta. Se antes eu estava apavorado, esse sentimento estranho de felicidade sem motivo algum, me produziu um pavor ainda maior. Olhava à minha volta e nada entendia. Tinha vontade de correr, mas sabia que eu estava ali por minha própria vontade. Não era refém e nem ao menos estava lá contrariado; apenas, eu inexplicavelmente estava com muito medo, mesmo por que tudo ali era estranho e muito diferente do que eu conhecia.
Uma pessoa parecida com um humano se aproximou de mim e sem me tocar pegou carinhosamente a minha mão. A sua mão ficou a uns vinte centímetros de distância da minha, mas era como se me segurasse cuidadosamente pela mão. Tomou o rumo da entrada da caverna e me levou junto. Chegando à entrada primeiramente levitamos e depois voamos. Sem asas ou qualquer movimento que indicasse que estávamos nos deslocando, mas mesmo assim voamos, pois essa era a sensação que eu senti.
Durante o vôo não havia paisagens para admirar ou formas que eu pudesse perceber; apenas voamos e quando menos esperei estávamos em uma espécie de hospital. Paramos em frente a uma das camas onde havia uma criança e, num imprevisto gesto nosso, a criança pareceu sugar toda a luz verde que possuíamos e eu nem havia me dado conta de que tinha tanta luz verde dentro de mim.
Parece que me senti exausto, mas isso não era verdade. O sentimento que experimentei era de vazio e não de exausto, mas a impressão inicial percebida era de exaustão.
Meu companheiro ou companheira – não consegui definir o sexo apenas pela aparência - me deu a impressão de perceber o meu estado de exaustão aparente e largando a minha mão, segurou-me pelo braço, ainda que não me tocasse. Como chegamos, partimos.
Nada me foi dito e eu nada perguntei. Apenas acordei em minha cama, suando muito e com o sentimento de pavor, à flor de minha pele. Mas, também havia o sentimento ainda mais profundo de missão cumprida, de favorecimento àquela criança desconhecida, naquele hospital estranho.
Continua...
Texto revisado por Cris
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