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Quando condenamos o outro

Atualizado dia 9/2/2007 6:52:54 PM em Autoconhecimento
por Antony Valentim


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A maioria de nós não conhece os reais motivos ou sentimentos engendrados no coração de alguém, que podem levá-lo a fazer essa ou aquela coisa. Somos o resultado das experiências que vivemos, do que experimentamos, inevitavelmente influenciáveis pelos contextos nos quais adentramos. Quem saberá ao certo o que se passava na cabeça do rapaz que assaltou aquela senhora? Além de merecedor de conveniente reprimenda, não seria ele ainda mais um dementado demovido pelo desespero? E o que dizer daquele que trai o cônjuge? Além de alvo de necessária corrigenda, não seria ele um fraco? E por que não citar aquele que esmaga o melhor das pessoas? Não seria mais do que devedor das leis, uma criatura forjada no fogo da maldade de outros? E se somos a soma das experiências que vivemos, como se esperar de um presidiário o comportamento de um sacerdote, ou de um policial a gentileza de uma freira? Poderão até existir similaridades, mas cada um é um mundo diferente de dificuldades, carências e principalmente virtudes.

Tudo tem dois lados. Condenar a mulher adúltera era fácil para quem via apenas um lado, mas o Nazareno, que podia sondar o coração daquela alma, via dois lados distintos. Cada um de nós tem um lado bom e um lado ruim, a luz e a sombra dentro de nós. E a sobreposição de um sobre o outro se dá em função de nossas ações. Está em nós a possibilidade de nos vencermos. E temos muitas vidas para tentar, e muitas histórias próprias para nos balizar nos julgamentos. Às vezes condenamos a mulher que fez o aborto, sem sequer nos darmos conta de que nós já o podemos ter feito ou induzido alguém a fazê-lo em outros tempos, em outras épocas, em outras vidas. Podemos ter sido como o ladrão que hoje condenamos. Quem sabe não já atuamos no palco da vida no papel do médico leviano, papel hoje ocupado por outra criatura à qual jogamos pedras?

Esse é um dos motivos que nos leva ao sofrimento. Julgamos os outros, sem reais condições de julgar, pois quando atacamos a fraqueza de alguém, é a nós mesmos que estamos ferindo, em tudo o que de semelhante possa haver ou ter havido em nós nessa milenar experiência de espíritos.

Obviamente que providências práticas devem e precisam ser tomadas de acordo com os atos. Não fomentemos a inércia e a aceitação plena de erros e desatinos, favorecendo o caos e a desordem, libertando a maldade das necessárias correntes que a contém. Também não estimulamos a ausência de severidade, muito menos a permissividade desregrada. Amar também significa dizer não. Fazer o bem também implica em manter uma postura severa quando necessário. O filho imprevidente merece sim a severidade de um pai, por mais amoroso que ele seja, pois o amor não dispensa a previdência. O que não é bom é a condenação, o julgamento, principalmente quando não estamos pormenorizados dos motivos que levaram o ser a fazer tal ou qual coisa. Mas corrigir um erro, desestimular uma tendência negativa, reagir proativamente no sentido de conter a maldade e o desequilíbrio, isso é missão de cada um de nós.

Na verdade, nem precisamos levar a questão para existências pregressas. No "mundo real" há culturas que condenam a poligamia de maneira tão férrea, que envoltos nessa sintonia, não há quem não sinta o coração abrasado pela revolta. De outro lado, culturas existem em que ter uma única esposa é ato que fere as fibras mais íntimas da dignidade. Se o próprio Deus não julga a diversidade de pensamentos, sentimentos, vontades e "achismos" de cada um de nós, por que nós haveremos de não seguir seu exemplo?

Mas que fique claro, não condenar é uma coisa, ser permissivo é outra. Devemos usar nossa capacidade de entendimento não para mudar a vontade dos outros, mas para, reconhecendo a fraqueza ou a falha na conduta do próximo, ater-nos ao equilíbrio próprio, escolhendo conscientemente se devemos nos aproximar para auxiliar o próximo a mudar os conceitos errados através de nosso próprio exemplo, ou se devemos nos afastar, sabendo que nossa condição ainda não consegue suportar a deficiência moral do outro.

Em qualquer uma das vertentes porém, imprescindível é não condenar, pois todos nós, sem exceção, somos passíveis de cometer amanhã os mesmos erros que hoje condenamos nos outros.

À medida que elevamos nossa consciência ao entendimento das "leis" do "jogo da vida", tais leis começam a se manifestar mais fortemente em nossas vidas, não para nos punir com mais intensidade ao errarmos, mas para nos beneficiar com mais ternura ao seguirmos o caminho certo. Por isso, quando conscientes das realidades universais, cometemos um ato ofensivo contra o outro, tendemos a somatizar em nós mesmos os efeitos da "reação" causada pela nossa própria "ação" e passamos a sentir isso mais intensamente.

Quanto mais próximos do amor estivermos, mais sensíveis seremos às ações do desamor.

Em tratamentos apométricos, de cada dez pacientes com câncer, seis ou sete tem a "causa origem" daquele mal na falta de perdão. Nas vidas pregressas (ou nesta mesma) se sentem tão revoltados com o modo de agir dos outros sem se darem conta que eles próprios já agiram daquela forma, e começam a atirar flechas de ódio na direção da fraqueza do outro, fazendo com que invariavelmente fragmentos da mesma fraqueza que o emissor já venceu em si mesmo - mas ainda existentes no seu campo - sejam atingidos pela sua própria intolerância. O mioma se acumula no plano sensorial, e pelos registros corretíssimos da consciência cósmica, se transfere ao plano físico sob a forma de um câncer, um tumor. O remédio é perdoar. E perdoar não é deixar de agir na defesa própria, nem se expor como alvo da maldade ou fraqueza do outro. Perdoar é libertar o outro de sua mágoa, reconhecendo que cada um tem seu tempo, suas limitações e suas tendências.

Julgar a diferença do certo e errado é bom, agir em conformidade com nossa consciência também, corrigir situações melhorando os processos, igualmente, mas condenar o outro em seu ato, atraindo os sentimentos de revolta para dentro de si mesmo é ruim. Prestemos mais atenção aos sinais e busquemos reconhecer os sinais dos "momentos mágicos" de nossa vida: os momentos de ousar, os de agir e os de calar.

Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Antony Valentim   
Antony Valentim é um ser comum, sem privilégios ou destaques que o diferenciem das demais pessoas. Devorador de livros, admirador de culturas religiosas sem preconceitos, e eterno aprendiz do Cristo. Mestre de nada, sábio de coisa alguma. Alguém como você, que chora, sorri, busca, luta, exercita a fé e cultiva no peito a doce flor da esperança.
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