PSICANÁLISE E ORTODOXIA : INDEPENDÊNCIA OU MORTE?
Atualizado dia 30/09/2006 07:55:27 em Autoconhecimentopor Sylvio Alipio Pinto Filho
Segundo o dicionário Aurélio a palavra ortodoxia significa “absoluta conformidade com um princípio ou doutrina”. Ser “absoluto”, conservando as premissas básicas de Freud, não representa nem um pouco restringir a extensão profunda dos fatos psíquicos, muito menos fazer da psicanálise um jogo preconceituoso e um campo de batalha onde um determinado saber reflete apenas uma visão mutilada do homem. Se durante décadas houve uma luta para se conquistar maior compreensão dos aspectos inerentes à existência humana, por que a psicanálise iria à contramão? Que diria Sigmund Freud aos ortodoxos de hoje? Nada é absoluto enquanto o homem pensa e existe em função desse cogito. Ir mais adiante se constitui uma necessidade pautada pelo desenvolvimento de qualquer ciência.
As inúmeras dissidências no movimento psicanalítico conferem a mecânica de um corpo que reage às forças de outro corpo. Isso é ortodoxia! O “absoluto” não é o perfeito, não é o tal-e-qual. É o rompimento com aquilo que não transcende, com aquilo que se indispõe a continuar, no simbólico, a dinâmica da natureza.
Se a partir de Freud surgiram inúmeras dissidências, isso faz parte de uma ortodoxia que se chama psicanálise. A ciência gera seus filhos, eles partem em direções diferentes e constroem o mundo.
Lacan fez um retorno a Freud. Rompeu com uma ortodoxia e deu um colorido todo pessoal à ciência psicanalítica. Instituições como a IPA receberam um impacto quando acordaram e viram o novo invadir o cronômetro, o padrão, a forma de “defesa” incapaz de sair da inércia do “ser ou não ser”... Não era o novo inconseqüente, e sim, uma proposta muito além do princípio de um prazer que se estabelecera em torno de interesses grupais.
Os diversos ataques feitos à psicanálise durante décadas expõem-na a um denominador comum em que prevalecem as contradições imanentes à visão do homem diante de um mundo que a cada segundo navega em um barco cheio de antíteses e épocas: amor e ódio, pecado e salvação, certo e errado, guerra e paz...
Ser ortodoxo ou não, pouco importa. Deixemos Freud livre para pensar e prosseguir com a ciência que é mais do que uma “convenção”, mais do que um monopólio do simbólico. Assim o mestre repetiu a secular trajetória da ciência: "A psicanálise é ortodoxa e independente com todas as suas cores e dissensões para o bem da humanidade!"
Texto revisado por Cris
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